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FMI busca reunião com Milei e Bullrich para discutir acordo de US$ 44 bilhões com a Argentina

A agência teve contato com suas equipes antes da principal reunião da diretoria-executiva, na qual será decidida a liberação de repasse de US$ 7,5 bilhões

Agência O Globo - 15/08/2023
FMI busca reunião com Milei e Bullrich para discutir acordo de US$ 44 bilhões com a Argentina
FMI - Foto: Reprodução

Após as eleições primárias na Argentina, no último domingo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já busca estreitar os laços com os dois principais candidatos da oposição, Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, que saiu na frente nos votos, e Patricia Bullrich, da coalizão Juntos pela Mudança.

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O primeiro a antecipar o contato com o FMI foi Milei, que disse em uma entrevista de rádio na manhã desta terça-feira que o órgão havia falado com sua irmã, Karina Milei, a quem ele costuma chamar de "a chefe", para agendar uma reunião. Já uma fonte próxima a Bullrich posteriormente informou ao jornal argentino La Nación que o FMI também havia tido contato com Luciano Laspina, principal referência econômica da candidata.

O candidato de extrema direita descartou qualquer inconveniente com a entidade porque, lembrou, seu plano contempla "uma hipótese de ajuste [financeiro] muito mais forte". Milei tem como plataforma econômica dolarizar o país e fechar o Banco Central. Sua vitória nas prévias argentinas causou um rebuliço no mercado na segunda-feira, com a disparada do peso, o que levou o BC argentino a anunciar medidas duras numa tentativa de conter o alvoroço.

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Reunir-se com diferentes líderes políticos faz parte da abordagem regular do FMI para as autoridades que trabalham no programa da Argentina, o maior do fundo. Antes das primárias, os representantes do FMI já haviam antecipado a intensificação das negociações com membros da oposição para avaliar como eles gostariam de abordar o programa de financiamento de US$ 44 bilhões (cerca de R$ 220 bilhões), informou a Bloomberg no mês passado.

Funcionários do FMI já mantêm um diálogo permanente com o ministro da Economia, Sergio Massa, e sua equipe econômica.

— O Fundo entra em contato regular e rotineiramente com uma ampla gama de líderes políticos e econômicos, que também incluem países com programas do FMI — declarou um porta-voz da organização ao jornal argentino. — Esses contatos são importantes para compreender os pontos de vista e opiniões do Fundo e de seus membros sobre os objetivos gerais e políticas-chave dos programas apoiados pelo FMI. No caso dos candidatos presidenciais, esses contatos também permitem que a equipe compreenda melhor os aspectos essenciais das possíveis políticas econômicas futuras.

Os esforços do Fundo para compreender os pensamentos e planos dos candidatos presidenciais coincidem com uma reunião iminente do conselho executivo, em 23 de agosto, para aprovar um acordo técnico que liberaria um primeiro aporte de, até então, cerca de US$ 7,5 bilhões (R$ 37 bilhões) para a Argentina, mas esse valor pode aumentar após o resultado das eleições de domingo.

Antes das eleições primárias, havia incerteza quanto ao desembolso do FMI, que pode chegar aos US$ 10,8 bilhões (R$ 53 bilhões) no ano, e alguns investidores nos Estados Unidos acreditavam que, assim como ocorreu em 2019 após a derrota do então presidente Mauricio Macri nas primárias, o Fundo poderia congelar esse repasse.

No entanto, naquela época, Alberto Fernández, então candidato presidencial da coalizão Frente de Todos, havia expressado desejo de romper com o programa sem fornecer indicações claras sobre a política econômica de seu futuro governo. Tal postura eventualmente levou a equipe e o conselho do FMI a decidir suspender os desembolsos para o governo de Macri.

A Argentina contratou um empréstimo de US$ 44 bilhões com o FMI, e vem tendo dificuldade de pagá-lo. O país vem sofrendo a pior seca em quase um século, o que trouxe impactos negativos para o setor agropecuário, sua principal fonte de divisas.

A inflação na Argentina foi de 6,3% em julho e acumula 60,2% desde janeiro, uma das mais altas do mundo, informou, nesta terça-feira, o Instituto oficial de Estadísticas (Indec). O índice mensal foi muito similar ao de junho, de 6%, mas espera-se uma forte aceleração em agosto, após o Banco Central desvalorizar na segunda-feira o peso, a moeda argentina, em 18,3%. (Com La Nación e Bloomberg.)