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Entenda os quatro processos contra Trump em tribunais dos EUA

Ex-presidente americano é alvo de ações judiciais que envolvem desde tentativas de reverter o resultado das eleições de 2020 até o pagamento de suborno a uma ex-atriz pornô

Agência O Globo - 15/08/2023
Entenda os quatro processos contra Trump em tribunais dos EUA
Trump - Foto: Reprodução

Ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, favorito para conquistar pela segunda vez a candidatura republicana para as eleições presidenciais de 2024, enfrenta uma série de ações judiciais, quatro delas de caráter criminal. A última delas foi aberta na noite de segunda-feira, quando um grande júri reunido em Atlanta acolheu a acusação da promotoria contra Trump pela tentativa de interferência eleitoral na contagem de votos do estado da Geórgia, parte de um esforço mais amplo para reverter o resultado das eleições de 2020.

Pela 4ª vez: Trump é acusado criminalmente por tentar interferir nos resultados eleitorais da Geórgia

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No caso na Geórgia, os promotores apresentaram 41 acusações (no processo judicial americano, cada ação delitiva exige uma acusação à parte). Apenas contra Trump foram 13, incluindo falsificação e extorsão. As demais envolvem aliados de primeira ordem do ex-presidente, como o advogado Rudolph W. Giuliani, ex-prefeito de Nova York, e Mark Meadows, ex-chefe de Gabinete da Casa Branca.

No cerne da acusação contra Trump e seus aliados na Geórgia estão as acusações de extorsão sob a Lei de Organizações Influenciadas e Corruptas (Rico, na sigla em inglês), originalmente projetada para combater a máfia.

Embora Trump tenha desdenhado da maioria das acusações contra ele, apresentando-se como vítima de uma "caça às bruxas" por órgãos de investigação politicamente motivados, os casos começam a criar problemas práticos contra o ex-presidente.

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Se não parecem afetar sua imagem com o eleitorado (pesquisas iniciais apontam largo favoritismo para ele nas primárias republicanas), a interposição de defesa para cada caso está esvaziando o caixa da campanha. O comitê de arrecadação de fundos, o "Comitê Conjunto de Arrecadação de Recursos Trump Save America", gastou mais de US$ 20 milhões em custos judiciais — valor cinco vezes maior ao que restava no fim de junho para o fundo da campanha.

Entenda os casos:

Eleição de 2020 e a invasão do Capitólio

Trump responde a quatro acusações por seus esforços para permanecer no cargo após sua derrota nas eleições de 2020 e seu papel nos eventos que levaram ao ataque do Capitólio, 6 de janeiro de 2021. A acusação, entregue no Tribunal Distrital Federal em 1º de agosto, é liderada pelo promotor especial Jack Smith, que assumiu as investigações do Departamento de Justiça sobre Trump no ano passado.

No caso específico, Trump é alvo de três acusações de conspiração em conexão com seu esforço para permanecer no poder: uma para fraudar os Estados Unidos, outra para obstruir um processo oficial do governo e uma terceira para privar pessoas de direitos civis previstos em lei federal ou na Constituição. Ele também foi acusado de tentar obstruir um processo oficial – a certificação dos resultados eleitorais pelo Congresso.

Os promotores também acusaram o ex-presidente de recrutar delegados falsos no Colégio Eleitoral em estados decisivos vencidos por Biden, de tentar usar o poder do Departamento de Justiça para alimentar teorias de conspiração eleitoral e de pressionar o vice-presidente Mike Pence a atrasar a certificação da eleição ou rejeitar eleições legítimas eleitores.

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Por fim, a promotoria acusou Trump e outros de explorar o motim de 6 de janeiro para redobrar seus “esforços para fazer falsas alegações de fraude eleitoral e convencer os membros do Congresso a atrasar ainda mais a certificação com base nessas alegações”.

Documentos secretos

Smith também liderou a investigação sobre a retirada e o manuseio de documentos confidenciais do governo por Trump após deixar a Casa Branca, bem como seus esforços para impedir que as autoridades os recuperassem.

A acusação de 49 páginas, apresentada em junho a um tribunal federal na Flórida, apontava que os documentos mantidos por Trump incluíam alguns envolvendo programas nucleares sensíveis e outros que detalhavam as potenciais vulnerabilidades do país a ataques militares. Em alguns casos, disseram os promotores, ele os exibia para pessoas sem credenciais de segurança e os guardava de maneira aleatória em sua residência em Mar-a-Lago, até mesmo mantendo uma pilha de caixas em um banheiro.

Trump foi inicialmente acusado de 37 acusações criminais, cobrindo sete violações diferentes da lei federal, sozinho ou em conjunto com Walt Nauta, um de seus assessores pessoais, também citado na acusação. No final de julho, o escritório de Smith acrescentou três novas acusações contra Trump no caso e, pela primeira vez, nomeou o gerente de propriedade de Mar-a-Lago, Carlos de Oliveira, como réu no caso.

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Trump se declarou inocente de todas as acusações. O juiz que supervisiona o caso indicou que o julgamento começará em 20 de maio de 2024, dois meses antes da Convenção Nacional Republicana, em que Trump provavelmente deve ser oficialmente declarado o candidato do partido nas eleições presidenciais.

Suborno de atriz pornô

Em abril, Trump virou réu pela primeira vez no caso mais antigo entre os acatados pela Justiça. O ex-presidente foi alvo de 34 acusações criminais em Nova York por falsificação de registros contábeis decorrentes de três casos de suborno antes das eleições de 2016, disseram promotores, incluindo às referentes à suposto propina paga à atriz pornô Stormy Daniels.

Além do suposto pagamento de US$ 130 mil em propina a Daniels em 2016 — com quem teria tido um caso extraconjugal dez anos antes —, Trump é acusado pela suposta compra do silêncio, por US$ 30 mil, de um porteiro da Trump Tower que dizia ter informações sobre um suposto filho ilegítimo do republicano e também pelo pagamento de propina a uma suposta ex-amante que cobrou US$ 150 mil para não tornar a relação pública.

Segundo a Promotoria, liderada por Alvin Bragg, os registros são evidências de um amplo esquema para encobrir possíveis escândalos que prejudicassem sua imagem nas eleições de 2016. O julgamento está agendado para 25 de março de 2024 no tribunal estadual de Nova York.