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Falta de sirenes e água ampliaram destruição no Havaí, que sofre com lentidão do resgate e chegada de ajuda

Combate às chamas foi dificultado por desabastecimento dos hidrantes e despressurização da água

Agência O Globo - 15/08/2023
Falta de sirenes e água ampliaram destruição no Havaí, que sofre com lentidão do resgate e chegada de ajuda

Com quase 100 mortes confirmadas até o momento, mais de mil desaparecidos e um rastro de destruição e cinzas, o incêndio florestal que devastou a ilha havaiana de Maui, sobretudo a cidade histórica de Lahaina, já ostenta o sombrio título de ser o mais mortal ocorrido nos Estados Unidos em mais de um século. Enquanto os resgates avançam lentamente e as perguntas sobre as causas do incêndio e a contribuição das mudanças climáticas permanecem em aberto, autoridades locais agora buscam detectar as falhas que levaram ao não acionamento das sirenes de alerta à população, além da falta d'água no combate dos bombeiros às chamas.

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Os relatos de moradores que não ouviram os alertas de evacuação da segunda maior ilha do arquipélago se multiplicaram nos últimos dias, e o fato foi confirmado nesta segunda-feira por autoridades locais, levantando ainda mais questionamentos sobre a eficácia da resposta de emergência e se mais pessoas poderiam ter sido salvas.

— Vamos fazer algumas revisões para que possamos tornar as coisas mais seguras daqui para frente — disse o governador do Havaí, Josh Green, acrescentando que abrirão uma investigação das políticas de resposta a emergências de Maui, liderada pela procuradora-geral do estado, Anne Lopez.

Em Maui, há um sistema de 80 sirenes, que passa por testes mensais, utilizado para alertar os residentes sobre tsunamis e outros desastres naturais. Mas, na terça-feira passada, quando as chamas começaram a se espalhar, ele não funcionou como deveria. Um alerta chegou a ser emitido durante a manhã daquele dia, e as primeiras chamas foram contidas rapidamente pelos bombeiros. Então, quando viram a fumaça se aproximando novamente da cidade no início da tarde, muitos tiveram de abandonar suas casas subitamente, sem instruções.

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Segundo sobreviventes que falaram à BBC, o primeiro aviso oficial só chegou depois de muitos deles já terem iniciado a fuga improvisada. Foi somente às 16h29 (no horário local) que a agência de gerenciamento de emergências de Maui anunciou o que foi possivelmente a primeira ordem de evacuação, por meio de uma postagem na rede X, anteriormente conhecida como Twitter. A postagem em questão alertava os moradores de Kelawea Mauka, um bairro de Lahaina, sobre o incêndio que se aproximava.

Um dos motivos apontados pela falha do acionamento das sirenes foi a queda de energia na cidade, causada pelos fortes ventos do Furacão Dora. Alguns moradores relataram que receberam alertas por SMS, mas o blecaute na ilha pode ter limitado o alcance a grande parte da população.

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Bombeiros sem água

Além dos problemas com as sirenes não acionadas, o que levou a população ao desespero, os bombeiros também enfrentaram dificuldades no combate às chamas. Isso porque muitos dos hidrantes disponíveis para o abastecimento de água secaram durante os esforços das equipes para conter o incêndio.

— Simplesmente não havia água nos hidrantes — disse ao New York Times Keahi Ho, um dos bombeiros que estava de plantão em Lahaina.

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Segundo reportagem do NYT, o sistema de água em Lahaina depende tanto da água superficial de um riacho quanto da água subterrânea bombeada de poços. Dessa forma, as condições persistentes de seca combinadas com o crescimento populacional já levaram as autoridades estaduais e locais a explorar maneiras de reforçar o abastecimento de água na região, abrindo um novo poço há dois meses para aumentar a capacidade.

Contudo, no dia em que o incêndio atingiu Lahaina, a luta foi dificultada por ventos de mais de 112 km/h, alimentados pelo furacão. O vento, portanto, não apenas alimentou o incêndio, como também impossibilitou durante grande parte do dia o uso de helicópteros que poderiam ter carregado e jogado água do oceano.

No início daquele dia, quando os ventos cortaram a energia de milhares de pessoas, as autoridades do condado recomendaram que os moradores economizassem água, dizendo que "as quedas de energia estão afetando a capacidade de bombeamento".

John Stufflebean, diretor de abastecimento de água do condado, disse ao NYT que os geradores de reserva permitiram que o sistema mantivesse o abastecimento geral suficiente durante o incêndio. Mas ele também afirmou que quando o fogo começou a descer a encosta, transformando casas em escombros, muitas propriedades foram danificadas tão gravemente que a água começou a vazar de seus canos derretidos, despressurizando a rede que também abastece os hidrantes.

— A água estava vazando do sistema — disse ele.

Com cerca de 60 a 70 bombeiros de plantão, de acordo com a Associação de Bombeiros do Havaí, as equipes de combate a incêndios estavam sobrecarregadas enquanto lutavam contra três focos diferentes na ilha. Toda vez que eles se preparavam para suprimir o fogo em uma área, o incêndio se espalhava e eles se viam lutando para ficar à frente dele.

Buscas lentas

Enquanto a extensão dos danos ainda está sob investigação, com cerca de 2.200 prédios destruídos em toda a parte afetada da ilha, e um prejuízo calculado em US$ 5,5 bilhões (R$ 26,9 bilhões), a cifra de mortos (93 até o momento) e desaparecidos ainda pode aumentar expressivamente nos próximos dias, em meio a operações de buscas que avançam lentamente.

As autoridades atribuíram o ritmo da resposta à natureza avassaladora da destruição e ao afastamento de Maui, o que tem dificultado a chegada de equipes de busca de fora do estado. Até sábado, foram confirmadas a identidade de apenas duas vítimas e mal haviam começado a vasculhar a zona do desastre com equipes caninas. Estima-se que apenas 3% da área afetada em Lahaina tenha sido vasculhada até agora.

— O calor do fogo, a intensidade e a velocidade do fogo, literalmente pararam tudo — disse a deputada Jill Tokuda, democrata que representa Maui no Congresso. — Isso tornará a identificação e a notificação realmente difíceis. É doloroso só de pensar nisso.

O chefe John Pelletier, do Departamento de Polícia de Maui, pediu às pessoas que procuram seus entes queridos que façam um teste de DNA que possa ajudar a identificar seus restos mortais.

— Vamos agir o mais rapidamente possível. Mas, para que vocês saibam, 3% é o que foi rastreado com os cães — acrescentou.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, informou na segunda-feira que pretende viajar em breve ao Havaí, onde vários pequenos focos de incêndio permanecem ativos. (Com New York Times e AFP.)