Internacional
Como o escândalo envolvendo seu filho pode afetar o presidente colombiano Gustavo Petro? Entenda o caso
Acusado de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro durante a campanha do pai, Nicolás Petro firmou acordo para colaborar com o Ministério Público colombiano e fez declarações comprometedoras
Quase um ano após a chegada de Gustavo Petro à Presidência da Colômbia, seu filho, Nicolás Petro, soltou uma bomba: segundo ele, dinheiro irregular entrou na campanha. O promotor responsável pelo caso, Mario Andrés Burgos, anunciou na quinta-feira que o réu informou que a campanha presidencial de seu pai recebeu dinheiro ilegalmente, de pessoas acusadas de tráfico e contrabando de drogas.
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E não só recebeu o dinheiro, como o usou para seu próprio enriquecimento e para uma campanha que supostamente ultrapassou os limites de financiamento permitidos pela lei eleitoral. Nicolás, preso desde sábado, decidiu colaborar com o Ministério Público, que é chefiado por um opositor do presidente, em troca da prisão domiciliar. Ele nega que tenha sido pressionado para implicar o pai no caso.
Petro reagiu na quinta-feira: negou ter dado ordens para cometer crimes, comparou o caso com as prisões e torturas que sofreu quando era guerrilheiro e atribuiu à "perseguição" que o "governo da mudança" sofre por parte de poderes tradicionais.
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— Este governo só acaba por mandato popular, por mais ninguém mais; não há quem possa acabar com este governo senão o próprio povo, e o mesmo povo deu ordem por maioria nas urnas: vamos ficar até o ano de 2026 — disse sob aplausos, durante uma reunião com camponeses.
Entenda o caso:
Quem é Nicolás Petro?
Aos 37 anos, Nicolás Petro era uma figura em ascensão na política no departamento do Atlântico, o mais rico do Caribe colombiano e palco do clientelismo e da corrupção política e eleitoral no país.
Ele nasceu no município de Ciénaga de Oro, na savana caribenha, do casamento de Gustavo Petro com Katia Burgos, sua primeira esposa. Embora eles tenham desenvolvido uma relação próxima quando adultos, o próprio presidente admitiu que não esteve presente durante a criação do filho, já que vivia de maneira clandestina durante seu tempo com o guerrilheiro M-19.
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Nicolás fez sua vida no Caribe colombiano, onde Petro nunca viveu. Lá estudou Direito e se especializou em Meio Ambiente. Concorreu ao cargo de governador mas perdeu. Como segundo colocado, no entanto, entrou para a Assembleia Departamental e se tornou uma das figuras-chave na região durante o crescente movimento petrista.
Durante a última campanha presidencial — a terceira em que Petro participou —, Nicolás desempenhou um papel central na busca de alianças e financiamentos, o que na regão inevitavelmente implica fazer alianças com poderes questionáveis. A costa caribenha é uma região historicamente relutante à esquerda.
Como o caso veio à tona?
No início deste ano, em entrevista à revista Semana, a ex-mulher de Nicolás, Day Vásquez, acusou Nicolás de receber dinheiro de empresários que pensavam estar contribuindo para a campanha presidencial do pai, em 2022.
Segundo ela, no entanto, Petro não sabia dos encontros e o dinheiro recebido não ia para a campanha, mas para a vida de luxo que Nicolás mantinha: carros e apartamentos suntuosos, e gastava grandes somas em lojas de luxo. O Ministério Público abriu inquérito em março sobre as denúncias.
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Na terça, o promotor do caso listou por horas os gastos de Nicolás em 2022, que somaram 1,6 bilhão de pesos (cerca de R$ 1,9 milhão) e incluíam duas casas, uma Mercedes Benz e produtos de luxo em lojas como Salvatore Ferragamo e Carolina Herrera. Os valores são incompatíveis com seu salário de deputado, que lhe rendeu 220 milhões de pesos ao longo do ano (cerca de R$ 266 mil).
Prisão
No último sábado, Nicolás e a ex-mulher foram presos. No Twitter, Petro reagiu à prisão, e garantiu que não iria intervir nas investigações:
"Como pessoa e como pai, me machuca muito tanta autodestruição e o fato de um dos meus filhos ir para a cadeia. Desejo sorte e força ao meu filho. Que esses acontecimentos forjem seu caráter e que ele reflita sobre seus próprios erros", escreveu. "Como Presidente da República, asseguro que o Ministério Público tem todas as garantias da minha parte para proceder nos termos da lei. Como afirmei perante o procurador-geral, não vou intervir ou pressionar suas decisões; deixe a lei guiar livremente o processo".
Nicolás, por sua vez, se recusou a receber a visita do pai esta semana na sede do Ministério Público, onde ele permanece detido. O filho do presidente também prometeu apresentar provas e renunciar ao cargo de deputado na Assembleia Departamental de Atlântico.
Quais são as acusações?
Agora, Nicolás é acusado por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Segundo o promotor do caso, o filho do presidente colombiano teria recebido até 1 bilhão de pesos (cerca de R$ 1,5 milhões) durante a campanha de 2022, de dois homens: Samuel Santander Lopesierra, conhecido como "O Homem de Marlboro", que foi extraditado para os Estados Unidos por tráfico e contrabando de drogas, cumpriu pena e voltou ao país em 2021; e Gabriel Hilsaca, filho de "El turco" Hilsaca, empresário investigado por ligações com grupos armados.
O promotor sustentou que "parte desse dinheiro foi usado por Nicolás Petro e seu sócio em benefício próprio e outra parte foi investida na campanha presidencial".
Por quanto tempo ele pode ficar preso?
Estima-se que o filho do presidente poderia receber uma pena entre 10 e 30 anos, dependendo da eficiência de sua colaboração e da gravidade dos crimes comprovados. O procurador, no entanto, havia deixado claro que a colaboração com o Ministério Público traria importantes benefícios quanto à redução da pena.
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— Digamos que são 14 anos [de prisão]. Se eles aceitarem as acusações agora, uma redução de sete anos pode ser reconhecida — disse.
Confissão
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Inicialmente, Nicolás e sua ex-esposa se declararam inocentes. No entanto, a estratégia tomou um rumo inesperado: o filho do presidente e seus advogados descobriram que havia uma série de provas sobre atos criminosos recentes, segundo reportagem do jornalista Daniel Coronell da W Radio. Cada vez mais encurralado, Nicolás Petro anunciou sua intenção de conversar com o Ministério Público e denunciar novos atos de corrupção.
— Faço isso pela minha família e pelo meu bebê, que está a caminho — disse o filho do presidente.
Outros envolvidos
Durante esses meses, o caso foi se expandindo. De acordo com o site La Silla Vacía, cerca de 15 funcionários e políticos do movimento petrista estão sendo investigados, não apenas por recebimento de dinheiro ilegal, mas também por acordos políticos e patronais que possam ter surgido com as transações.
Em junho, a revista Semana publicou gravações de áudio privadas do homem mais próximo do Petro durante a campanha, Armando Benedetti, nas quais apontava para o possível recebimento de até 15 bilhões de pesos (US$ 20 milhões) para a campanha, cifra três vezes maior do que o estabelecido pela lei eleitoral.
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Bendetti foi nomeado embaixador na Venezuela pelo Petro, mas teve que renunciar devido ao escândalo. Sua colaboração com a justiça pode trazer novas revelações.
Como o caso pode afetar o presidente?
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O caso de financiamento ilegal, além de ser investigado pelo Ministério Público, passará pelo Conselho Nacional Eleitoral e pela Comissão de Denúncias do Senado. Na primeira, Petro não tem hipóteses de ser sancionado, uma vez que a investigação do órgão eleitoral só pode implicar dirigentes de campanha.
No Senado a situação é diferente: como ocorreu durante o governo de Ernesto Samper (1994-1998), a comissão pode levar o presidente a um julgamento político, onde poderia ser investigado se ele sabia ou não da entrada de dinheiro ilegal de recursos na campanha. Samper foi absolvido pelo Senado.
Agora que o caso atingiu o presidente, levanta-se a questão de quando e como será investigado pela campanha presidencial. O senador do partido Alianza Verde conhecido como Jota Pe Hernández apresentou uma denúncia contra Gustvo Petro perante a Comissão de Acusações da Câmara dos Deputados, único órgão que pode investigar judicialmente o presidente.
— Todas as provas que Nicolás Petro está entregando à promotoria neste momento devem ser compiladas pela Comissão — disse a denúncia. — Não é alguém da oposição que o está denunciando, seu próprio filho o está denunciando.
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