Internacional

Países europeus começam a retirar cidadãos do Níger após golpe de Estado

França, Itália e Alemanha anunciaram planos para retirar cidadãos do país, agora comandado por militares pró-Rússia

Agência O Globo - 01/08/2023
Países europeus começam a retirar cidadãos do Níger após golpe de Estado

A França e a Itália anunciaram nesta terça-feira que começarão a retirar seus cidadãos e de outros países europeus do Níger — seis dias após um golpe de Estado derrubar um dos últimos governantes pró-Ocidente na região do Sahel africano, composta em grande parte por ex-colônias francesas e onde hoje atuam vários grupos armados.

Em Berlim, o Ministério das Relações Exteriores pediu aos cidadãos alemães em Niamei que embarcassem em voos da França, acrescentando que menos de 100 civis alemães ainda podem estar no país. De acordo com uma fonte francesa, serão utilizados aviões de transporte militar desarmados com capacidade para mais de 200 pessoas. Paris calcula que quase 600 cidadãos do país estão no Níger — sem incluir turistas ou residentes franceses que estão no exterior.

Em Roma, o governo informou que estava organizando um "voo especial" para aqueles que desejam deixar o Níger, adicionando que não seria uma "evacuação". Do total de quase 500 italianos no país, cerca de 90 estão em Niamei.

Para o presidente francês Emmanuel Macron, o Níger representava uma peça fundamental para reformular sua estratégia na região conhecida como Sahel, onde o sentimento anti-Paris é impulsionado pelo ressentimento de décadas de colonialismo sangrento. O anúncio da retirada de cidadãos europeus acontece após uma série de manifestações críticas à França tomarem conta da capital nos últimos dias, com destaque para a que ocorreu em frente à embaixada no domingo.

Com o Níger, já são seis governos derrubados por militares na África subsaariana desde 2020: nos últimos três anos foram registradas iniciativas do tipo no Mali, na Guiné e em Burkina Faso, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau. Conhecida como Sahel, a região é localizada entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul, e sofre desde 2011 com a violência de grupos jihadistas como o Estado Islâmico e organizações ligadas à al-Qaeda.

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Horas após o golpe, a junta militar atacou Paris e a acusou de planejar uma intervenção para reintegrar o então presidente do Níger, Mohamed Bazoum — destituído pela sua própria guarda de segurança. Bazum chegou ao poder em 2021, depois de vencer as eleições que representaram a primeira transição democrática no país. O mandato, no entanto, já havia enfrentado duas tentativas de golpe antes dos acontecimentos da semana passada.

O comandante da guarda, general Abdurahaman Tiani, se declarou o novo líder do país em 26 de julho. Na segunda-feira, a junta no poder denunciou a França pelo suposto uso de força letal para defender sua embaixada, onde manifestantes atearem fogo na entrada no dia anterior, o que as autoridades negam.

Em resposta, o governo francês suspendeu a ajuda de 120 milhões de euros (R$ 631 milhões) prometida ao Níger no ano passado. Há duas semanas, a ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, estava ao lado do presidente do Níger em Niamei e havia prometido nova ajuda financeira.

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Macron demonstrou seu apoiou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, que advertiu que poderá usar força militar para remover o líder do golpe a menos que o presidente democraticamente eleito seja reintegrado em até uma semana. Os líderes das juntas militares no poder no Mali e em Burkina Faso reagiram alertando que qualquer intervenção no Níger seria considerada uma "declaração de guerra" contra eles também.

Além de manter estreitos laços comerciais e culturais, o Níger era a principal base das tropas francesas que lutam contra jihadistas no Sahel após terem sido expulsos do Mali em fevereiro do ano passado. No entanto, Paris tem enfrentado críticas sobre a presença contínua em suas ex-colônias ao mesmo tempo em que vê a Rússia ganhar cada vez mais apoio em sua antiga esfera de influência, com o Grupo Wagner como importante aliado para a estratégia de Moscou.

— Eles precisam ficar quietos, calados o máximo possível, cada palavra que pronunciam é usada contra eles — disse em entrevista à Bloomberg Moussa Mara, que foi primeiro-ministro do Mali durante o governo de Ibrahim Boubacar Keita, presidente alinhado à França deposto no golpe de 2020. — Mas essa é a atitude francesa, infelizmente, eles não conseguem ficar calados.

Segundo Mara, a França se tornou uma espécie de bode expiatório, por meio do qual os líderes colocam os holofotes nos erros e no comportamento francês para desviar a atenção dos problemas domésticos (Com Bloomberg e AFP).