Brasil
Jovem tranca a faculdade para se dedicar à restauração de coleção com quase 400 bonecas e ganha legião de seguidores
Filipe De Marchi, de 20 anos, já encheu o quarto em João Neiva, cidade de 16 mil habitantes do Espírito Santo, com a coleção e agora sonha em construir uma casa especial para elas
Filipe De Marchi, de 20 anos, tem uma teoria. Ele costuma contá-la para explicar os rumos que sua vida tomou. Na infância, gastou muita saliva para convencer a mãe a lhe dar a primeira boneca. Vem daí o que acabou acontecendo inevitavelmente: Filipe é um Barbie boy.
O rapaz, hoje, reúne um acervo de 400 bonecas. Se elas estiverem acabadinhas — tipo a Barbie Estranha do filme campeão de bilheteria, interpretada pela atriz Kate McKinnon — , ele dá um jeito. Caso fosse um dos personagens do roteiro, Filipe apareceria no live-action dirigido por Greta Gerwig com cotonetes, canudinhos, óleo de banana e outros apetrechos cuidadosamente dispostos numa caixa organizadora para fazer as “cirurgias plásticas” em peças danificadas por crianças ou pelo tempo.
— Ganhei minha primeira boneca aos 12 anos, depois de muita insistência. Minha mãe não queria me dar por causa do imaginário social de que bonecas são apenas para meninas. Mas sou obcecado por elas, essa é a verdade. Por isso quero vê-las expostas e protegidas. Na doll house que quero construir, elas ficarão no lugar que merecem — sonha o colecionador e restaurador, que se apaixonou por esse mundo brincando de Barbie na casa de uma amiga.
Minha casa, minha Barbie
O pequeno quarto de Filipe em João Neiva, cidade de 16 mil habitantes do Espírito Santo, ficou pequeno para sua Barbielândia. Por isso, desde que abandonou a faculdade para viver de bonecas, ele planeja construir uma casa só para a sua coleção.
A obsessão pelo tema, as habilidades de restauração e o carisma de Filipe fizeram dele uma celebridade no mundo lúdico dos brinquedos. Ele arrasta 2,9 milhões de seguidores no TikTok, 849 mil no YouTube e 557 mil no Instagram. Com esses números gigantes, ousou deixar para trás o curso de Artes Visuais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e abriu uma vaquinha para a construção da quitinete onde morará com os brinquedos.
— A casa vai ter o que mais quero, que são estantes planejadas para elas. Hoje, eu guardo as bonecas em três fileiras por prateleira porque não tenho mais espaço. Mas quero poder ver todas. Então, elas ficarão numa única fileira com vidros de proteção — explica.
O Apoia-se de seu canal já tem mais de 200 patrocinadores, que embarcaram no sonho de Filipe. Com R$ 10 por mês, o seguidor do rapaz pode participar do sorteio mensal de uma boneca restaurada por ele e passa a garantir vaga num grupo fechado de Whatsapp. Pagando R$ 20, o internauta ganha o direito receber antes os vídeos de extreme makeover das Barbies avariadas: as produções mostram ele trabalhando e até “um antes e depois” no final, como se apresentasse o resultado de uma harmonização facial. Só que, no caso das bonecas, é full face, mas também limpeza de braços e pernas, por exemplo.
— Comecei a postar os vídeos na pandemia, sem nenhuma pretensão de virar uma coisa profissional. Eu tentei conciliar com a faculdade, mas no começo deste ano percebi que não estava fazendo nenhuma das duas coisas bem e decidi trancar meu curso — conta.
A primogênita
Desta vez, a mãe de Filipe, que já embarcou na paixão do filho e virou sua maior fã, apoiou a decisão. Mas, há oito anos, então menino, travou uma árdua batalha até ela topar presenteá-lo com uma Monster High, franquia de bonecas que retrata a vida escolar de adolescentes, filhos de monstros clássicos de filmes de terror. A primogênita da coleção, portanto, não era uma Barbie.
Mas era atrás da Barbie que ele ia até a casa de uma amiga brincar e simular um “Big Brother Brasil” à moda Filipe. Ganhava o “programa” a candidata boneca mais bonita. Para ele, o sucesso tem um sabor especial, sobretudo quando recebe mensagens de mães que dizem ter ficado mais confortáveis em dar bonecas para os filhos depois de assistirem aos seus vídeos.
— Acho meio revolucionário, não sei. É o que eu queria que a minha mãe tivesse feito — comemora, observando que, mesmo hoje, ainda há muito preconceito.
A fama foi tão longe que Filipe recebeu kit completo do filme Barbie, com esmalte, blusa e, claro, bonecos: a Barbie e o Ken. No cinema, teve um dia para lá de especial, posou para fotos com fãs que o acompanham e chorou de emoção. Com o filme:
— Antes das Barbies, as meninas brincavam que eram as mães das bonecas. Com elas, passaram a ser irmãs, amigas. Ela é um ícone fashion.
Comprando bonecas usadas para economizar, Filipe aprendeu a arte da restauração e hoje recebe caixas de bonecas de todo o país. Vira e mexe, também recusa propostas vultosas para vender suas relíquias. Com itens de mais de R$ 1 mil na prateleira, o restaurador tem ciúme do acervo e pega no pé dos primos menores quando eles vão visitá-lo:
— Jamais, nunca que vão brincar com as minhas bonecas. No máximo, deixo encostar nelas — diz.
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