Internacional

EUA ordenam que pessoal não essencial deixe o Haiti o mais rápido possível por violência de gangues

Insegurança provocada por bandos armados e grupos de 'justiceiros' elevou a instabilidade no país a níveis semelhantes aos de regiões em guerra

Agência O Globo - 28/07/2023
EUA ordenam que pessoal não essencial deixe o Haiti o mais rápido possível por violência de gangues

Os Estados Unidos anunciaram, nesta sexta-feira, a retirada dos funcionários não essenciais — e de suas famílias — do Haiti, diante da deterioração das condições de segurança no país. Em um comunicado, o Departamento de Estado pediu aos americanos que abandonem o país “o quanto antes” e também aconselha seus cidadãos a não viajarem ao Haiti, devido ao risco de “sequestro, crime, distúrbios civis e infraestrutura de saúde deficiente”.

Contexto: grupos justiceiros se multiplicam no Haiti dois anos após magnicídio e perante violência similar à de guerras

Entenda: quem é quem no Haiti, país onde grave crise institucional culminou com assassinato do presidente

O governo americano não esclareceu quantas pessoas serão afetadas pela medida, mas informou que tem “capacidade extremamente limitada” para ajudar os americanos vítimas de algum tipo de violência no país. Os funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Porto Príncipe vivem sob estritas condições de segurança, confinados em uma área protegida e proibidos de circular pela capital e de usar transporte público ou táxis.

A violência entre grupos armados que já controlam cerca de 80% da capital haitiana atingiu níveis similares ao de países em guerra. Nos últimos seis meses, ataques de gangues deixaram mais de 400 mortos no país, segundo um relatório da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos do Haiti (RNDDH). Além dos assassinatos, os bandos promovem estupros coletivos. O documento destaca ainda que mais de 50 regiões conhecidas antigamente pela tranquilidade sofreram com a violência este ano.

Vazio de poder

O clima de terror levou ao crescimento de um movimento justiceiro conhecido como Bwa Kale — “madeira descascada”, em crioulo haitiano — formado por grupos de cidadãos que atuam pela lógica da autodefesa armada e vem se multiplicando nos últimos meses.

O agravamento da crise de insegurança nas ruas é acompanhado por uma erosão das instituições de Estado que se aprofundou após o assassinato do então presidente Jovenel Moïse, há dois anos — um crime nunca solucionado.

O atual primeiro-ministro Ariel Henry, nomeado apenas 48 horas antes de Moise ser assassinado, enfrenta dúvidas sobre sua legitimidade — e suspeitas de que possa estar diretamente envolvido no crime. Sem reconhecimento interno, ele vem pedindo uma intervenção internacional há quase um ano, mas nenhuma nação parece disposta a comandar a operação no país onde o Brasil já esteve à frente de uma missão de paz da ONU, por 13 anos, encerrada em 2017 . (Com AFP)