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Rota-chave para exportação de grãos ucranianos vai aumentar operação devido aos riscos no Mar Negro

Romênia vai abrir novos pontos de passagem e promete aumentar o fluxo nas vias já existentes para facilitar escoamento dos cereais do país vizinho

Agência O Globo - 28/07/2023
Rota-chave para exportação de grãos ucranianos vai aumentar operação devido aos riscos no Mar Negro

A Romênia planeja expandir rapidamente uma das rotas-chave de transportes dos grãos produzidos na vizinha Ucrânia, após a Rússia abandonar na última semana o acordo de grãos que permitia o escoamento pelo Mar Negro. Desde então, Moscou realiza ataques maciços contra cidades portuárias ucranianas, mirando em infraestruturas fundamentais para a exportação e aprofundando os riscos da insegurança alimentar e de uma crise inflacionária mundial.

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Os romenos já facilitaram o trânsito de mais de 20 milhões de toneladas de grãos da Ucrânia, cerca de metade dos 41 milhões de toneladas transportadas pelas chamadas rotas de solidariedade — vias facilitadas quando a invasão russa começou há pouco mais de 17 meses. Agora, a Romênia pode abrir novos pontos de passagem para as mercadorias de seu vizinho, aumentar a equipe nos que já existem e convocar pilotos e capitães militares aposentados para acelerar o fluxo de navios pelos canais do rio Danúbio.

— Estamos em contato próximo com a Ucrânia para identificar as melhores opções para aumentar e acelerar este trânsito — disse a chanceler Luminita Odobescu. — A situação de seguração evidentemente não é fácil, mas estamos muito comprometidos com continuar a ajudar a Ucrânia.

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O colapso do acordo de grãos desencadeou preocupações de segurança na África, onde cerca da metade dos países importam mais de um terço dos seus cereais da Ucrânia e da Rússia, e aumentou a pressão nas rotas de solidariedade já existentes, criadas pela União Europeia (UE). O porto romeno de Constanta, o maior no Mar Negro que pertence ao bloco, é atualmente a opção preferida para as empresas ucranianas devido aos custos e à proximidade.

Como a Romênia é também uma grande exportadora de grãos, no entanto, o risco de superlotação aumenta tanto nos portos quanto nas rotas terrestres. Já há filas quilométricas de caminhões nos pontos de passagem entre o país e a Ucrânia, além de dezenas de navios no Danúbio.

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O cenário desperta insatisfação entre fazendeiros locais, fazendo com que a Romênia e quatro outras nações do Leste Europeu tenham vetado importações diretas de grãos ucranianos com o aval da UE. Os ataques russos nos portos fluviais ucranianos fazem com que algumas tripulações hesitem em atracar lá, o que pode limitar parcialmente a proporção em que a capacidade expandida vai se traduzir em maiores volumes de exportação.

Mesmo com as ressalvas, a România aumento a capacidade do porto de Constanta, melhorando suas instalações e reabrindo uma conexão ferroviária com a Ucrânia. Os capitães e pilotos que o país deseja trazer — os cerca de 40 atuais devem gradualmente virar 60 já a partir do mês que vem — irão conduzir navios pelo canal Sulina para chegar aos portos pluviais no território ucraniano. A passagem registrou tráfego recorde em maio, com a travessia de mais de 470 embarcações, de acordo com o Ministério dos Transportes do país.

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Mais ao sul na rota, a Bulgária também demonstra disposição de aumentar "significativamente" o trânsito de grãos ucranianos por seu sistema ferroviário, desde que os portos gregos tenham capacidade de lidar com o incrimento, disse mais cedo nesta semana o primeiro-ministro Nikolai Denkov. Ele esteve em Atenas nos últimos dias para conversar com seu par grego, Kyriakos Mitsotakis.

A Bulgária até o momento já facilitou o trânsito de grãos ucranianos principalmente por seu porto em Varna, mas a opção de exportar pela Grécia ainda não está em prática.

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Em um ano, o pacto recém-esfacelado para a exportação de grãos pelo Mar Negro permitiu a venda de quase 33 milhões de toneladas de cereais ucranianos, principalmente milho e trigo, ajudando a estabilizar os preços mundiais de alimentos e evitando o risco de desabastecimento e de inflação que assombrou o mundo e fez a inflação disparar nos meses iniciais da guerra.

Tanto Rússia quando Ucrânia figuram entre os maiores exportadores de cereais do planeta. Nos cinco anos antes de a guerra estourar, foram responsáveis, respectivamente, por 10% e 3% da produção de trigo do planeta, de acordo com dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ambos também são importantes produtores de cevada, respondendo por 20% da produção global. Moscou é a terceira maior exportadora do planeta e Kiev, a quarta.