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Comando das Forças Armadas do Níger apoia golpe, enquanto ONU exige libertação imediata do presidente

Líder do país desafiou golpistas nas redes sociais; Rússia e Estados Unidos condenaram ação dos militares

Agência O Globo - 27/07/2023
Comando das Forças Armadas do Níger apoia golpe, enquanto ONU exige libertação imediata do presidente

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Níger apoiou, nesta quinta-feira, os líderes militares que mantêm detido o presidente Mohamed Bazoum, desde quarta-feira, no Palácio presidencial da capital Niamei. Em uma publicação no Twitter, Bazoum desafiou os golpistas e prometeu proteger os avanços democráticos "duramente conquistados" pela nação africana.

"O comando militar das forças armadas do Níger decidiu assinar a declaração das forças de defesa e segurança" afimou o chefe do Estado-Maior, o general Abdou Sidikou Issa, em um comunicado. O texto diz que o objetivo da medida é "evitar um confronto mortal entre as diferentes forças".

Horas antes, o presidente do país negou que o golpe tenha se concretizado. "Os avanços duramente conquistados serão salvaguardados. Todos os nigerianos que amam a democracia e a liberdade vão zelar por isso", disse Bazoum na mensagem postada no Twitter.

— O poder legal e legítimo é exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum — declarou o ministro das Relações Exteriores e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, acrescentando que o presidente está bem de saúde.

Uma primeira manifestação de apoio ao golpe militar reuniu centenas de pessoas, na manhã desta quinta-feira, em Niamei, segundo jornalistas da AFP que viram várias bandeiras russas. Na noite de quarta, após um dia de tensão e rumores de golpe, militares rebeldes afirmaram em rede nacional que derrubaram o presidente eleito democraticamente — no poder desde 2021.

Toque de recolher

— Nós, as forças de defesa e segurança, reunidas no Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria, decidimos pôr fim ao regime (de Bazoum) — declarou o major-coronel Amadou Abdramane, ao lado de nove soldados. — Isso se deve à contínua deterioração da situação de segurança e à má governança econômica e social — acrescentou.

O militar assegurou que este conselho atende a todos os compromissos assinados pelo Níger e garantiu à comunidade nacional e internacional que as autoridades destituídas serão tratadas conforme os princípios dos direitos humanos. A junta informou ainda a decisão de suspender "todas as instituições" do país e de fechar as fronteiras terrestres e aéreas, até que a situação se “estabilize".

— Um toque de recolher foi declarado, a partir de hoje, das 22h às 05h, em todo o território, até nova ordem — disse Abdramane.

Uma fonte próxima ao presidente aparentemente deposto disse que a guarda presidencial "se recusou a libertar" Bazoum e que o exército lhe deu “um ultimato", sem dar detalhes.

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O golpe foi fortemente condenado por todos os aliados do Níger, que pediram a libertação imediata do presidente. O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse que conseguiu falar com Bazoum na quarta-feira e deixou "claro que os Estados Unidos o apoiam fortemente como presidente democraticamente eleito do Níger".

Por sua vez, Moscou também defendeu a liberação imediata do presidente e que as partes abandonem o uso da força e busquem diálogo pacífico e construtivo.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou qualquer esforço para tomar o poder pela força no Níger e defendeu a libertação imediata do presidente. E na África Ocidental, o presidente senegalês Macky Sall também condenou o golpe de Estado.

O Níger é um dos últimos aliados do Ocidente na região do Sahel, devastada pela violência jihadista. Mali e Burkina Faso, liderados por militares golpistas, aproximaram-se da Rússia. O país é um vasto território desértico empobrecido e se tornou a terceira naçaõ do Sahel afetada por ataques jihadistas a sofrer um golpe desde 2020 — depois de Mali e Burkina Faso. Desde que conquistou a independência da França em 1960, o país sofreu várias tentativas de golpe, quatro delas bem-sucedidas, a última em fevereiro de 2010, quando o presidente Mamadou Tandja foi derrubado.