Internacional

Ucrânia reforça contraofensiva com ataques maciços no sul

Avanços ucranianos até agora ocorriam em ritmo mais lento que o esperado, despertando indagações internacionais

Agência O Globo - 27/07/2023
Ucrânia reforça contraofensiva com ataques maciços no sul

A Ucrânia deu início a uma etapa aguardada de sua contra-ofensiva, aumentando os ataques contra as linhas de frente da Rússia no sul. O passo, que pode ser parte de uma tentativa de romper os elos terrestres de Moscou com áreas importantes da já há nove anos ocupada Península da Crimeia, foi respondido com ataques aéreos maciços do Kremlin em Odessa, cidade às margens do Mar Negro, que matou uma pessoa e danificou um cargueiro de grãos.

À Bloomberg, uma autoridade dos Estados Unidos que pediu para não ser identificada afirmou que os ucranianos fazem avanços significativos na região de Zaporíjia, uma das quatro áreas unilateralmente anexadas há quase um ano, junto com a vizinha Kherson e Donetsk e Luhansk, no leste. As autoridades russas também relataram um grande assalto do país do presidente Volodymyr Zelensky mais de sete semanas após o início da contraofensiva.

O Comando-Maior da Ucrânia, por sua vez, disse que os russos concentram seus "principais esforços em prevenir mais avanços" de Kiev. Segundo os militares, as forças ucranianas "continuam a conduzir uma operação nas direções de Melitopol e Berdyansk" — ambas cidades estão no Mar de Azov, que o país invadido deseja alcançar para abrir uma brecha entre os territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul.

— Glória a todos os que defendem a Ucrânia! A propósito, nossos meninos na frente tiveram resultados muito bons hoje — disse Zelensky em seu discurso de quarta à noite, sem maiores informações. — Bom trabalho! Detalhes depois.

Analistas do Instituto para o Estudo da Guerra, um centro de pesquisa sediado em Washington, disseram que "uma significativa operação contraofensiva mecanizada" parece ter "avançando em certas posições de defesa russas previamente preparadas". Afirmam, entretanto, que um leque de declarações divergentes de blogueiros militares russos sobre a escala do ataque e o número de baixas fazem com que a situação seja pouco clara.

O novo momento da guerra coincide com uma cúpula em São Petersburgo, convocada pelo presidente Vladimir Putin para reforçar laços com os países da região e projetar uma influência crescente no Sul Global. O comparecimento, contudo, ficou aquém do esperado: apenas 17 chefes de Estado haviam confirmado presença, menos da metade dos 43 que estiveram presentes em 2019.

Autoridades ucranianas admitiram nas últimas semanas que a contraofensiva vem sendo mais difícil que o esperado, com avanços lentos entre os campos minados, barreiras de tanques e trincheiras russas. O controle e a superioridade militar do Kremlin também dificulta que seus avanços terrestres tenham apoio aéreo.

Paralelamente, Kiev e oficiais militares ocidentais apontavam para uma estratégia de desgastar unidades russas com poucos homens na frente de 1,5 mil km. A abordagem inclui conter a principal força de assalto ucranianas — elas têm o apoio de unidades equipadas e treinadas pela Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) —, para que possam explorar pontos fracos e romper as linhas russas.

Os ucranianos já recorreram a tais distrações, criando uma armadilha para em seguida dar seu golpe fatal. Um exemplo disso foi sua operação no ano passado no sul, que voltou a atenção de Moscou para a região, seguida da retomada de territórios no Norte do país há pouco menos de um ano.

— A questão agora é se os ucranianos estão mobilizando algumas das unidades que retiveram e pondo todas na contraofensiva — disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a repórteres na Nova Zelândia.

Ao New York Times, dois funcionários não identificados do Pentágono afirmaram que a Ucrânia lançou a parte principal de sua contraofensiva. Um funcionário da Embaixada da Ucrânia em Washington, por sua vez, alertou que seria contraproducente retratar qualquer parte da contraofensiva como uma batalha decisiva, descrevendo a guerra contra a Rússia como uma longa série de operações.

— Dizemos desde o início que esta seria uma dura luta, que seria uma guerra longa e com desafios, sucessos e contratempos — disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, a repórteres na quinta-feira em uma coletiva de imprensa em Papua-Nova Guiné. — Eles estão trabalhando para passar pelos campos minados e outros obstáculos, mas ainda têm muito poder de combate.