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China e Rússia enviam primeiras delegações estrangeiras à Coreia do Norte desde o início da pandemia de Covid-19

Representantes de Moscou e Pequim devem fortalecer laços militares em Pyongyang, enquanto promovem reabertura com o país que adotou uma rígida política de controle sanitário na fronteira

Agência O Globo - 25/07/2023
China e Rússia enviam primeiras delegações estrangeiras à Coreia do Norte desde o início da pandemia de Covid-19
China e Rússia enviam primeiras delegações estrangeiras à Coreia do Norte desde o início da pandemia de Covid-19 - Foto: Reprodução

A Coreia do Norte recebeu, nesta terça-feira, delegações da China e da Rússia, que devem permanecer no país para a comemoração dos 70 anos do armistício da Guerra da Coreia, na próxima quinta-feira. O gesto diplomático, que representa a primeira visita estrangeira ao país desde o início da pandemia de Covid-19, acendeu um alerta em Seul e Washington, que especulam sobre os objetivos do encontro, em um momento em Pyongyang tem tentado projetar seu poder militar com testes balísticos.

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Moscou enviou ao país uma delegação militar de alto escalão. De acordo com o Ministério da Defesa russo, o ministro, general Sergei Shoigu, lidera a representação diplomática, e foi recebido nesta terça pelo ministro da Defesa norte-coreano, Kang Sun Nam, no aeroporto de Pyongyang. A visita da delegação chinesa já havia sido antecipado pela agência estatal KCNA na segunda-feira. A delegação de Pequim será chefiada por um representante do Comitê do Partido Comunista, Li Hongzhong.

Oficialmente, as autoridades estrangeiras vão participar das comemorações do 70º aniversário da assinatura do armistício da Guerra da Coreia, conhecido como Dia da Vitória na Coreia do Norte, assinado em 27 de julho de 1953. Entretanto, mais do que a formalidade, o gesto pode apontar para uma possível reabertura das fronteiras norte-coreanas para visitantes de alto escalão.

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A Coreia do Norte impôs um bloqueio rígido desde o início de 2020 para se proteger contra a covid-19, impedindo até mesmo que os cidadãos norte-coreanos voltassem para casa. No entanto, a China informou que sua delegação viajaria a Pyongyang na quarta-feira, o que indica que seus membros não terão que passar por nenhuma quarentena antes dos eventos de quinta-feira.

Segundo Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos da Coreia do Norte, em Seul, a visita da delegação chinesa pode indicar que a fronteira entre a Coreia do Norte e a China poderá ser reaberta em um futuro próximo.

Interesse militar

A grande parada militar organizada em Pyongyang na quinta-feira deve ser o principal evento de uma série de comemorações programadas para o Dia da Vitória —embora, na ausência de um tratado de paz, as duas Coreias permanecem tecnicamente em guerra. Apesar de remeter ao passado, interesses bélicos atuais devem ser tratados em paralelo com os aliados.

— Espera-se que a Coreia do Norte aproveite a aprovação da China para seu desenvolvimento militar, revelando um novo míssil ICBM em seu grande desfile militar — disse à AFP Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos da Coreia do Norte, em Seul. A China é o principal parceiro econômico da Coreia do Norte.

Em um comunicado, o Ministério da Defesa da Rússia detalhou que a visita "contribuirá para fortalecer os laços militares entre a Rússia e a Coreia do Norte e constituirá um passo importante para o desenvolvimento da cooperação entre os dois países". Além de um aliado histórico de Pyongyang, a Rússia é um dos poucos países que mantêm relações amistosas com a Coreia do Norte, de quem recebeu apoio pela invasão da Ucrânia e contou com o fornecimento de foguetes e mísseis, segundo os EUA.

Antes da chegada das delegações estrangeiras (e de qualquer chancela explícita), a escalada militar de Pyongyang era visível. Dois mísseis balísticos foram disparados na segunda-feira, informaram autoridades sul-coreanas, após vários testes de armas nas semanas anteriores. A diplomacia entre Pyongyang e Seul está bloqueada e Kim Jong-un incentivou a aceleração do desenvolvimento de armas, incluindo o arsenal atômico de seu país.

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Em resposta, Seul e Washington conduziram exercícios militares conjuntos, que muitas vezes envolveram a implantação de ativos estratégicos dos EUA na região. Na semana passada, um submarino nuclear americano fez escala no porto sul-coreano de Busan. Na segunda-feira, outro submarino americano, desta vez de propulsão nuclear, chegou a uma base naval sul-coreana.

Nesta terça, o Ministério da Defesa sul-coreano disse que detectou mais "pessoas e equipamentos" em Pyongyang, e que as agências de inteligência sul-coreanas e americanas estavam monitorando de perto os preparativos para as comemorações.