Internacional

Assassinatos, atentados e rebeliões: a violência invade a campanha eleitoral no Equador

A menos de um mês da eleição presidencial, equatorianos temem repetição de episódios de violência registrados na disputa municipal, no início do ano, quando ocorreram 15 ataques a candidatos e dois assassinatos

Agência O Globo - 25/07/2023
Assassinatos, atentados e rebeliões: a violência invade a campanha eleitoral no Equador

As caravanas com música e o corpo-a-corpo dos candidatos foram suspensos nas ruas de Esmeraldas, uma província no norte do Equador, depois do assassinato de Rider Sánchez, candidato a deputado federal pela aliança Actuemos. O ministro do Interior, Juan Zapata, garantiu que os quatro homens que interceptaram o carro dele, no último dia 16 de julho, tinham o objetivo de roubar o veículo e que o crime “não tem nenhuma ligação política, nem pessoal com o candidato”. Mas Rider Sánchez não era um político desconhecido no local, foi conselheiro municipal, candidato a prefeito nas últimas eleições em fevereiro e ocupou o cargo de diretor do Ministério da Agricultura regional.

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Os detalhes do crime foram divulgados logo que o executor foi preso. Era noite e chovia em Quinindé, uma pequena cidade na zona mais violenta do país, onde ocorreram mais de 250 crimes desde o início do ano. Sánchez tinha saído de uma reunião com sua equipe de campanha, estava no carro, quando quatro homens armados o cercaram e atacaram a janela do veículo e tentaram abrir a porta, mas o candidato recusou. Toda a ação foi gravada por câmeras de segurança. Sánchez tentou arrancar com o carro, mas um dos homens disparou duas vezes e ele foi atingido na cabeça e no ombro. O político ainda andou alguns metros com o carro até bater em uma casa, enquanto os bandidos fugiam em outro carro.

Tudo aconteceu apenas três dias depois do início oficial da campanha para as eleições presidenciais e legislativas no Equador, antecipadas por um decreto do presidente equatoriano Guillermo Lasso, conhecido como “morte cruzada”. Esse foi o primeiro crime ocorrido durante a campanha para estas eleições, marcadas para 20 de agosto, mas, em fevereiro, quando os equatorianos elegeram governantes regionais, entre eles prefeitos, foram registrados 15 ataques contra candidatos e dois assassinatos. Foi a campanha mais violenta da História do país.

Campanha mais violenta

O candidato Javier Pincay, que ganhou a prefeitura de Portoviejo, sobreviveu a dois atentados e foi votar com capacete, colete a prova de balas e cercado por escolta policial. Durante mais de três meses, os candidatos foram atacados com armas de fogo, bombas atiradas em casas e veículos.

Poucas horas antes da abertura das seções eleitorais em 5 de fevereiro, Omar Menéndez, o candidato à prefeitura da cidade litorânea de Puerto López, foi assassinado na sede do seu partido. A população acordou consternada com a notícia, mas, mesmo assim, compareceu às urnas, já que o voto é obrigatório no país. Menéndez ganhou as eleições, enquanto era velado pela família.

A experiência violenta nesta campanha deixou as autoridades em alerta para uma possível repetição de crimes na reta para as eleições de agosto. Foi criada uma mesa de segurança no Conselho Nacional Eleitoral, onde tramitam os pedidos dos candidatos que precisam de escolta policial. Até agora, o Ministério do Interior recebeu apenas três pedidos, entre os mais de 1.200 candidatos ao cargo de deputado federal.

— Os três pedidos foram enviados imediatamente à polícia, e dependendo da análise de risco, terão a segurança correspondente — explicou o ministro.

Os pedidos chegaram logo depois do assassinato de Rider Sánchez em Esmeraldas. Enquanto isso, três das oito chapas que concorrem à presidência recusaram a oferta da polícia e estão cuidando de modo privado de sua segurança.

— Agradecemos a oferta, mas acreditamos que esse apoio vai ajudar mais aos cidadãos do que a nós, acompanhando as pessoas nas ruas — declarou o candidato a presidente Otto Sonneholzner, do mesmo partido de Sánchez.

A campanha mal começou e vários analistas de segurança concordam que a violência pode aumentar, nos próximos dias. O último episódio provocou comoção nacional. No domigo, em Manta, uma cidade costeira que fica a 400 km de Quito, o prefeito, Augustín Intriago foi baleado em uma emboscada por bandidos, enquanto visitava um canteiro de obras públicas. Intriago, que foi reeleito em fevereiro com 61% de aprovação, morreu no hospital. No mesmo fim de semana, o governo soltou um alerta em todos os presídios do país para a possibilidade de rebeliões, depois que o barulho de explosão de bombas e disparos foi ouvido dentro da Penitenciária de Guayaquil. Além disso, o Serviço de Atenção a Pessoas Privadas de Liberdade (SNAI) informou que agentes penitenciários estavam “retidos por grupos de organizações criminosas” em quatro presídios do país. Pelo Twitter, o presidente Guillermo Lasso ofereceu ativar “o contingente necessário para que os responsáveis sejam capturados e respondam na justiça pelo que fizeram”, mas os equatorianos estão cansados de contar os mortos.