Internacional
'Mudanças climáticas ocorrem em ritmo jamais visto', afirma indicada pelo Brasil para painel do clima da ONU
Thelma Krug, que pode se tornar nesta semana primeira mulher presidente do IPCC, aponta que cumprimento de metas de redução de emissões se torna cada vez mais difícil
A cientista brasileira Thelma Krug pode se tornar nesta semana a primeira mulher e a primeira latino-americana a presidir o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Uma das maiores autoridades globais sobre o assunto, a matemática é, desde 2015, uma das três vice-presidentes do órgão criado pela ONU para monitorar e avaliar a ciência sobre as mudanças climáticas.
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Indicada pelo governo brasileiro, Kurg é uma das favoritas entre os quatro concorrentes que disputarão o posto durante a reunião dos dias 25 a 28 em Nairobi, no Quênia. As ondas de calor no Hemisfério Norte, alerta, já são indissociáveis das mudanças climáticas, cenário que só vai piorar se o mundo não agir rapidamente para conter as emissões de gases-estufa.
Qual desafio o mundo tem pela frente no que diz respeito às mudanças climáticas?
O papel do IPCC é fazer uma avaliação da literatura a partir de várias fontes independentes e, a partir daí, avaliar a consistência entre as informações. Com isso, podemos constatar que a mudança do clima ocorre em uma velocidade sem precedentes. Principalmente nos últimos 50 anos, há tendência de aumento da temperatura média global extremamente significativa. Isso é preocupante. Se continuar, quando entenderemos ser necessário implementar uma profunda redução de emissões para limitar o aquecimento a um nível que reduza os riscos?
As emissões continuam altas…
Não se vê uma redução, principalmente dos gases de natureza antrópica. E essa é a maior preocupação. Se você não está reduzindo, fica impossível diminuir a concentração dos gases-estufa na atmosfera. Conforme essa concentração vai aumentando, há uma relação direta com o aumento da temperatura média global, com a intensidade e a ocorrência de eventos climáticos extremos, que estamos observando no mundo todo.
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É possível afirmar que esses eventos ficam mais frequentes devido à ação humana?
Às vezes é difícil identificar a digital humana, a real contribuição humana para esses eventos, ou se estão dentro da incerteza de uma variabilidade natural. As inundações, as ondas de calor, têm uma variabilidade. Mas, principalmente para altas temperaturas, o IPCC tem uma certeza muito maior de que essas ondas de calor se devem à interferência humana no sistema climático.
O IPCC diz ser “provável” que o mundo não consiga limitar o aquecimento a 1,5°C. O que isso significaria?
As implicações são grandes. A avaliação que o IPCC faz a partir da literatura mostra que, se avaliarmos todas as Contribuições Nacionalmente Determinadas, os compromissos que os países têm, várias estão condicionadas a financiamento e a outros fatores. Então é difícil sabermos o que será implementado. Mas, se olharmos tudo o que está sendo prometido e os modelos de projeção para limitarmos a 1,5°C até 2100, uma das metas de longo prazo do Acordo de Paris, ainda não estamos lá. E vai ficando mais difícil.
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Por quê?
À medida que as emissões continuam a aumentar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, certamente teremos muito mais impactos e extremos, que se diferenciam nas regiões do mundo. Não são iguais, nem mesmo dentro do Brasil. Há áreas que serão mais afetadas por ondas de calor, algumas regiões terão mais fortes precipitações que outras. Apesar das incertezas, principalmente com as precipitações, é esperado que tenhamos dificuldades muito grandes.
Por que a senhora decidiu se candidatar à Presidência do IPCC?
Foi um convite do governo brasileiro, que me perguntou se eu aceitaria a nomeação à presidência, o que evidentemente me levou a pensar. Se fosse em outro governo, não aceitaria. Acho que eles nem me convidariam. Mas, vindo desta gestão e da preocupação que ela tem de dar uma visibilidade maior para a questão do clima, tanto em nível nacional como internacional, acho que essa nomeação daria um pouco dessa projeção. Eles estão promovendo a COP30, têm comprometimento com a ciência e gostariam de ter uma liderança de um país em desenvolvimento. Principalmente, demonstra a nossa disposição de contribuir com o IPCC, e isso é de uma clareza enorme.
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Como a senhora vê a possibilidade de ser a primeira mulher a comandar o IPCC?
Esse fato também contou. Nunca houve nem mesmo a nomeação de uma mulher para presidir o IPCC. Fui a primeira mulher vice-presidente, o Brasil já tinha feito a primeira nomeação para vice, e agora faz minha nomeação para a presidência. Na ONU se fala muito da importância da paridade de gênero, mas não gostaria de olhar (a candidatura) pela ótica de a paridade ser algo que estamos buscando. Presidir o IPCC requer o preenchimento de requisitos substantivos. Eles não existem necessariamente nos procedimentos, mas é claro que se busca uma pessoa com reconhecimento internacional, que consiga ser vista como uma boa representante dos 195 governos-membros. Acho que o background científico pesa, até mesmo para explicar um pouco dos resultados. É importante também ter uma trajetória dentro do IPCC. Estou lá há 21 anos, período que me permitiu conhecer a fundo não só a organização e como ela funciona, mas em que podemos melhorar.
A senhora disse recentemente que gostaria de repensar a prática dos grandes relatórios...
Eu questiono se, com a velocidade com que as mudanças do clima estão acontecendo, esses grandes relatórios enciclopédicos estão realmente ajudando. Gostaria de ver ações mais concisas, focadas, uma ciência politicamente relevante para os países atuarem. Não podemos esperar cinco, seis anos, para dizer que estamos no fundo do poço. É viável? Muitos atores de países desenvolvidos não querem isso, acham que a ciência não vai trazer muito mais novidade, mas eu discordo. A ciência está evoluindo de uma forma exponencial. Não sei nem como é que a gente vai dar conta disso.
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Como a senhora vê o que tem sido feito até agora pelo governo Lula?
As pessoas têm que entender que a vontade política não necessariamente reverte um quadro tão crítico como o atual da Amazônia, em grande parte por efeito de políticas equivocadas do passado recente. É necessário paciência. Não se reverte um desgaste tão grande como o que tivemos da noite pro dia. A administração anterior incentivou a criminalidade, inclusive através do desmoronamento de toda a capacidade que existia dentro do Ibama, das agências de fiscalização, proibiu ações necessárias. É um problemaço, que aumentou e muito. Mas o que vejo é um governo mostrando que, apesar de todas as dificuldades, não veio para brincar.
Houve queda do desmatamento no primeiro semestre…
É necessário ver se serão sustentáveis ao longo do tempo, (é preciso) buscar a sustentabilidade das ações. Nem sempre essas coisas vêm sozinhas, às vezes há mudança de chuva, vários fatores. Há uma disposição enorme que está sendo demonstrada pelo governo para atacar essa questão, mas é preciso cooperação internacional. O melhor exemplo disso é o Fundo Amazônia. Me perguntam muito se o Fundo não tira nossa soberania, se não estamos pondo a floresta à venda. Não, não tira, não interfere nas nossas políticas públicas.
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