Internacional
Lula manterá relação com Maduro, apesar da cassação de opositores
O governo Luiz Inácio Lula da Silva pretende manter o diálogo com a ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela, apesar da cassação dos direitos políticos da opositora María Corina Machado. A ex-deputada era favorita na disputa presidencial de 2024, segundo as pesquisas mais recentes.
"Nossa posição não muda, de sempre buscar dialogar com a Venezuela, em favor de que no ano que vem haja eleições livres, transparentes e abertas. A gente continua trabalhando com base no diálogo. Essa é uma posição histórica do Brasil. Isolar não resolve, precisamos engajar", disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty.
Representante da ala mais radical da oposição, María Corina foi inabilitada por 15 anos, segundo ofício da Controladoria-Geral. Ela se junta a outros dois nomes importantes que já haviam sido barrados da disputa: Juan Guaidó e Henrique Capriles. A candidata aparece com mais de 51,9% das intenções de votos nas primárias opositoras, segundo pesquisa Delphos.
A medida ocorre em meio a negociações para que a oposição participe das eleições. O veto a María Corina, porém, sinaliza que a ditadura não está disposta a concessões. A União Europeia criticou as inabilitações. Ontem, o Parlamento Europeu aprovou uma condenação à suspensão "arbitrária e inconstitucional" de opositores na Venezuela.
Críticas
A cassação da candidatura de María Corina provocou críticas até de aliados de Maduro, incluindo do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que se manifestou contra a inabilitação de opositores. "Está claro que nenhuma autoridade administrativa deveria retirar os direitos políticos de qualquer cidadão", disse Petro, que sofreu uma proibição semelhante, em 2013.
O Itamaraty e o governo brasileiro, no entanto, não pretendem externar publicamente nenhuma posição mais crítica à cassação dos direitos políticos de María Corina.
O governo Lula vinha cobrando nos bastidores que Maduro garantisse igualdade de condições aos rivais. Em sua única manifestação sobre o caso, Lula disse que não conhecia os detalhes do processo - em vez de sair em defesa do regime. Foi na cúpula do Mercosul, na Argentina, quando ele admitiu "problemas", dias depois de afirmar que o conceito de democracia era "relativo" e afirmar que a Venezuela organizava mais eleições do que o Brasil.
"Não conheço os pormenores do problema com a candidata da Venezuela, pretendo o conhecer. Temos de conversar. O que não pode é isolar e levar em conta que os defeitos estão apenas de um lado. Os defeitos são múltiplos", disse o brasileiro.
Existe um consenso de que a retomada de laços com a ditadura venezuelana é necessária, com a reabertura da embaixada em Caracas, para defesa de interesses diversos. Mas setores do Itamaraty veem a aproximação com o chavismo como uma experiência ainda sem projetos concretos, com base em improviso, a expressão de uma diplomacia presidencial analógica, que abraça o ônus de ter de lidar com os governos mais ideológicos de esquerda da América Latina.
Nicarágua
Além de Maduro, Lula passou a ser cobrado para interceder junto a Daniel Ortega e prometeu telefonar ao ditador da Nicarágua para libertar o bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, preso e condenado a 26 anos de cadeia por suposta traição à pátria.
David Smilde, especialista em política venezuelana da Universidade Tulane, nos EUA, disse que Maduro e seus aliados gostariam de evitar a repressão tão descarada contra rivais, como ocorre na Nicarágua, onde Ortega mandou prender candidatos para eliminar a concorrência antes da eleição do ano passado. "Eles preferem não se tornar a Nicarágua", disse Smilde. "Mas preferem ser a Nicarágua do que perder o poder."
Divergência sobre apoio à Ucrânia marcará cúpula UE-América Latina
Líderes da América Latina e da União Europeia divergem sobre o apoio à Ucrânia na declaração final da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com o bloco. Um texto prévio vem sendo negociado pelos dois lados, mas enfrenta resistências pelo teor da mensagem favorável aos ucranianos, em guerra com a Rússia.
Negociadores envolvidos na cúpula devem se reunir novamente hoje em Bruxelas para discutir o rascunho do documento. A cúpula Celac-UE não ocorre há oito anos e reunirá chefes de Estado e de governo de 60 países. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença.
"Era um projeto maior. Houve uma dificuldade de consenso e o texto diminuiu. Haverá uma sessão final de negociação em torno de princípios comuns e temas específicos", explicou ontem a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe, do Itamaraty.
Sobre a menção à Ucrânia, a embaixadora disse que a posição do Brasil vai depender da linguagem. "Não é um encontro para discutir o mundo inteiro. É um encontro de duas regiões com temas e interesses comuns."
O próprio presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, afirmou durante entrevista em Kiev, no dia 30, que foi convidado pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, para participar da cúpula. Mas, segundo ele, "alguns países latino-americanos barraram sua presença". Ele não citou quais.
Aproximação
Zelenski busca uma aproximação diplomática com países latino-americanos e do Sul Global, com os quais a Rússia tem mais proximidade política e econômica.
Lula e sua comitiva desembarcam em Bruxelas no domingo. No dia seguinte, o brasileiro encontrará a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e depois discursa na abertura de um fórum de negócios entre União Europeia e Celac.
Arquitetura financeira
O brasileiro terá encontros bilaterais com presidentes do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu. Entre os pedidos de reuniões paralelas com outros líderes, Lula já tem confirmadas conversas com o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, e com o rei Felipe.
É provável que Lula se reúna também com a premiê da Dinamarca, Mette Frederiksen. A agenda inclui uma reunião plenária da cúpula Celac-UE, na terça-feira, sobre a reforma da arquitetura financeira internacional, na qual Lula deve discursar. (COM ASSOCIATED PRESS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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