Internacional
Para analistas, defesa do presidente venezuelano é prejudicial ao Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acerta ao se encontrar com Nicolás Maduro, após uma estratégia de isolamento, mas erra ao defender a posição do presidente venezuelano, segundo analistas ouvidos pelo Estadão. Ao defender o regime, dizem, o presidente prejudica a imagem do País.
Para o professor de relações internacionais da FGV-SP, Guilherme Casarões, o erro do brasileiro foi tirar a responsabilidade de Maduro, atribuindo todos os problemas às sanções impostas pelos EUA.
"O presidente poderia ter externado as preocupações brasileiras sobre a crise venezuelana, principalmente sobre como trabalhar junto com a Venezuela, para lidar com a questão humanitária dos refugiados espalhados pela América do Sul. Em vez disso, escolheu reduzir o que está acontecendo a uma mera narrativa americana", disse Casarões, que lembrou que Lula perdeu a chance de fazer uma defesa das eleições democráticas na Venezuela, marcadas para o ano que vem.
Para o presidente do instituto de pesquisa venezuelano Datanalisis, Luis Vicente León, Lula quer reverter uma política de Jair Bolsonaro, de tratar a crise venezuelana com o isolamento de Maduro. "Ele está tentando reincorporar a Venezuela à região", disse León.
No entanto, nesse esforço, o tom do discurso repercutiu mal ao defender o regime chavista, que está no poder há duas décadas, responsável pela perseguição de opositores, dissidentes, jornalistas e por uma das piores crises econômicas do país.
Segundo Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, o discurso é prejudicial ao Brasil. "A retórica incrivelmente bajuladora de Lula em relação a Maduro - cuja repressão sistemática e abusos de direitos humanos estão bem documentados - é muito mais prejudicial à reputação internacional do governo brasileiro do que qualquer outra coisa que Lula tenha dito ou feito até agora", afirmou Stuenkel em seu perfil no Twitter.
O jornalista venezuelano e colunista do Estadão Moisés Naím questionou se Lula acredita que o "colapso da Venezuela" seja realmente uma narrativa construída. "Quem conta uma história tendenciosa sobre as causas da nossa tragédia é ele (Maduro) e Lula sabe disso", afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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