Cada vez mais jovens alagoanos colhem frutos do fortalecimento do processo de ensino e aprendizagem em toda a rede estadual de ensino. Exemplo disso pode ser observado na Escola Estadual Bráulio Cavalcante, cujos alunos obtiveram o melhor resultado da escola, em uma década, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com 22 estudantes saindo da unidade de ensino localizada na zona rural de Pão de Açúcar direto para a universidade.

Nem a dificuldade da distância em relação aos grandes centros, o que, por vezes, dificulta o acesso ao mercado de trabalho, impediu que professores e gestão escolar se unissem para transformar vidas por meio da educação.

A escola integra o Programa Alagoano de Ensino Integral (pALei) e foi destaque entre as 13 unidades de ensino que compõem a 8ª Gerência Regional da Educação. Combinando ferramentas pedagógicas com uma estratégia diferenciada, o número de estudantes aprovados em universidades subiu de 10, em 2022, para 22 no ano seguinte. Gestor da unidade, Kelber Rodrigues conta que precisou mudar a mente de alguns estudantes, ‘que não tinham ambição e que, por isso, não se interessavam em prestar vestibular’.

“Muitos alunos não queriam prestar o vestibular porque tinham a intenção de se mudar para outra cidade, em busca de trabalho. Alguns concluem os estudos já tendo um destino quase que pré-determinado, que é trabalhar na lavoura com os pais. São vários os contextos que fazem com que muitos não queiram ou não planejem entrar em uma universidade. Mas temos trabalhado para mudar essa situação, para que cada vez mais alunos possam cursar uma faculdade”, conta Rodrigues.

Parte do quadro docente da escola há mais de 10 anos, Kelber comemora, com orgulho, o resultado de um esforço coletivo. “Ter 22 alunos indo para a universidade de uma só vez foi uma vitória muito grande. Foi uma alegria imensa ver nossos alunos saírem do chão da escola com um futuro traçado, ver as portas se abrindo para eles. E todos eles ainda tiveram de enfrentar as dificuldades da pandemia. Eles se superaram, e é com essa superação que, agora, ingressam no universo acadêmico”, emenda o gestor.


Estratégia diferenciada

E o que levou a escola a se destacar? Além do compromisso com o processo de ensino e aprendizagem, a criatividade também esteve presente. Assim como ocorre às demais escolas da rede estadual, a gestão da Bráulio Cavalcante recorreu a ferramentas pedagógicas eficazes na preparação para o vestibular. Durante o ano letivo, os alunos tiveram à disposição um cronograma de ações que incluiu aulões e simulados que aconteciam periodicamente. Mas a principal estratégia, reforça Kleber, foi o acompanhamento individualizado.

Kelber, inclusive, já recorria a outros instrumentos para estimular uma maior participação no exame, impulsionando a rotina de estudos e orientando os alunos sobre os procedimentos que sucedem a prova. Foi assim que o gestor decidiu formar um grupo com outros professores para, dessa forma, alcançar mais estudantes, iniciando um acompanhamento que aborda diversos aspectos, de conversas de orientação sobre as aptidões acadêmicas dos alunos à criação de um grupo de estudos e de comunicação por aplicativo de mensagens. Não demorou muito e a escola conseguiu inscrever 25 estudantes no Enem.

"Todo o processo, desde a inscrição do aluno no Enem até a inscrição no Sisu e no Prouni, foi feito aqui na escola. Também orientamos quanto às notas de corte e às possíveis universidades para candidatura. Então, passamos a conversar com os alunos sobre quais eram as melhores chances de acordo com as médias de pontuação, mas também com as aptidões de cada um. Conseguimos fazer esse acompanhamento com 25 estudantes. Desse total, 22 entraram em universidades. Isso é mais que o dobro do resultado do ano passado”, destaca Kelber

Histórias de superação

Entre os 22 alunos da escola estadual, 17 estudantes conseguiram ingressar em universidades públicas, enquanto cinco vão estudar em universidades particulares – estes, inclusive, vão receber bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni). Crisley Melo, ex-aluna da escola, conseguiu realizar o seu sonho de cursar Direito após passar em duas universidades. Ela conta que o apoio dos professores e gestão escolar foi fundamental, lembrando, especialmente, o kit Foca no Enem.

“A escola me ajudou muito em todos os momentos. Na preparação para o Enem, a escola fez aulões de revisão dos conteúdos da prova, no contraturno das aulas. E nós também usamos muito os livros de apoio que recebemos, com o Foca no Enem. Foi dessa forma que também revisamos as questões de provas anteriores”, recorda Crisley.

O resultado foi uma dupla aprovação, com a estudante conquistando uma vaga no curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Delmiro Gouveia, e uma segunda aprovação, no curso de Direito, na Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar (Fasvipa).

“Eu consegui tirar uma boa nota, mas, infelizmente, não consegui passar na minha primeira opção de curso em uma universidade pública, que era o curso de Direito. Daí, pedi a ajuda da escola, e o diretor sugeriu que eu me inscrevesse em uma universidade particular para tentar uma bolsa. Com a ajuda dele, consegui fazer a inscrição. Mas não parou por aí. Isso porque ele fez questão de acompanhar o resultado comigo. Então, optei pela universidade particular por ser na minha cidade, perto de casa, e por ser o curso que eu sempre quis”, reforça.

Outro relato de superação é o de Caio Araújo, que morava na zona rural e levava cerca de uma hora para chegar à escola, tendo participado de todas as atividades de preparação para o Enem até se tornar o primeiro da família a cursar uma faculdade.

“A escola fez de tudo para que fizéssemos uma boa prova. Minha mãe é agricultora, e ninguém da minha família havia tido a oportunidade de entrar numa universidade, e graças a deus eu consegui. A minha família, inclusive, também foi muito importante por ter me incentivado a complementar os estudos em casa. Valeu à pena, e todos comemoraram o meu resultado”, descreve Caio, aprovado para o curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), no campus Santana do Ipanema.

“Eu fiz a minha inscrição aqui na escola e, com a ajuda do diretor, descobri que também tinha a opção de fazer Geografia na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mas desisti dessa opção em razão da distância. Escolhi Biológicas porque eu sempre me interessei pela natureza”, complementa o estudante.

Já André Ezequiel, outro ex-aluno, corrobora a opinião de que escola e família são essenciais neste processo. Aprovado para a graduação em Ciências Contábeis na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o estudante do campus de Delmiro Gouveia lembra a influência de um parente no processo de escolha. “Também tive esse apoio em casa. Minha mãe é professora de Biologia, e ela sempre quis que eu seguisse o mesmo caminho. Mas preferi optar por Ciências Contábeis porque tenho um tio que é contador e me levou a conhecer várias situações da profissão”.