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Diretamente da eufolândia
Num reino nem tão distante assim, conta-se que havia por lá uma princesa que morava num castelo chique de doer. Perto dele havia um belo descampado onde um modesto pastor levava seus carneiros e cabras para pastar.
Separados pela lonjura do espaço e das barreiras sociais, o pobre pastor e a refinada princesa trocavam olhares e, nesta silente e constante permuta de mensagens desprovidas de palavras, ambos acabaram se apaixonando um pelo outro.
Silentes ambos ficavam, dia após dia, dizendo tudo através dos olhos, confessando um para o outro o quão grande era o amor que palpitava entre suas costelas, mas que, por razões óbvias, parecia que nunca poderiam ir além das carícias e afagos que eram propiciados pelos sorrisos discretos e gestos escandalosamente tímidos que cada um encenava para o outro.
Certo dia, um ente elementar – uma fada, um gênio ou algo similar – apareceu para o campônio e disse-lhe você sabe o quê. Sim, apenas um. Só unzinho.
Ao ouvir isso, sem vacilar, o rapaz disse que desejava se tornar um príncipe para, enfim, poder estar com sua amada e amá-la de verdade.
O ente fabuloso olhou bem para o rapaz e perguntou se era isso mesmo que ele desejava porque, nesses troços mágicos, como todos nós sabemos, não tem mamãe barriga me dói: pediu, tá pedido. Não tem volta.
O rapaz disse que sim e, lá se foi ele, faceiro da vida feito pinto no lixo (nunca entendi essa expressão).
Estando diante dos portões do portentoso palácio, rapidamente foi acolhido pelo rei que, adivinhem, simpatizou muito com ele e, sem pestanejar, apresentou-lhe a princesa. Não apenas isso! Ofereceu sua mão em casamento.
O pobre pastor, que não era mais pastor, muito menos pobre, ficou radiante e, quando a moça foi apresentada a ele, com cara de velório, ela não demorou para dizer ao príncipe que poderia até se casar com ele, mas ela jamais o amaria, pois havia entregue seu coração para o pastor que sempre pastoreava seus bichinhos no descampado próximo às muralhas do castelo do seu pai. Pois é, deu ruim.
E nós, meros mortais, que não vivemos na terra dos elfos, nem no reino das fadas, muitas das vezes temos uma sorte similar à do pastorzinho que não mais pastoreia. Muitas vezes desejamos, com todas as forças de nosso ser, realizar algo e, quando realizamos, nos damos conta de que deixamos de ser quem nós éramos para nos tornar um trem pra lá de esquisito; e aí nós nos tocamos de que aquilo que conquistamos não vale um milésimo daquilo que perdemos para obtê-lo.
Enfim, da mesma forma que nos contos de fadas, depois que realizamos o encanto que tanto almejamos, nada mais será como era antes; nada, principalmente nós mesmos.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela – professor e cronista ([email protected])
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