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O viajante das letras
Key West é uma cidade singular, encravada numa ilha, ao sul da Flórida, Estados Unidos, mais próxima de Cuba que Miami. Famosa por suas moradias bem conservadas, quase todas datadas do início do século passado, ali, por alguns anos, residiu Ernest Hemingway, verdadeira lenda, autêntico viajante das letras, participante das últimas guerras mundiais, sobreviveu a dois acidentes de avião, teve seus livros queimados pelos nazistas, deu nome a um corpo celeste que orbita o sol e, como se isso não fosse suficiente, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
Dois anos atrás nessa mesma época, com o COVID já maltratando a muitos, tive oportunidade de visitar a região me encantando com seus detalhes pitorescos. Dentre os quais a residência onde morou Hemingway, ali apelidado de “Papa”. A casa é linda. Quem anda pela rua não imagina a beleza escondida atrás de seus muros. Caminhar pelos jardins, um dia percorridos pelo famoso habitante, é uma excelente sensação, sendo o mais interessante, saber a mesma haver sido escolhida como moradia pelo grande escritor, por situar-se próxima ao único Farol da ilha: assim, quando ele se embriagasse, fato que acontecia habitualmente, facilmente encontraria o caminho do lar.
Ernest Hemingway era alcoólatra. Gostava tanto de frequentar bares, que os escolhia a dedo, pelos drinks servidos, música tocada e, sobretudo, pelos bêbados que lhe faziam companhia. Conversava muito, sendo preciso encontrar o lugar e a corja. Antro de garrafas e homens, aonde se podia ir a qualquer hora, sem escudeiro, com pessoas comuns, sem convite, com espontaneidade. Quando conquistava seu lugar no balcão, tornava-se fiel frequentador. Não precisava experimentar outros se aquele lhe servia bem.
Deixei a habitação do “Papa”, encantado com tudo quanto havia conhecido e aprendido. Recentemente em meu exilio espontâneo na Barra de São Miguel, debrucei-me sobre o “Velho e o Mar”, livro escrito em 1951, quando o “Viajante das Letras”, já residia em Cuba.
A história se passa em torno de um experiente pescador, que é o protagonista. Em uma de suas pescarias em alto mar, meio caminho entre a ilha de Fidel e Key West, ele luta para trazer um espadarte gigante ao barco. Uma das características do livro é sua simplicidade, precisão narrativa e descritiva, além dos dois personagens que parecem se completar. O velho, chamado Santiago, sentindo-se em uma maré de azar, e um jovem, batizado como Manolín, que o incentiva a continuar tentando. Após mais de 80 dias de esforço, finalmente conseguem fisgar o peixe, embora o mesmo ofereça uma resistência brutal.
O “Velho e o Mar” é a constante luta entre a natureza e o homem, a batalha pela sobrevivência exemplificada na tenacidade de um personagem cativante e solitário contra um espadarte gigante e arisco em alto mar. Entre outros aspectos, o romance destaca a importância da perseverança e da sorte.
O mesmo acontece nos dias atuais, quando os habitantes do planeta travam uma guerra sem limites contra o inimigo invisível, que, até agora resiste e se expande de forma contundente, praga que só será vencida, a depender da obstinação, boa ventura e destino de cada um de nós.
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