Artigos
Ana Botafogo, Palco e Vida
Recebo de Ernani Ernesto Fonseca, pai da bailarina Ana Botafogo, o livro que conta a história da sua vida gloriosa, como primeiro nome do Teatro Municipal. Certamente, ninguém chegou perto da sua trajetória.
Lá pelas tantas, escrevi um artigo, com o título “Coppélia, o começo de tudo”, em que conto como foi a presença de Ana Botafogo no início da sua carreira, em 1981. Uma crise levou-me à presidência da Fundação das Artes do Rio de Janeiro (Funarj), que administrativa o Teatro Municipal. Quando cheguei tudo era interino. A primeira medida que tomei, contando com a adesão do governador Chagas Freitas, foi colocar o mastro Henrique Morelenbaum na direção do Teatro Municipal. Ele era muito querido e respeitado pelos profissionais do Coro e da Orquestra. E chamei a minha amiga Dalal Ashcar para comandar o balé. Entrou com muita energia, totalmente prestigiada, e pôde afastar os incompetentes, abrindo concursos públicos para renovar os quadros oficiais.
E fez a escolha desejada para a programação de 1981, a começar pelo clássico “Coppélia”, seguindo-se “Romeu e Julieta” e “Giselle”. O primeiro balé foi um acontecimento inesquecível. Os cenários do profissional argentino José Varona foram intensamente aplaudidos, especialmente na abertura do 2º ato, como nunca havia antes presenciado. E o corpo de baile desenvolvia-se com tal competência, que parecia estar trabalhando junto há muitos anos.
Outro formidável pormenor, de que me sinto pessoalmente responsável. Aboli as fitas que eram comuns nos balés. Exigi, não sem muito esforço de persuasão, que o balé fosse acompanhado pela Orquestra ao vivo, o que deu outro colorido às apresentações. Dalal esmerou-se na direção e produção do espetáculo. Sensível como poucas pessoas, abriu horários alternativos aos domingos pela manhã, a fim de permitir que as sessões fossem vistas por crianças de todos os bairros e procedências sociais do Rio de Janeiro. Foi um êxito histórico, que se repetiu por 12 récitas, marcando época na cultura fluminense.
Agora, o reencontro com a mesma “Coppélia” de 18 anos atrás, os mesmos cenários e figurinos, os mesmos aplausos e o grande êxito de Ana Botafogo, bailarina símbolo, fazem com que a emoção aflore no abraço carinhoso e demorado com que saúdo Dalal Ashcar.
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