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A educação segunda a maldade
Olá caríssimo! Meu nome é Arsênico [sem dores, nem prazeres], e venho apresentar para vocês uma visão revolucionária sobre essa tal de educação que, com toda certeza, irá gerar um randevu em suas cumbucas, da mesma forma que causou na minha moringa.
Durante séculos, todos aqueles que procuraram se dedicar ao ato de educar, tinham claro em seus horizontes que o que se deveria primar era pela formação de pessoas retas, dignas e capazes. Mas hoje, não mais. A parada, agora, é diferenciada. O esquema do momento é preparar todo mundo para a virtude [transviada] da malandragem que instiga, de forma sutil, mancebos e adultos dessa terra, onde o fracasso subiu à cabeça, a aprenderem a apreciar a vida vivida no desvio e a se sentirem verdadeiros “protagonistas” por estarem nessa vibe de outro mundo.
E o que é mais importante! Dá menos trabalho e o resultado é “realmente” mais efetivo do que toda aquela quinquilharia antiquada de querer ficar com essa firula de formar as tenras almas com as tenazes das virtudes para que elas saibam manejar, com um mínimo de desenvoltura, os conceitos e teorias elementares das humanidades e das chamadas ciências duras.
Essa visão revolucionária que, provisoriamente, iremos chamar de educação segundo a malandragem para a malandragem, tem poucos princípios que a norteiam e, esses poucos pontos, são extremamente simples. Tão simples que até mesmo um burocrata, arrancado das páginas das obras dostoievskianas, seria capaz de compreendê-los e de aplicá-los com maestria, realizando plenamente os [nada] sutis objetivos dessa [depravada] pedagogia.
Dito isso, vejamos quais seriam os tais princípios.
Primeiro de tudo, repita pra si mesmo, todo santo dia: “ninguém educa ninguém”, “ninguém educa ninguém”, “ninguém educa ninguém”. Repita isso várias vezes ao dia para que possamos compreender que é de fundamental importância abolir a autoridade professoral e substituí-la pela imagem serviu de um “mediador facilitador”. Isso mesmo! “Mediador facilitador”. Nada de querer ensinar coisa alguma. O esquema é “facilitar”, sempre.
Segundo: lembremos que muito mais importante que os conhecimentos [que poderiam ser] adquiridos, são os números ocos que serão apresentados ao final do ano numa planilha publicitariamente ornamentada.
Ao final de um ciclo letivo o que todo mundo quer saber é quantos por cento dos alunos foram aprovados, não se eles sabem realmente o mínimo necessário para avançar para a próxima fase do “simulacro ensinativo”. Aliás, tal preocupação é coisa de gente “conteudista”, retrógrada e cafona. Chique mesmo é termos gráficos lindos com belos números de aprovados como resultado porque, no frigir dos ovos, os números reais não resultam em nada, nadica de nada.
Terceiro princípio: para que tudo corra bem, deve-se criar várias oportunidades para que os erros cometidos pelos mancebos possam ser devidamente maquiados sem que, necessariamente, precisem ser corrigidos, porque correção, além de ser uma tranqueira do passado, é uma terrível forma de opressão. Obviamente, tal subterfúgio [sulfuroso] não deve, de jeito maneira, ser apresentado nestes termos. Nada disso. Use outros nomes para propô-los, como: recuperação, recuperação paralela, recuperação da recuperação, segunda chance, segunda época, trabalho extra, trabalhinho, “se liga” e tutti quanti e, ao final, tudo ficará como dantes, mas com números bem mais elegantes, para não sei quem ver.
Com base nesses três princípios simples, as tenras gerações vão aprendendo na prática, ao vivo e a cores, que as forças Estatais superiores, não tão misteriosas assim, estarão sempre em algum lugar em favor deles, prontas para justificar todos os seus erros com algum subterfúgio politicamente correto e, ainda, de quebra, irão garantir que qualquer esforço rumo à excelência seja visto como uma vil atitude meritória, elitista e preconceituosa.
Abre parêntese: repito mais uma vez: nada de professor querer agir de modo professoral. É mais do que importante que se entenda que o que se deve ter em mente é o “facilitar”, ladeira abaixo rumo ao fundo do brejo. Essa é a meta. E será dobra em breve. Aguardem. Fecha parêntese.
As experiências que vieram aprimorando essa visão [distorcida] da educação tem apresentado ótimos resultados. Excelentes, diga-se de passagem. A piazada vem aprendendo rapidinho a dançar no ritmo deste baile de máscaras. Claro, sempre há exceções, mas essas acabam com o tempo sendo vencidas no cansaço e muitas terminam entregando os betes e, aqueles que não se entregam, acabam ficando isolados socialmente.
Rápido, bem rápido, muitos vão ficando safos, cientes de que, por mais que eles em nada se esforcem, ao final, serão premiados com uma certificação, burocraticamente registrada, que garante que eles passaram pelo espaço escolar. Documento esse que certifica, entre outras coisas, que, com jeitinho, toda e qualquer bagaceira terminará em nada.
É isso que se ensina com base nessa visão [deformada] de educação e, como comumente se avalia a eficiência e a efetividade de algo pela forma como são realizados os objetivos estabelecidos para a sua efetivação, podemos dizer que a educação segundo a malandragem é um [desconcertante] sucesso. Um baita sucesso.
Enfim, é isso caríssimo! Eu, Arsênico [sem dores, nem prazeres], findo por aqui. Mais informações, a respeito dessa visão revolucionária sobre essa tal de educação, liguem para (42) 9997-6070; se ninguém atender, cê tenta de novo.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela – professor e cronista (Instagram: @dartagnanzanela)
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