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Devorados pelo esquecimento
Não existe vida social sem memória. Não tem como. E isso é assim porque nós, cada um de nós, temos um amálgama de lembranças e esquecimentos que guardamos em nosso íntimo, lembranças e extravios esses que, de muitas formas, se mesclam com as reminiscências coletivas da comunidade que fazemos parte.
Quanto mais ampla é a compreensão que temos de nossa posição em relação à experiência que foi vivida pelas gerações que nos antecederam, mais profundo é o entendimento que temos dos dramas que perpassam a vida em sociedade e que, de algum modo, afetam a nossa vida e dão forma a ela.
Por isso, digo e repito, quantas vezes for necessário: não há vida social se não há memória cultivada, individual e coletivamente, que entrelace as nossas lembranças com os nossos esquecimentos, dando forma e substância a um sentimento de compromisso com algo que é maior do que nós mesmos e, ao mesmo tempo, apresenta-se como parte integrante da nossa personalidade – uma parte importantíssima da dita cuja, diga-se de passagem.
Se as experiências que foram vividas por nossos antepassados, não mais cantam suas aventuras e desventuras no momento presente, para fazer coro nos corações dos membros viventes da comunidade que fazemos parte, a sociedade, com o tempo, acaba perdendo a sua forma e, com relativa velocidade, passa a degradar-se, deformando-se, ao ponto de seus membros não mais se reconhecerem como integrantes do mesmo corpo social. Aí, meu amigo, a lambança é federal.
Quando isso ocorre, os indivíduos atomizados, devido à ausência de laços históricos que os una, passam a se reunir em hordas massificadas para não se sentirem tão sós, diminuídos, e passam a lutar uns contra os outros com o intento de impor seus desejos mesquinhos e projetos de poder tacanhos, na vã esperança de que esses possa vir a ser o novo elo que dará uma nova forma àquilo que deixou de ser um corpo social vivo; e deixou de ser quando todos nós passamos a destruir a memória comum que nos vincula uns aos outros como sociedade.
E, sem esse vínculo historicamente construído, nós deixamos de ser uma sociedade para abraçarmos, de peito aberto, a mais abjeta barbárie e, fazemos isso, sem nos darmos conta da tremenda besteira que estamos fazendo. Bem, é mais ou menos isso que estamos edificando não apenas em nosso país como um todo, mas também e principalmente, em nossas tristes cidades.
Isso é triste, muito triste, mas é mais ou menos isso que estamos cultivando para deixar de presente para as gerações vindouras.
Escrevinhado por Dartagnan da Silva Zanela
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