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Perdidos sem o fio de Ariadne
Um velho dito popular nos ensina que sábio não é aquele que lê, mas sim, todo aquele que relê. Batata! É isso mesmo.
Quando lemos algo pela primeira vez nós estamos, mais ou menos, nos inteirando do assunto que está sendo apresentado, onde ficamos coletando uma e outra impressão de algo que está sendo expresso para nós por meio de palavras.
Agora, quando relemos, estamos nos esforçando para compreender aquilo que, num primeiro momento, e de forma imprecisa, havíamos vislumbrado rapidamente e, por isso mesmo, nossa atenção agora volta-se mais aguçada para o oceano de palavras que se apresenta diante dos nossos olhos. Mares esses que se encontram sob a guarda de nossas mãos naquele momento.
E, se a preguiça não nos impedir, e o interesse nos arrastar, podemos virar “no tocha” e empreender uma terceira leitura para, depois de termos compreendido aquilo que havíamos apreendido, podermos passar a refletir sobre tudo o que apreendemos e compreendemos.
Porém, infelizmente, muitas vezes não nos entregamos a esse tipo de jornada por duas razões muito simples. A primeira: porque estamos muito mais preocupados com o número de obras que teremos passado os olhos do que com aquilo que realmente iremos aprender com a leitura delas. É triste, mas não são poucas as pessoas que agem assim, desse jeitão.
A segunda razão é mais simples, porém, não menos problemática: muitas vezes iniciamos uma leitura, ansiosos, para terminá-la o mais rápido possível, pouco importando se iremos apreender, compreender e refletir algo substancial a respeito e a partir daquilo que foi lido.
Nesses casos, podemos dizer que ler qualquer coisa dessa forma seria similar a irmos a um bailão, ansiosos para que o mesmo termine o mais rápido possível para, ao final, ficarmos com aquela cara de pastel, sem lembrarmos claramente com quem conversamos, com quem dançamos e assim por diante. Mas, podemos dizer para todos que fomos ao baile, a muitos bailes, sem termos realmente estado presentes de corpo e alma em nenhum deles.
Resumindo o entrevero: quando agimos assim, estamos apenas cultivando uma forma cafona de ostentação vazia, um desperdício de energia, devido ao mau uso que fazemos do tempo que temos disponível e da total falta de propósito que impera na maneira como desfrutamos dos bens culturais que temos ao alcance de nossas mãos.
Um problema simples que, se resolvido for, pode mudar radicalmente a forma como encaramos as nossas leituras e a maneira como elas impactam nossa vida e fertilizam a nossa alma. Uma questão simples que, se não for devidamente equacionada, poderá nos manter presos num labirinto de escolhas mesquinhas e decisões tacanhas, sem um fio de Ariadne ao alcance de nossas mãos para nos guiar para fora dele e, principalmente, sem a ousadia de um Teseu para enfrentar a encrenca existencial que nos aguarda nos tortuosos corredores do palácio de Minos da nossa vida mal vivida e mal lida.
Escrevinhado por: Dartagnan da Silva Zanela
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