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Chafurdando na lama midiática
Xícara de café ao alcance das mãos, mas as ideias para escrevinhar uma crônica estão meio que distantes nesse momento. Tateio sobre o teclado sem saber ao certo o que digitar, vagando a esmo de uma ideia a outra, de um fato a outro, sem chegar a lugar algum. Sorte minha que, ao menos, uma xícara de café esteja me fazendo companhia nessa hora.
De certa forma, tal situação é por demais similar a outros quadros que são vividos por muitos indivíduos que, também, meio que a esmo, ficam tateando pelas linhas da internet, pelas vielas das redes sociais e pelos canais de televisão, vagando sem saber para onde ir, o que pensar e o que fazer.
Se meditarmos um cadinho que seja sobre isso, veremos o quão volúvel nós somos e, reconheceremos, o quão facilmente somos influenciáveis.
Sim, eu sei que muitas vezes nós enchemos nossa boca para chamar os outros, especialmente nossos ilustres desafetos desconhecidos, de “povo gadoso”, ou de algo que o valha e, possivelmente, fazemos isso justamente nessas horas em que estamos vagando feito um figurante do The Walking Dead e, sem nos darmos conta, lá estamos nós, na segurança do distanciamento virtual, enxovalhando alguém, engrossando o coro da multidão disforme e deformante que, impiamente, sai à caça de uma presa a mais para destilar o seu sadismo cívico criticamente crítico.
Não estou afirmando aqui, com essas linhas mal escritas, que uma pessoa não possa fazer isso. Que cada um seja senhor de sua vontade e escravo de sua consciência. O que quero, realmente, é tão somente chamar a atenção para esse comportamento que abominamos nos outros, mas que, não somos capazes muitas vezes de reconhecê-lo em nós. Quando é nosso umbigo que está em xeque, fazemos vista grossa, não é mesmo?
As razões para nos recusarmos a estarmos cônscios disso se devem a uma série de fatores, entretanto, um que contribui de forma significativa para tal atitude, com toda certeza, é essa nossa maneira de ser, pra lá de leviana, de nos entregarmos ao vaguear sem rumo por entre esse agitado mar de notícias feito um barquinho de papel no meio de uma tormenta.
É gozado vermos como vagamos entre uma e outra matéria – digo, entre uma postagem aqui, e um meme acolá – sobre a PETROBRAS e a saída da tal Karol Conká do famigerado BBB. É, no mínimo, estranho vermos como perambulamos pelas redes e, lá pelas tantas, damos de cara com a tatuagem íntima, numa região muito íntima, da senhorita Anitta, ao mesmo tempo que topamos com as novas medidas sanitárias restritivas que foram apresentadas por muitos governadores e, ao final, acabamos estacionando na derrota do Internacional de Porto Alegre para o Flamengo.
Como os antigos diziam, cabeça parada é a oficina do capeta. Nada mais acertado do que isso, principalmente quando temos ao alcance de nossas mãos, não uma xícara de café, mas sim, um aparelho que despeja na baía de nossos olhos uma infinidade de informações que vão sendo acolhidas por nós sem o menor critério.
Obviamente que isso que estou apontando não é, de jeito maneira, uma constante em nossas vidas. Oxi! Claro que não.
Quer dizer, creio que existam, sim, alminhas que vivem desse jeito, mas essas não são a regra.
O problema é que todos nós, uma vez ou outra, resvalamos e caímos nesse engodo, e isso, já é mais do que suficiente para cometermos desatinos que, cedo ou tarde, serão apontados por nossa consciência contra nós mesmos se, é claro, tivermos uma em pleno vigor.
Cometermos um desatino, com toda certeza, não é o fim do mundo, mas tem lá suas consequências. Agora, crermos que estamos imunes a isso, e fecharmos nossos olhos para essa nossa leviandade nada original de cada dia, agindo como se fôssemos seres pra lá de fofos e limpinhos, não evitará que caímos e nos lambuzemos gostosamente em toda imundice midiática que chega até nós.
Por essa razão que é tão importante que procuremos ter, em nossa algibeira mental, alguns critérios, solidamente construídos, para classificarmos e organizarmos tudo que chega até nós e que passará a integrar nossa pessoa, para que possamos saber dar a devida atenção para aquilo que realmente importa e, é claro, o indispensável desprezo para aquelas coisas que, de fato, não tem relevância alguma.
Isso mesmo, caro navegante. Se minha memória não estiver me enganando, critério era uma pedra de toque utilizada pelos gregos antigos para distinguir o ouro verdadeiro do ouro de tolo. Sem essa pedra de toque, um transeunte desavisado corria o sério risco de tomar posse de algo sem valor crendo, candidamente, que teria em suas mãos uma preciosidade.
Enfim, por falta de critérios cá estamos nós, chafurdando em meio a um oceano de coisas, coisinhas e coisonas de valor questionável que, naturalmente, ocultam de nossas vistas tesouros inestimáveis; e isso somente ocorre por não sabermos distinguir de forma apropriada aquilo que deve ou não receber a joia da nossa atenção. Porém, para podermos encontrá-los e tomar posse dos mesmos, é de fundamental importância que tenhamos critérios sólidos para isso e uma boa xícara de café.
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