Alagoas
Cinema alagoano perde Pedro da Rocha, seu cineasta mais afetivo
O cinema de Alagoas se despede de um de seus maiores talentos. Natural da cidade de Junqueiro, Pedro da Rocha construiu uma trajetória de pioneirismo no audiovisual do estado, ousando produzir suas obras muitas vezes de forma independente, quando ainda não existia qualquer política de fomento. Pedro fez um cinema verdadeiramente popular, sempre atento ao diálogo profundo com o público.
Entre as principais contribuições que deu para o nosso audiovisual, Pedro atuou como presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas de Alagoas (ABD&C-AL) no biênio 2009/2010; foi um dos fundadores da Mostra Sururu de Cinema Alagoano; coordenou a Mostra Junqueiro de Cinema, além dos muitos filmes que realizou.
Na sua filmografia se destacam títulos como “A Risonha Morte de Tião das Vacas” (fic, 13 min., 2005), “Desalmada e Atrevida” (fic, 26 min, 2007), “O Santo Guerreiro do Povo” (doc., 26 min., 2007), “Sol Encarnado” (fic, 17 min, 2012) e “Memórias de uma Saga Caeté” (doc., 20 min, 2012), entre outros. Ele deixa como legado mais de 20 filmes.
Pedro atualmente trabalhava na finalização daquele que será seu trabalho mais ambicioso e complexo, o telefilme documental “O Impeachment – Setembro, 1957, Sexta-feira 13”. O filme narra as tensões em torno do afastamento do governador Muniz Falcão, um dos mais emblemáticos e violentos episódios da vida parlamentar brasileira.
Pedro nasceu em 1957, filho de Noel Clemente de Oliveira e Terezinha da Rocha Oliveira. Era casado com Vera Rocha, que além de esposa e companheira foi responsável pela produção de muitos de seus projetos.
O cineasta faleceu em decorrência de complicações causadas pela Covid-19. O sepultamento será realizado no cemitério Parque da Flores, no bairro do Farol, às 16h desse sábado (25). A despedida é aberta ao público, seguindo os protocolos sanitários.
COMOÇÃO
O setor cultural alagoano despertou neste sábado sob forte comoção com a notícia da perda de um de seus militantes mais ativos.
“Poucas vezes conheci alguém simultaneamente feliz, competente, humilde e generoso. Pedrinho era um combo do que de bom pode existir num ser humano pleno”, disse o antropólogo e professor Bruno César Cavalcanti.
A museóloga e pesquisadora Carmem Lúcia Dantas, grande amiga de Pedro, também manifestou seu sentimento.
“Para além de uma tristeza individual, a morte de Pedro da Rocha é um baque para o audiovisual do Nordeste. Mais que isso: Alagoas perde um arquivo vivo da sua história cultural, sempre de olhar atento e refinado no sentido do registro dos fatos e das pessoas. Pedro era um cara puro e lúcido”.
Outro interlocutor do cineasta nos debates sobre a cultura e a história de Alagoas, o antropólogo Edson Bezerra fala sobre o amigo de longa data.
“O Pedro que eu conheci não era feito de pedra, mas um curioso complexo de ternuras, de risos e de bondade. Que vá em paz, pois, um dia, todos nós nos encontraremos dentre abraços e risos”.
Outro veterano da produção audiovisual alagoana, o cineasta Celso Brandão define muito bem o colega: “o cinema alagoano perde seu cineasta mais afetivo”.
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