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A marmota patriótica
Certa feita, perguntaram-me, entre um e outro gole de café, quando que “a gente”, o tal do povo, iria retomar o Brasil das mãos daqueles sicofantas que nos usurparam. Quando?
Eis aí uma pergunta tremendamente complicada de ser respondida.
Explico-me: a qual gente estamos nos referindo quando perguntamos isso? Quais valores essa gente, que se sente usurpada, tem em comum para olharem uns nos olhos dos outros e dizer que fazem parte da mesma turma?
E essa gente toda, que diz identificar-se com determinados valores, em que medida realmente os valoriza? Elas estariam dispostas a sacrificar-se em que medida, e em qual proporção, para defendê-los?
É justamente aí que a porca torce o rabo e faz toda essa conversa de amor pelo Brasil, que ecoa pelas redes sociais, parecer mais com uma marmota do que com qualquer outra coisa.
E tem outra: que história é essa de “nosso país de volta”? Um país torna-se nosso na medida em que conhecemos a sua história, com suas alegrias e tristezas, amando-o com todas as suas virtudes e defeitos que ele tem, da mesma forma que amamos um time de futebol.
Porém, na maioria das vezes, na maioria mesmo, conhecemos apenas e tão somente um arremedo da jornada percorrida por nossos antepassados nessas terras de Pindorama e, por preguiça, transformamos esse arremedo, numa imagem caricata de toda a trajetória de nossa pátria de chuteiras gastas.
E, por essas e outras, que boa parte de toda essa conversa de amor pelo Brasil, e por seu povo, não passa de bafo de boca.
Não se ama algo cuja história é ignorada, da mesma forma que valores pelos quais não estamos dispostos a nos sacrificar nunca foram nossos.
Para resumirmos esse entrevero mequetrefe, podemos perguntar no íntimo do nosso coração: será que a pátria amada irá ver que seus filhos não fogem à luta? Francamente, não sei dizer.
Mas uma coisa é mais do que certa: uma parte bem graúda dessa gente toda está pronta pra correr e, outro tanto, permanecerá bem escondidinha embaixo do seu patriotismo festivo de rede social, esperando, torcendo para que outros façam aquilo que eles dizem querer fazer, mas não tem coragem de realizar.
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