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O exterminador de aglomerações
Em uma época em que a noite deixa de ser sinônimo de festa, se transformando em momentos de reclusão forçada, e quando o céu vai se apagando não somente pelo desaparecimento do sol, mas pelo medo do vírus, para minha surpresa, Jesualdo resolveu radicalizar, passando a ser ativo fiscal do toque de recolher imposto pelas autoridades, na expectativa de ver diminuir o efeito pernicioso da pandemia.
O seu objetivo era encontrar aglomerações, ligar para a polícia e encerrá-las.
Diariamente, após as vinte uma horas lá ia ele rua afora, em busca de um evento que estivesse transgredindo a lei. Nesse périplo, encontrou pessoas treinando corrida na orla lagunar, passeando com cachorro no Benedito Bentes, vários jovens cercando um ambulante vendedor de cervejas no Salvador Lyra, prostitutas na praça do Montepio e rapazes na Ponta Grossa, escutando música às alturas defronte de uma bodega, ainda em funcionamento apesar do avançado da hora.
Em todas as situações Jesualdo ligava para o 191 e denunciava a transgressão.
O que mais lhe chamou a atenção aconteceu quando ao parar na fase vermelha do semáforo, escutou dois senhores velhinhos, indignados com o que tinha lhes acontecido.
Jesualdo, desceu do carro e questionou o porque da reclamação, e eles responderam já estarem vacinados desde janeiro, e então tinham resolvido dançar um pouco, esticando até uma casa ruas adiante, e lá tendo bebido um pouco mais resolveram pedir duas garotas para lhes fazerem companhia. Mas não voltaremos mais lá, disseram.
Falando muito, contaram haver chegado para eles, duas figuras estranhas, que pareciam mudas, uma delas quando levou uma mordida no peitinho saiu voando, mais parecendo a bruxa da vassoura, a outra, ao receber um beliscão no bumbum, simplesmente desapareceu sem falar nada. Jesualdo então concluiu que como os idosos enxergavam mal, a cafetina resolvera lhes disponibilizar ao invés de mulheres, duas bonecas infláveis, que furaram devido a ação libidinosa dos vovozinhos.
Ficando sabedor do endereço, Jesualdo resolveu investigar, e ficou pasmo com o que viu. Realmente um verdadeiro bordel conhecido por “G”. Ligou para os agentes militares e em poucos minutos dez camburões cheios de soldados estavam por lá.
Entraram todos, de uma só vez, mandando os clientes deitarem no chão e apresentarem documentos. Foi uma correria. Mais de sessenta pessoas, sem máscaras, compartilhando copos, mulheres de biquíni, piscina coletiva onde todos se banhavam, em um ambiente esfumaçado que os impedia ver a realidade. E para a surpresa de Jesualdo a proprietária do local era Germinia, sua sobrinha querida.
Algemada e presa, a dona do “G”, foi escoltada até a delegacia de plantão, onde argumentou que o seu empreendimento, estava funcionado como hotel balneário, uma das poucas atividades noturnas permitidas, sem nada adiantar, pois ficou no xadrez.
Jesualdo de exterminador de aglomerações, passou a ser o advogado da sobrinha, que vez por outra lhe dava dores de cabeça, por estar transgredindo a lei vigente.
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