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A apoteose da Paidéia Mandrake

25/02/2021
A apoteose da Paidéia Mandrake

É uma coisa linda de se ver o homem modernoso todo deslumbrado com um punhado de brinquedinhos tecnológicos. Nossa! Parecem crianças comendo torta de limão. É uma lambança só.

Um bom exemplo disso é esse fascínio que se instaurou entre nós, especialmente no sistema de ensinação, nessa época em que as pessoas desistiram de encarar a vida por medo de vivê-la.

É MEET pra cá, é aula remota pra lá, é atividade impressa acolá, é atividade disponibilizada via CLASSROOM mais adiante e, tudo isso, junto com aulas ministradas em sala, com microfone de lapela, para meia-dúzia de gatos pingados, sendo transmitidas, em tempo real, para os alunos que optaram por ficar em casa. Aí, faz-se um login aqui, outro login acolá, liga-se a câmera, monta-se isso, desmonta-se aquilo, e assim segue o andor até chegarmos aos famigerados “Se liga”, para ajustar os números e deixá-los pomposos no relatório final.

É muita bugiganga tecnológica, sendo usada de forma atarantada, com uma serventia educacional no mínimo duvidosa.

Mas como resolver as encrencas que se instalaram em nossa sociedade que está, em certa medida, paralisada pelo pânico sanitário vigente e midiaticamente amplificado? Tenho uma ideia. Isso mesmo. Uma ideia. Na verdade, não é minha, mas creio que seja relevante compartilhá-la.

Lembro-me que nos anos 80 e 90 existiam cursos superiores (refiro-me aqui a finada Faculdade de Palmas – PR), onde os alunos tinham aulas intensivas, em uma semana do mês, e levavam para casa uma série de atividades que deveriam ser realizadas nas três semanas restantes, retornando no mês seguinte. Detalhe importante: a cobrança das atividades era rígida e, por isso mesmo, permitia que o uso do tempo fosse maximizado.

No cenário atual, do ensino público estatal, em nível médio e fundamental, penso que algo similar poderia ser feito e que, por sua deixa, seria muito mais eficaz, eficiente e efetivo do que tudo o que está sendo proposto. E não apenas isso. Teria um custo muitíssimo menor.

Vejam, as turmas dos colégios poderiam ser divididas em duas. Por exemplo: turmas de 24 alunos. Numa semana 12 alunos viriam para o colégio para ter aulas normais. Ouviriam explicações e receberiam atividades para realizar em casa. Na outra semana, os outros 12 alunos, que estavam em casa, viriam para o colégio enquanto os demais ficariam em casa realizando as tarefas recebidas para, na semana subsequente, corrigi-las com os professores e colegas em sala de aula. Ah! É claro. Essa patacoada de “Se liga” seria abolida e, junto com ela, a “aprovação por conselho de classe”.

Com essa alternância, e com essa clareza, penso que, iríamos evitar as tais aglomerações, criaríamos uma relação mais clara com os educandos e com seus responsáveis, estabeleceríamos uma rotina de estudos na vida dos mancebos, podendo, desse modo, auxiliar os mesmos no cultivo da autodisciplina, que é uma pedra angular na vida de qualquer ser humano. Enfim, teríamos meios mais ponderáveis para, quem sabe, contribuir de forma significativa na formação das tenras gerações.

Sim, eu sei que muitos estão deslumbrados com as traquitanas tecnológicas que, realmente, são fascinantes. Porém, penso que seja importante destacar que educação não tem nada que ver com novas tecnologias e tranqueiras similares. Ela está muito além disso.

Educação, o ex ducere, o guiar para fora, pode apenas ocorrer quando se edificam relações humanas que nos sinalizem o que significa viver como um ser humano digno, prestativo e bom. As ferramentas tecnológicas podem nos auxiliar ou não na realização desse propósito, mas elas não são o centro. Tudo depende da forma como as ferramentas estão sendo dispostas àqueles que irão manuseá-las. Se essas estiverem capengas, bem, não preciso nem dizer, mas direi mesmo assim: o resultado poderá ser no mínimo insuficiente e, possivelmente, desastroso.

Abre um parêntese: ferramentas tecnológicas podem contribuir para edificação do processo educativo, mas elas não são o centro do mesmo. Nunca foi. Nunca será. Fecha o parêntese.

Enfim, sem mais delongas, penso que deveríamos aplicar nesse balaio de gato a velha navalha de Ockham. Ou seja: diante de uma questão escabrosa, frequentemente a resposta mais apropriada acaba sendo a mais simples, não a mais complicada.

Nesse sentido, penso que a ideia apresentada nessas linhas turvas seja muitíssimo mais simples e, por isso mesmo, mais eficiente do que toda essa patacoada hi-tec que está sendo apresentada a nós como se fosse a apoteose duma Paidéia Mandrake, com todo aquele colóquio flácido pra boi dormir, de que estaríamos melhores que a “Zoropa paraguaia”. Colóquio esse que, todos nós, conhecemos muitíssimo bem.