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Continuo vivinho e bulindo
Apesar de acreditar no esforço empreendido para bem escrever, todas as vezes em que tento fazê-lo, bate uma insegurança, semelhante àquela do primeiro dia de aula, do sonho que me desperta, do chinelo virado para baixo, de pensar no futuro que poderá nunca acontecer, de não conhecer o amanhã, de não ter a certeza se é correspondido, enfim, não saber se o escrito está coerente.
Eu sempre quis sentir o que os outros escritores imaginavam a respeito de suas obras. Já havia tentado de tudo, sem sucesso; foi quando resolvi sair pela rua, em busca do lugar onde pudesse encontra-los.
Eu andei, andei, e quando já não esperava achar mais nada, me deparei com um bar, onde pessoas tagarelavam.
Entrei e percebi estarem todos muito alegres. Vi um banco vazio, pedi licença a dois frequentadores que conversavam e me sentei. Solicitei água com gás e fiquei ali observando, quando o homem ao meu lado me abordou: – Porque está aqui? – Não sei. Eu só queria estar em um local animado onde pudesse encontrar escritores. – respondi.
– Coincidência, eu sou o escritor que publica textos nos jornais da cidade, nas sextas-feiras e esse aqui nos sábados. – disse apontando para o colega do lado. Percebi possuírem os dois a mesma feição. – Vocês são gêmeos? – Não, somos iguais mesmo. Aliás, olhe para todos aqui.
Eu não tinha observado aquilo, era incrível, todos estavam sentados e tinham a mesma cara, homens e mulheres. – Que brincadeira é essa? Onde estou? Quem são vocês? – Perguntei. – No bar dos escritores. Estamos aqui para assistir ao show, – disse o responsável pela coluna das quintas-feiras, apontando para os telões espalhados pelo bar.
– É, o show que vocês leitores fazem para gente. Veja, kkkkkk! É muito engraçado! – emendou o escritor da quarta-feira.
– Qual é a graça? Todos estão lendo os seus escritos! – perguntei em tom de aborrecimento.
– Kkkkk, isso é o gozado, respondeu o escritor da terça-feira. Olhe para nós, somos todos iguais, simplesmente nos inspiramos e colocamos no papel nossas ideias. Mas os leitores, muitos deles leem todo o texto, concordando ou não com o conteúdo, mas um grande número, somente se satisfaz com o título, e saem logo comentando tentando adivinhar o conteúdo e são os que mais elogiam. Esse segundo grupo é hilário.
Antes de terminar ele cospe gargalhada, e todos os acompanham espontaneamente, alguns caem no chão, outros ficam vermelhos, perdem o fôlego, batem na mesa, as risadas não param, e eu aproveitei para sair de fininho, sem lhes dizer que semanalmente tenho escrito para jornais do estado de Alagoas.
Já na rua lembrei, em quantas oportunidades tal fato aconteceu comigo. A última delas foi quando escrevi o texto “Sabe quem morreu?” e coloquei o meu nome logo abaixo do título para identificar o autor. Muitos aplaudiram, mas inúmeros, chegaram até a comentar sobre o meu falecimento e ligar para minha casa para certificar se era verdade a morte de Alberto Rostand Lanverly. Eu só respondi: – continuo vivinho e bulindo
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