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Antropólogo e historiador Adelson Lopes relembra história de Palmeira dos Índios

20/08/2020
Antropólogo e historiador Adelson Lopes relembra história de Palmeira dos Índios

Antropólogo José Adelson Lopes ressalta questão indígena

A História de Palmeira dos Índios, cidade do interior de Alagoas que neste dia 20 de agosto completa 131 anos, é marcada por disputas pela posse das terras habitadas por índios Xucuru-Kariri e pela população envolvente. A literatura sobre a fundação da localidade é escassa e se encontra em poucos acervos preservados por particulares, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em documentos cartoriais e paroquiais na referida cidade.

As terras, atualmente ocupadas pelo município de Palmeira dos Índios, formavam, inicialmente, um aldeamento dos índios Xucuru, que ali se estabeleceram no fim da primeira metade do século XVII. De acordo com o antropólogo e historiador José Adelson Lopes, o território era formado de matas nas serras e palmeiras na região do vale. “O nome do município veio em apologia aos seus primeiros habitantes e a abundância de palmeiras em seus campos. Segundo o escritor Luiz Torres, os nativos formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafurna e a Serra da Boa Vista”, explicou.

A vila de Palmeira dos Índios foi criada em 1835, através da resolução Nº 10 de 10 de abril, assinada pelo presidente da Província, José Joaquim Machado. “O fato atendia aos anseios dos moradores que acreditavam num florescimento em curto prazo. Mas não previam que esse passo rumo à liberdade política do povoado traria uma série de disputas pelo poder e pela posse territorial, rompendo com as bases da cultura fundante do lugar, que passaria a condição de figurante no processo que se iniciou a partir então”, explicou o historiador.

A data exata da criação da freguesia não é conhecida. “Segundo Espíndola, foi em 1798. Outros autores, como Ivan Barros, Luiz Torres e Brandão enfatizam o ano de 1789, o que indica haver entre eles uma troca nos dois últimos algarismos”, ressaltou Adelson Lopes.

Apesar da criação da vila pela resolução nº 10, de 10 de abril de 1835, desmembrada da vila de Atalaia, sua instalação só se tornou válida depois da Resolução nº 27, de 12 de março de 1838 e esta foi suprimida pela Lei nº 43, de 23 de junho de 1853 e elevada à categoria de cidade pela Lei nº 1113, de 20 de agosto de 1889. Seu termo fazia parte, desde a criação, da comarca de Atalaia, passando, em 1838, para a de Anadia. Em 1872, pela Lei nº 624, de 16 de março, foi criada à sua comarca com o seu termo. “Segundo Clóvis Antunes, (1965, p 11) em 1770 chegou à região frei Domingos de São José, com o objetivo de converter os índios ao cristianismo. Posteriormente, em 1773, o franciscano obteve de D. Maria Pereira Gonçalves, herdeira da Sesmaria de Burgos, e dos seus herdeiros, a doação de meia légua de terra para patrimônio da capela que aí foi construída, sendo consagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte. A escritura foi lavrada pelo tabelião Manoel Pereira da Rocha, em 27 de junho de 1773 ,no cartório da comarca de Garanhuns”, explicou o historiador.

Conforme descrito no texto da escritura, a doação foi feita para frei Domingos de São José, para que este desenvolvesse o trabalho missionário de catequese indígena e a edificação de uma capela. Com o processo de catequese em desenvolvimento, foi construída uma segunda capela na parte mais alta da planície, no sopé da serra, com o intuito de fazer desenvolver uma povoação naquele local. O padroeiro da capela do alto, Bom Jesus da Boa Morte, foi substituído por Nossa Senhora do Amparo e um padre foi nomeado para dirigir os trabalhos na nova igreja, o Padre João Morato Rosas.

“A criação da igreja e o estabelecimento do padre na região foram elementos propulsores para um considerável fluxo de pessoas no vale, entre elas alguns comerciantes e tropeiros, que foram lentamente estabelecendo residência no entorno da capela, criando, desse modo, um pequeno aglomerado populacional de não índios no sopé da serra, enquanto que a parte mais alta do território era habitada pelo povo Xucuru-Kariri”, analisou o professor Adelson.