Economia
Bolsa fecha em baixa de 1,73%, com foco em Guedes
Os rumores de que o ministro Paulo Guedes está de saída do governo ganharam corpo nesta primeira sessão da semana, derrubando o Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos, em dia marcado também por pressão no dólar e inclinação da curva de juros, especialmente a ponta longa. No meio da tarde, quando o Ibovespa acentuava mínimas, circulou a versão de que a demissão de Guedes estaria assinada, o que levou então o índice da B3 aos 98.622,47 pontos no piso da sessão, renovado depois aos 98.513,34, com máxima a 101.688,98 pontos – uma variação de pouco mais de 3,1 mil pontos entre os extremos desta segunda-feira. Ao final, em dia de vencimento de opções sobre ações, o Ibovespa marcava perda de 1,73%, aos 99.595,41 pontos, com giro financeiro a R$ 45,4 bilhões. No mês, cede 3,22% e, no ano, 13,88%.
“O mercado começa a refletir a possibilidade de o Guedes ter subido no telhado. Mas o que ocorreu hoje, em ajuste de preço tanto em ações, como dólar e juros, está muito longe de ser uma consumação de sua saída. Com o Guedes fora do governo, o Ibovespa iria abaixo dos 80 mil pontos”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura. “O mercado está começando a trabalhar com uma possibilidade que inexistia até a semana passada. A composição de risco agora é totalmente diferente, e os preços dos ativos estão respondendo a isso”, acrescenta.
Refletindo a aversão ao risco fiscal, que se acentuou com as saídas dos secretários Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) na semana passada, as ordens de ‘stop loss’ se intensificaram hoje abaixo dos 100 mil pontos, com o primeiro suporte correspondendo agora à mínima de 14 de julho, então aos 98.288,81 pontos, a última sessão em que o Ibovespa operou abaixo da linha de seis dígitos. “Se perder este suporte, a tendência é de que passe a ter como referência a média móvel de 200 dias, agora a 96.459 pontos”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, observando a solidão de Guedes na luta contra a “ala das obras” no governo.
Em live promovida pela Arko Advice, Mattar disse hoje que a relação entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes é “muito boa”. “Essa informação de que o ministro está desprestigiado não procede. Estou até surpreso com essas informações da imprensa. Nem sempre o que sai na imprensa é o que está acontecendo de fato”, acrescentou o ex-secretário.
No entanto, apesar da simpatia pública sempre reiterada por Bolsonaro, o ministro pode ter se transformado em obstáculo para um objetivo maior: a reeleição. A defesa do teto de gastos para 2021, sem eternizar medidas excepcionais associadas à pandemia e que melhoraram a popularidade presidencial – como o auxílio emergencial -, pode ter transformado Guedes em um companheiro de viagem indesejável. “Ainda não dá pra saber se Guedes fica ou sai, mas, de qualquer forma, o mercado tem que tomar precaução, colocando esta possibilidade no preço. Resta saber também: ainda que ele fique, como seria esta permanência”, aponta Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, referindo-se ao nível de interlocução e poder retidos pelo ministro caso continue no governo.
Neste contexto de incerteza, as perdas se distribuíram na sessão, com algumas ações conseguindo diferenciação, seja por resultados trimestrais positivos, divulgados recentemente, seja pelo forte avanço do dólar, que favorece a geração de receitas de exportadoras como Marfrig (+5,37%), JBS (+2,53%) e Klabin (+2,11%), na ponta do Ibovespa na sessão. No lado oposto, Hering cedeu 8,34%, seguida por Eletrobras ON, em queda de 6,66%, e por Gol, com perda de 6,05% nesta segunda-feira. Entre as ações de commodities, Petrobras PN cedeu 0,31% e a ON teve leve alta de 0,04%, enquanto Vale ON avançou 1,43%. Entre os bancos, Bradesco PN caiu 2,92% e Banco do Brasil, 2,56%.
Autor: Luís Eduardo Leal
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