Brasil

Dados sobre coronavírus são insuficientes em 90% dos estados brasileiros, diz estudo

03/04/2020
Dados sobre coronavírus são insuficientes em 90% dos estados brasileiros, diz estudo
Mulher com máscara cirúrgica

Em muitos estados, falta a divulgação de informações básicas, como o município onde os casos foram confirmados

As informações oficiais sobre o novo coronavírus divulgadas pela maioria dos estados brasileiros são insuficientes para acompanhar a disseminação da doença respiratória por ele causada, a covid-19, no país, aponta um levantamento da Open Knowledge Brasil (OKB) divulgado nesta sexta-feira (03/04).

No estudo, foi analisada a maneira como os 26 estados e Distrito Federal comunicam os casos registrados da doença. O balanço concluiu que 90% dos listados não divulgam publicamente dados fundamentais.

“Em muitos estados, falta a divulgação de informações básicas, como o município onde os casos foram confirmados”, disse à DW Brasil Fernanda Campagnucci, que coordenou o estudo.

Na lista dos classificados com nível baixo de transparência e opaco estão o Distrito Federal e 18 estados – entre eles, São Paulo, que concentra o maior número de casos no país. “Isso chamou a atenção. São Paulo tem capacidade para trabalhar na gestão de dados e é o foco da epidemia [no país]”, comenta Campagnucci. Uma das informações que falta no estado a listagem de casos de covid-19 por cidade.

O Ministério da Saúde, que coordena os esforços de combate à pandemia, foi avaliado separadamente e também obteve uma classificação insatisfatória. “Está faltando uma padronização do próprio ministério na coleta de dados. Cada estado está tomando iniciativa de fazer uma divulgação própria, o que dificulta inclusive a comparação entre eles”, diz a pesquisadora.

O estudo levou em conta o conteúdo das informações disponibilizadas, que inclui itens como idade, sexo e hospitalização dos pacientes; o nível de detalhamento de informação, como cidade ou bairro; e o formato de divulgação das informações (texto, painel, planilha, etc.).

Dentre as informações essenciais necessárias para o acompanhamento da covid-19 no país, o estudo aponta a ausência de dados sobre testes disponíveis e taxa de ocupação de leitos. O levantamento mostrou que ​nenhum estado disponibiliza a quantidade de leitos, principalmente de unidades de tratamento intensivo, ocupados.

No fim do ranking aparecem oito estados considerados “opacos”: Amapá, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, Sergipe, Pará e Rondônia. Rio de Janeiro, o segundo estado com mais casos de covid-19 no país, atrás de São Paulo, foi avaliado como ‘bom” em relação à divulgação de dados sobre a doença.

Pernambuco é exemplo de transparência

Pernambuco é o único que se destaca pela transparência, segundo o relatório. “O estado adota algumas boas práticas que outros estados podem seguir. Divulga uma base de dados detalhada por caso. É possível saber a idade, sexo e condição de hospitalização”, explica Campagnucci.

“A transparência é fundamental para o combate da pandemia”, afirma José Luis de Lima Filho, diretor do laboratório de Imunopatologia Keizo Asami da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), responsável pelo monitoramento dos casos em tempo real no estado.

Lima Filho diz que a clareza das informações em torno da covid-19 é importante não só para gestores, mas também para a população. “Quando se sabe precisamente como a doença acomete as pessoas, gestores têm mais condições de planejar a resposta. E a população, quando vê os números reais, entende a seriedade da pandemia”, complementa o pesquisador.

Um dos riscos da falta de transparência, considera Lima Filho, é uma percepção distorcida sobre riscos da covid-19 por parte da sociedade. “Quando falta transparência, as pessoas acham que os casos não estão aumentando. Mas eles estão. Por isso, todos precisam seguir as recomendações de isolamento social, que é para diminuir a velocidade da contaminação”, alega.

O detalhamento dos dados por fontes oficiais também é vital para as pesquisas que tentam projetar o alcance da doença. Sem essa precisão, o trabalho feito por Sílvio Ferreira, professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) que tenta prever a propagação da epidemia pelo país, fica mais difícil.

“É crucial que tenhamos detalhes precisos, como número de casos por municípios, para que a projeção seja a mais real possível”, afirma Ferreira. A simulação feita pela equipe dele usa usa um modelo matemático para projetar como pessoas que se deslocam entre cidades para trabalhar e estudar podem espalhar a doença. “A notificação mal feita compromete muito a análise que a gente faz”, complementa.

Até a tarde desta sexta-feira, o Brasil registrou oficialmente 7.910 casos da doença, com 299 mortes, segundo o Ministério da Saúde. São Paulo contabilizou 3.506 infecções, seguido por 992 no Rio de Janeiro