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Ruy Castro

09/03/2020
Ruy Castro

Quem se acostumou com os artigos  de Ruy Castro na Folha não há de ter estranhado a beleza do seu estilo exuberante no livro “Um mineiro à beira-mar”, há pouco lançado pela Companhia das Letras.  Leitura rica e agradável, certamente repetirá o êxito literário e de público dos seus sucessos anteriores, quando focalizou a vida de Nelson Rodrigues(92), Garrincha(95) e Carmen Miranda (2005).  Desta feita, o foco foi o Rio dos anos 20, com todo o seu enredo de atrações.

Mineiro de Caratinga, mas carioca por afeição, conheço bem a sua linda trajetória. Convivemos nos tempos gloriosos da revisa Manchete, da qual ele foi um dos principais repórteres de uma equipe famosa.  Chegou agora ao seu livro mais difícil, quando teve que reconstruir uma cidade, bairro a bairro, rua a rua, lugar por lugar, com centenas de minibiografias.

São deliciosas as suas descrições do carnaval carioca, o que representou Sinhô para o nosso samba, as repercussões da Semana de Arte Moderna e dos mitos que a compuseram, como o inesquecível pintor Di Cavalcanti.  Na época, acontecia de tudo. Era uma cidade em convulsão na imprensa, na literatura, na música popular, na ópera, no teatro, nas artes plásticas, no cinema, na caricatura, na praia, na ciência, na arquitetura, no futebol, na luta das mulheres, no sexo e nas drogas.  O Rio era sinônimo de arrojo e de vanguarda.  É essa capital fervilhante a protagonista desse novo livro.

Na obra, há várias referências à Academia Brasileira de Letras, a partir do célebre discurso de Graça Aranha, intitulado “O espírito moderno”.  Embora pertencente aos seus quadros, Graça Aranha afirmou ser ela “uma reunião de espectros”.  Pregava a sua ampla renovação.

Em outro momento, Ruy Castro focaliza a vida do artista gráfico J. Carlos, que trabalhava para o Malho, Tico-Tico e  Para Todos.  Era uma figura talentosa, que marcou época, e que viveu seus últimos dias na cidade fluminense de Petrópolis.

Sem ter personagens vivos desse tempo  aos quais recorrer para entrevistas(como pôde fazer  nos livros anteriores), Ruy mergulhou em leituras e muita pesquisa.  Foram quatro anos percorrendo, sobretudo, a imprensa, os romances e as crônicas escritas por personagens que, fora alguns, como João do Rio, caíram no esquecimento.  Graças a Ruy Castro, pôde-se registrar o alto apreço da colônia portuguesa pelo que representava João do Rio para a sociedade da época, como também outros escritores e jornalistas como Théo Filho, Benjamin Costallat e Álvaro Moreyra.