Desde cedo, quando ainda frequentava o  Colégio Vera Cruz, na Tijuca, tinha predileção pela leitura de livros e revistas.  Os meus irmãos mais velhos eram  habituais fornecedores de publicações para os irmãos mais novos.  Assim, tive acesso à revista “Eu sei tudo” e à  famosa “Tico-Tico”, de que me tornei mais tarde colecionador (comprei 1.500 exemplares da mesma).

Agora, estou sabendo que o meu primo, engenheiro Sérgio Niskier, está fazendo o curso de Design Thinking, o que se encontra bem na moda.  Sua preocupação é saudável: quer tornar a leitura de livros algo mais intenso, natural e prazeroso  no Brasil, com a criação de círculos de leitura, utilizando a experiência de alunos de literatura de todo o país.  “Assim como temos estagiários de medicina, queremos fazer o mesmo na valorização do livro como instrumento de cultura”,  diz ele.

Num país que tem 14 milhões de analfabetos, é certo que há quase 200 milhões que fazem algum tipo de leitura, nos 5.500 municípios.  Se iniciativas assim ganharem corpo, pode ser que o índice de leitura aumente em progressão exponencial.  É claro que existe um obstáculo, que é o preço do livro.  Ele é caro, para a maioria pobre de nossa população.  Aí entra o governo, com os seus mecanismos de incentivo, a partir do livro didático, que não pode ser desprezado.  O MEC contingenciou as verbas de apoio aos livros didáticos, o que é uma decisão na verdade lamentável.  A partir  do livro didático, os alunos podem tomar gosto pela figura desse poderoso instrumento de cultura, mas zerando o processo como esperar que as coisas progridam, nesse campo?

Não se pode afirmar que não existe apreço pelo livro.  Veja-se  o que ocorre nas bienais, com milhares de jovens comparecendo às suas realizações.  No nosso caso, temos o sucesso das “Cirandas dos autores” (antigas maratonas escolares), patrocinadas pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.  Este ano, o autor homenageado foi Monteiro Lobato, o maior nome de nossa literatura infantil.  As palestras, nas escolas públicas, como a que realizamos na Escola de Formação Paulo Freire, com cerca de 300 alunos presentes, são uma prova de que existe um caminho a ser percorrido.  Eles escreverão sobre o autor de “Reinações de Narizinho”, concorrendo a prêmios valiosos que serão distribuídos na Academia Brasileira de Letras.

Aliás, sobre Lobato, com a liberação dos seus direitos autorais, grandes intelectuais brasileiros, como Walcyr Carrasco, começam a lançar livros adaptados dos heróis lobatianos – e com isso ganha a nossa literatura.

A leitura de livros é um fenômeno cultural de que não se pode e nem se deve abrir mão.  Com a modernidade chegando na versão web ou com o poderoso podcast, hoje em pleno viço, temos mais é que prestigiar iniciativas nesse sentido, que serão sempre muito bem-vindos.