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18ª edição do ‘Bloco do Bôbo’ arrasta multidão no carnaval da rua Sol Nascente, periferia de Maceió

Uma experiência democrática, uma comemoração dos 18 anos de cultura popular no famoso Carnaval da rua do Sol Nascente. Um local onde todo o povo, de todas as idades e cores, estava presente. Era festejo de uma multidão da própria comunidade, que se ajudou para fazer a festa acontecer. O Bloco do Bôbo mostrou muita coragem, invocando a essência do Carnaval, da folia e o pé sempre no frevo.
O Bloco do Bôbo animou o sábado (22), dia de Zé Pereira, nos bairros Bom Parto e Vila Brejal, na periferia de Maceió. Às 14h já tinha gente na concentração e as ruas, mesmo com pouca estrutura e poças de lama, estavam tomadas de irmãos e irmãs da alegria. A banda de frevo chegou primeiro para afinar os instrumentos e deixá-los com a sinfonia mais perfeita possível para a grande festa.
A produtora cultural e assessora de comunicação, Keka Rabelo, estava presente do início ao fim do bloco. De acordo com ela, fazer o Carnaval tem a ver com militância no campo da memória: “ O papel fundamental da comunicação é registrar esses bens culturais que sobrevivem ao tempo”, afirmou.
Crianças e adultos brincaram de mela-mela, alguns utilizaram maizena para sujar um ao outro, e outras pessoas apenas riam de muita felicidade. O som dos instrumentos conduzia o povo pelas ruas.
Aberto ao público, o bloco começou às 16h, com a brincadeira do Bôbo, Orquestra Amigos do Frevo, Oz Deuzes do Gueto e Boi Pacato Rei. Considerada uma das periferias de Maceió, Bom Parto e Brejal foram algumas das localidades que receberam o êxodo de comunidades quilombolas do agreste alagoano. E por isso, há uma relação do bloco com a ancestralidade negra.
O fotógrafo, professor e artista, Jadir Pereira, também estava na folia junto à comunidade e capturou momentos essenciais do Carnaval tradicional daquela região. Segundo ele, o Carnaval do Bom Parto é um Carnaval que é realmente do povo, é um Carnaval que demonstra toda a força que o povo tem – uma força democrática.
“O Carnaval é essa fusão da cultura do campo, onde festejam a colheita, ao mesmo tempo que também transitam na cidade. A grande festa é pra celebrar o ano, a alegria do riso. O riso tem o poder de afastar os males, o que tem de pior no Brasil atualmente. Tentei capturar o riso, a alegria do povo. O riso tem o poder de derrubar governos autoritários e quanto mais autoritário é o governo, maior é a gargalhada do povo”, declarou Jadir.
Para ele, a arte é a arte do povo, é a própria população que produz cultura, e o Bom Parto é um dos bairros que tem uma população negra, onde tem uma maior concentração de pessoas de baixa renda.
“Mesmo com todos os problemas de infraestrutura, a falta do poder público naquela região, eles ainda continuam produzindo arte, produzindo cultura para a comunidade. Não sou morador do Bom Parto, mas me acolheram. Existe essa generosidade entre aqueles que moram na comunidade. Os moradores são fundamentais para tudo isso acontecer, além de toda a produção também”, completou.
“A partir de agora não sou mais eu”
É com essa frase que o artista Antônio Severino interpreta o Bôbo há anos e é inspiração para toda a comunidade, além de ser ele quem também confecciona a fantasia do personagem. Após a famosa frase, começa a transformação e a brincadeira de Carnaval. A figura do Bôbo é a transfiguração do Carnaval tradicional, representada pelo cidadão que está por trás da máscara, e antes disso há toda uma preparação.
Há uma espécie de transe, outra identidade é vista: o sagrado e o profano interligados. Naquele momento, o artista está conectado a outras naturezas e energias. Existe o êxtase, a euforia, cada qual com a sua alegria, e as pessoas são conectadas a isso.
O produtor cultural e um dos organizadores do evento, Rogério Dyaz, declarou que há um elo entre as pessoas do bloco, que é o momento onde a comunidade trabalha em equipe e que há toda uma cadeia produtiva para a execução.
“Tem o pessoal que faz a roupa, o pessoal que faz a marcenaria, o Boi… Tem também o pessoal que vende bebida, faz as batidas, organiza o carro para levar as coisas. Tem o pessoal que faz o lanche, pois é algo comunitário, colaborativo. É bonito de ver a alegria da comunidade. As crianças também aprendem a fazer as coisas. Tudo isso já ganhou a sua própria forma de existência”, disse Dyaz.
Desde 2002 que o Bloco do Bôbo anima o Bom Parto e a Vila Brejal, fazendo com que a alegria do Carnaval não passe em branco para os foliões que ajudam a organizar e a fazer a festa com o cortejo que segue pelas ruas locais. O bloco tem a realização do Instituto Quintal Cultural, que promove a integração social e cultural no bairro do Bom Parto.
Nesta edição a camisa do bloco é uma referência à bandeira Wiphala, em solidariedade aos povos das florestas, em especial, ao Povo Originário da Cordilheira dos Andes que foi golpeado e é vítima de fundamentalistas religiosos que atacam a cultura indígena e queimaram sua bandeira. O que aconteceu na Bolívia é o mesmo que está se passando no Brasil. Dos Povos das Lagoas ao Povos das Florestas, somos todas e todos Resistência e Luta em Defesa de nossa Cultura Ancestral.
Carnavais de Maceió
O Bloco do Bôbo sempre esteve presente na cultura popular das periferias de Maceió, e sempre participou da programação do Carnaval. Ele é bem famoso na região, e todo ano anima muitos foliões. Este ano o mascote do Pinto da Madrugada, um dos blocos principais do Carnaval da capital alagoana, participou da brincadeira do Bôbo.
O coordenador do Pinto também estava no local e, segundo Dyaz, isso é interessante porque mostra a força do Carnaval popular; mostra o diálogo do Carnaval na comunidade com quem faz Carnaval na cidade.
“A gente estabelece uma relação com o Carnaval no futuro; a partir de um contato como esse cria-se laços e conflitos que são narrativas, discursos, classe, cidade.. sem esse contato não tensiona o debate. É importante porque provoca uma discussão do que é o Carnaval”, disse Dyaz.
O coordenador do Pinto da Madrugada fez uma visita ao bloco, o que representou um momento histórico para a comunidade. Rogério Dyaz conta que, da parte do coordenador, houve uma visita em outro tipo de geografia, uma percepção da cidade de um outro modo. “É um encontro histórico e só foi o começo de um grande debate para pensar em um grande projeto para o Carnaval de Maceió”, completou Dyaz.
Com a realização do Instituto Quintal Cultural, contemplado no Edital do Carnaval 2020 da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac) e Secretaria do Estado da Cultura de Alagoas (Secult), o Bloco do Bôbo tem o apoio cultural do Instituto Arte Mambembe, Sururu da Lama, Pitu e do Vereador Lobão. Assessoria de comunicação: Keka Rabelo.
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