Alagoas
Governo destina R$ 200 mil para combate ao derramamento de óleo no litoral alagoano
O Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeal), informa que serão destinados R$ 200 mil, em caráter emergencial e em recursos próprios, para projeto de combate ao derramamento de óleo no litoral alagoano. A notícia foi divulgada na tarde da terça-feira (11), em reunião na sede da Fapeal, onde também foi assinado o termo de outorga. Representantes que integram a força-tarefa, montada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e que visa monitorar os motivos do vazamento, também estiveram presentes.
Na ocasião, o diretor-presidente da Fapeal, professor Fábio Guedes Gomes, explicou que a liberação desses recursos teve o apoio do governador Renan Filho. “Sabendo da necessidade emergencial para adquirir equipamentos, conversamos com o governador e resolvemos, de forma emergencial, abrir um termo de outorga, com um valor de recursos que ele abriu mão de colocar em outra área, para aportar na Fapeal e conseguir dar uma alavancada no trabalho de vocês”, disse.
Guedes comentou, ainda, que Renan Filho determinou que a Fapeal não poupasse esforços no apoio a este trabalho no litoral alagoano. “O governador determinou à Fapeal que empreendesse esforços para articular o apoio necessário na viabilização de projetos de pesquisa que possam monitorar, avaliar e mitigar as consequências do derramamento de óleo na costa de Alagoas, se juntando aos esforços já realizados pelo Governo de Alagoas ao lado de outros da região Nordeste, além de várias instituições, prefeituras, órgãos de estado, organizações não-governamentais e universidades”, informou.
O recurso destinado pelo Governo de Alagoas será investido em pesquisas que abordarão temas como investigação do óleo coletado; tratamento e destinação deste óleo; monitoramento da água, da fauna nas faixas de praia e recifes; qualidade do pescado, além de aspectos socioeconômicos.
Em paralelo, de acordo com Fábio Guedes, seguirão sendo feitas articulações com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com a participação direta das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa do Nordeste, para uma chamada ampla no início de 2020. “Alagoas tem sido reconhecida nacionalmente pela eficiência e competência na remoção do óleo em nossas praias e acomodação do material”, completou o presidente da Fapeal.
A reitora da Ufal, Valéria Correia, parabenizou a Fapeal pela resposta tão rápida à solicitação dos pesquisadores da Universidade, agradeceu a todos os envolvidos e destacou a importância da liberação dos recursos. “É muito importante esse compromisso do Estado conosco. A minha intervenção aqui é no sentido de agradecer, parabenizar e dizer que é somando forças que a Universidade existe. Nossos pesquisadores se articulam para enfrentar grandes desafios e esse é mais um deles. Eu não tenho dúvidas de que temos toda a capacidade e expertise de colaborar”, salientou.
A coordenação dos trabalhos ficará a cargo da professora do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Ufal e membro da Associação Brasileira de Ciências (ABC), Marília Goulart, que se revelou emocionada em contribuir com este projeto. “Eu estou me sentindo muito viva nesse momento, que é muito especial, mesmo para mim com 45 anos de universidade, esse é um momento que me toca. Parabenizo à Ufal, à Fapeal e a vocês do governo por terem conseguido esse dinheiro nesse momento. A Ufal mostrará a importância dela, estamos precisando disso. É no momento que a Universidade está sendo desacreditada que ela mostra o seu papel. Não agradecemos o óleo derramado, mas foi um momento muito especial.”
“Alagoas deu a melhor resposta”
Também presente à reunião, o presidente do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL), Gustavo Lopes, destacou o empenho do Estado em contribuir com os trabalhos de investigação quanto ao vazamento de óleo. “A gente está nessa luta desde o começo desse desastre ambiental e Alagoas foi bastante atingida. Chegamos a ter 61 máquinas, dentre tratores, caminhonetes e caminhões; compramos mais de 9 mil em peças de EPI [Equipamento de Proteção Individual], pois, semana passada, chegaram 100 pessoas do Exército e da Marinha sem esses equipamentos e já chegamos a 2.200 toneladas de resíduo contaminado, que seriam areia e sargaço, que foram enviadas para um aterro. O Estado já vai em torno de 4 milhões de custos com essa ação emergencial”, explicou.
Ele revelou também que os números foram levados para a reunião de governadores do Nordeste, realizada em Pernambuco, que Alagoas foi o Estado que deu a melhor resposta. “A gente não sabe dizer ainda se é por que combateu mais ou por ter sido o estado mais atingido. Agora essas pesquisas vêm para a gente adentrar mais ao mar e ver como foi a ação dessa degradação na fauna, na flora, na vida marinha, por isso a importância da liberação desses recursos”, disse Gustavo.
Já o pesquisador Emerson Soares revelou que tem uma equipe trabalhando desde o mês de setembro na coleta de dados mesmo em meio às dificuldades financeiras, mas que a partir de agora, a força-tarefa terá ainda mais condições de responder às dúvidas de toda a sociedade. “Um repórter do Estadão me ligou e também disse que, dos estados que vinha consultando, Alagoas é o que está mais bem preparado em resposta e em atuação. Isso é importante porque mostra o nosso cuidado enquanto instituição e enquanto governo também”, frisou.
União entre ciência e recursos financeiros vai trazer resultados
Ainda durante a reunião, a professora Marília Goulart falou sobre a importância dos recursos para o desempenho do projeto e reforçou que a Fapeal foi bastante importante nessa conquista. “Temos que dar todos os parabéns para a Fapeal e ao governo do Estado por essa liberação. Vamos coordenar todas as ações, já definimos atividades, os atores e a cobrança sobre eles. Então, vamos estar aí para organizar e obter essas informações, consolidar elas e, quando possível, passaremos para a sociedade”, disse.
Ela destacou as habilidades da equipe que integra a força-tarefa e a união entre a ciência e o fomento que, juntos, vão trazer respostas à sociedade. “Temos uma equipe muito boa, com habilidades diversas e pesquisadores das mais diversas áreas pensando em conjunto no problema que é de alta complexidade, mas vivemos uma crise. A Universidade em crise, a ciência e a tecnologia em crise, inclusive, de reconhecimento. Esse dinheiro é muito bem-vindo e vai permitir que ações concretas sejam feitas para que a população possa ter parte das respostas que precisa em relação a esse problema.”
A pesquisadora apontou ainda que dessa iniciativa pode surgir um projeto de pesquisa de onde podem sair doutores, a quem chamou de “massa crítica”. “Se nós não tivéssemos a massa crítica, não adiantaria nada o dinheiro. Ele tem que estar junto com o cérebro e a ciência pode ter isso. A gente sente que quando uma coisa é bem feita tudo age para que elas aconteçam, eu acredito nisso em termos científicos. E esse é o momento. Espero que a gente tenha sucesso e vai ter, pois as pessoas estão muito certas de realizar. E eles vão realizar com rigor e responsabilidade agora que tem recursos humanos e recursos financeiros”, comemorou.
Próximos passos e apoio dos voluntários
Marília, que vai coordenar os trabalhos, listou ainda algumas ações de destaque para os próximos passos da força-tarefa. “Primeiro, a coleta da água e do pescado para ver o grau de contaminação dessa água, dos sedimentos e do alimento, pois isso é uma questão de segurança – dos alimentos e da população que o consome. Essas são respostas mais imediatas que a população quer. Outra seria o destino do óleo, o que fazer com esse óleo acumulado? Isso também é uma ação precisa, pragmática, que temos professores trabalhando nisso porque o problema é inédito.”
A professora também comentou sobre o apoio dos voluntários. Para ela, essa parceria é muito interessante e deve promover uma mudança radical. “É genial o que está acontecendo, em termos dos voluntários. É o contato da população com o problema, com os cientistas, e eles estão sentindo na pele o problema e agindo também. E é a hora de eles aprenderem também. Tem uma chance enorme de sermos educadores e de termos a troca como nos livros do nosso querido Guimarães Rosa, que sabe da beleza e da força da ciência não formal do sertanejo, da pessoa do litoral, junto com educação formal. Então é muito interessante todo esse processo, uma via de mão-dupla”, concluiu Marília Goulart.
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