Alagoas
Arquivo Público de Alagoas preserva 3 milhões de memórias do povo alagoano
Fotografias, mapas, jornais, cartões postais e uma gama de documentos compõem as memórias e registros do povo alagoano, armazenados no Arquivo Público de Alagoas (APA), órgão vinculado ao Gabinete Civil. Uma das mais importantes instituições públicas do Estado, o Arquivo Público é responsável por resguardar e preservar a reminiscência administrativa e histórica da população.
Os documentos abrigados pelo APA ocupam um dos armazéns antes pertencente à Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), no bairro do Jaraguá, em Maceió. Com salas modernas e ambientes climatizados, o Arquivo oferece aos diversos públicos, especialistas e curiosos, o direito à informação histórica, cultural e social não somente de Alagoas, como também de todo o país.
“O Arquivo Público de Alagoas é fundamental para a preservação da memória do estado. É preciso reunir todos os arquivos que o tempo deixou, porque agora é o povo que se torna dono de tudo isso”, declara Wilma Nóbrega, superintendente do órgão, graduada em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Federal da Paraíba.
Com a temperatura monitorada e mantida em 25° e a umidade em até 60°, os 3 milhões de arquivos, datados do ano de 1711 em diante, do Império à República, são entregues aos cuidados do funcionário Fernando Alberto, responsável pelo cadastro e higienização dos documentos. “Trabalhar com livros, fotografias, documentos que contam uma história acaba me enriquecendo. É um trabalho muito puxado, mas é gratificante”, afirma Fernando. Ele ainda aproveita para auxiliar e aprender novas técnicas, como a restauração dos registros danificados.
Na sala de restauração é onde a verdadeira mágica acontece. Lombadas de livros, páginas corroídas por insetos e fungos, desgaste de tintas e documentos deteriorados, que pelo senso comum seriam descartados, são reconstruídos e prolongam seu tempo de serviço à sociedade.
A mais nova pretensão do APA é a digitalização de todo seu acervo para acompanhar as mudanças tecnológicas e também tornar o acesso ainda mais democrático. “É nosso dever disponibilizar todo o material em diversos formatos, inclusive no digital. O Governo do Estado, através do Gabinete Civil, que está sempre nos apoiando, está analisando a possibilidade de parceria com uma empresa que digitalize o acervo”, contou a superintendente do órgão, Wilma Nóbrega.
Sob a gestão de Wilma, diversos projetos estão sendo realizados, como o evento cultural Chá de Memória e o projeto Memória Reveladas, que permite à sociedade o acesso a fontes, antes sigilosas, do período da Ditadura Militar, além de todo o material da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) digitalizado e disponível no Arquivo Nacional. Também foi criado o Fundo do Governo do Estado de Alagoas para comportar todas as mensagens, decretos, leis e outros documentos administrativos dos governos estaduais de 1912 até os dias atuais.
O Arquivo Público de Alagoas é o órgão central responsável pelo Sistema Estadual de Arquivos, que tem como finalidade implementar a política de gestão documental para a construção do acervo do patrimônio arquivista do Governo. Por meio de visitas técnicas às instalações dos registros de cada secretaria do Estado, o APA ministra cursos para dar suporte ao Sistema, com orientações sobre organização e preservação.
Aproximação com a população
Nessa gestão, o Arquivo se consolidou como equipamento próximo da sociedade, ao criar propostas inovadoras e expandir as ações, como o já tradicional Chá de Memória, projeto cultural que contabiliza 30 edições até o momento e promove o debate de temas relevantes para os alagoanos.
Como todo projeto de sucesso, o evento acabou se espalhando para outras cidades do estado. Quatro municípios, além da capital, já têm formalmente seus próprios Arquivos Públicos Municipais e realizam os Chás de Memórias em suas comunidades. São José da Laje conseguiu colocar o evento no calendário local, realizando 16 edições. Penedo, Coruripe e Ibateguara também movimentam as cidades com o evento cultural, aceito com muito carinho pela população e incentivado pelas grandes personalidades das regiões.
As novidades e pedidos não param de bater nos portões do Arquivo. Recentemente a Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, solicitou autorização para usar cinco imagens do catálogo de fotografias de Luiz Lavenére – negativos de vidro únicos que foram lançados em dezembro de 2018 – para compor a exposição Cartas de Oswaldo Cruz, que passou por Maceió no início do século, em 1905.
Legado de Moacir Sant’Ana
No entanto, essa quantidade de realizações do Arquivo Público de Alagoas, que beneficia a sociedade, não data da fundação do órgão. Em tempos remotos, o historiador, escritor e fundador do órgão, Moacir Medeiros Sant’Ana foi pioneiro na luta contra os descasos com os arquivos públicos, que ficavam abrigados nos porões do Palácio Floriano Peixoto, encobertos por poeira e se desgastando a cada dia.
“Outro Moacir Sant’Ana em Alagoas só daqui a 200 anos”, afirma o historiador Messias de Caldeira, que trabalhou no Arquivo Público de 1978 até 2007. Messias hoje trabalha voluntariamente no APA, por paixão e companheirismo com a pequena, mas eficiente, equipe do Arquivo.
Moacir e Messias estiveram juntos quando ocorreu a invasão do Palacete Barão de Jaraguá, onde funciona a Biblioteca Pública Graciliano Ramos, pelos militares em 17 de julho de 1997, com a renúncia do então governador Divaldo Suruagy. “Eles (os militares) destelharam o teto para poder se abrigar, e justamente nesta noite choveu e molhou muitas caixas repletas de documentos do APA, que na época dividia espaço com a biblioteca”, relembra Messias Caldeira.
Wilma Nóbrega, também reflete sobre os tempos de trabalho ao lado de Moacir Sant’Ana, enquanto era gestora da Biblioteca Pública Estadual, no período de 1995 a 2006. “Nós chorávamos e riamos diante das situações que surgiam. Trabalhar ao lado dele foi uma experiência muito rica. Moacir me ensinou que o meu trabalho é mais do que minha obrigação profissional, é meu dever. Como cidadã alagoana, preciso zelar pela memória do meu povo”, relata.
Em dezembro do ano passado, o APA recebeu, como comemoração ao aniversário de 57 anos, mais mil títulos da coleção particular do fundador do órgão. Como forma de agradecimento e homenagem, dois projetos estão em andamento: a construção de um anexo para expor o acervo particular doado e a confecção da mascote “Moacirzinho”.
O Moacirzinho será atração para as crianças e jovens que visitam o Arquivo Público em excursões vindas das escolas públicas e privadas alagoanas. A mascote vai guiar as crianças através do tempo contando como tudo começou e quais procedimentos são realizados para manter a história de Alagoas resguardada.
“Isso vai instigar o conhecimento sobre a nossa terra, vai permitir ainda mais acesso à informação”, afirma Wellington Gomes, graduado e mestre em História, que já trabalhou como bolsista no APA e hoje realiza pesquisas no Arquivo sobre a história da escravidão africana em Alagoas.
Wellington Gomes foi um dos vencedores do Concurso de Monografias do APA, ganhando a publicação em livro de seu Trabalho de Conclusão de Curso. O concurso é uma forma de estimular a pesquisa no próprio órgão. A 3ª edição, que abrirá inscrições em junho, trará novidades sobre os trabalhos.
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