Variedades
Ester Laccava encara a livre poesia de mulheres em ‘Ossada’
É iluminado por fagulhas que o rosto de Ester Laccava surge na cena, enquanto tenta acender um cigarro com a ajuda de pederneiras. Em cartaz no Sesc Pompeia, Ossada, solo da atriz, é um projeto inspirado em textos de Maureen Lipman, Wislawa Szymborska e Laurie Anderson. A reunião de poemas e histórias une a vida de cinco mulheres em situação decisivas, como relatos de abusos familiares ou a morte do pai, até as mais sórdidas, como o cigarro que nunca acende.
Até aqui, a montagem teria todas as características para ser mais uma peça em que uma atriz experiente demonstra suas ferramentas ao público. Mas Ester preferiu não fazer isso pela via óbvia. Ao contrário de escolher um diretor ou diretora mais tradicional, que pudesse compartilhar propostas de interpretação, a atriz escolheu assinar a criação do espetáculo com Aline Santini e Mirella Brandi, nomes das artes cênicas na criação de luz. “No meu trabalho como iluminadora, matéria não é a principal investigação da cena”, indica Aline. “Uma das características mais interessantes é que a luz é e não é. O que se torna um desafio ao pensar, agora, o conjunto.”
Diante de uma enxurrada de novos textos e novos autores na capital, Ester explica que o espetáculo nasce do intuito de despertar os sentidos do público para a poesia das autoras. “Eu estou velha e quero meu cavalo solto”, cita a fala de uma delas.
Como exemplo, a atriz lembra de uma cena que explica o nascimento das coisas. “Uma cotovia perdeu o pai e, para não abandoná-lo, enterra o genitor na nuca. Assim nasceu a memória”, conta a atriz. Os textos que fornecem material criativo para o trabalho podem ser encontrados em diferentes obras. O livro I Must Collect Myself, de Maurren, traz monólogos inspirados na vida da autora. De Wislawa, seu livro de poemas foi publicado pela editora Companhia das Letras.
Nesse campo aberto de ideias aliado à força concreta de Aline e Mirella, Ester afirma que busca nas palavras sensações que se tornaram raras nos palcos contemporâneos. “Há uma grande objetividade e impulso de explicar o mundo. Nesse trabalho, sigo um caminho de trazer a relevância para o espanto, mesmo que para isso tenhamos que suspender as palavras.”
No palco do Sesc, o público entra em um ambiente semelhante a um museu de história natural. Há uma exposição organizada com obras guardadas por vidros. Em cada totem, um conjunto de ossadas reais de caprinos trazidas do Nordeste pela produção – a identificação do animal é necessária, uma vez que, por lei, ossos de animais silvestres não poderiam ser utilizados.
OSSADA
Sesc Pompeia. R. Clelia, 96.
Tel.: 3871-7700. 5ª, 6ª e
sáb., 21h30; dom., 18h30.
R$ 20 / R$ 10. Até 3/2.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Leandro Nunes
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