Variedades
Sob o signo do Sol
No ano que comemora os 30 anos de carreira, a atriz Adriana Esteves fala sobre mais uma vilã em seu currículo (Laureta, da novela Segundo Sol) e outros papeis importantes em filmes e série
Em 2015, assim que terminou a novela Babilônia, de Gilberto Braga, Adriana Esteves tinha decidido que tiraria férias prolongadas, pois estava exausta por emendar vários trabalhos, especialmente por ter vivido Carminha, vilã de Avenida Brasil (2012), um de seus papéis mais importantes. Foi quando recebeu o roteiro do filme Canastra Suja, de Caio Sóh, que esteve em cartaz recentemente. “Quando li o roteiro, não pensei duas vezes. Já entrei em contato com o diretor e embarguei naquela linda jornada.”
Agora, na reta final da novela Segundo Sol, a atriz vai fazer o que planejou em 2015: tirar as tão aguardadas férias ao lado do marido, o ator Vladimir Brichta, e dos filhos, como conta nesta entrevista ao Estado. Foi um ano particularmente feliz na carreira de Adriana que, além de Canastra Suja, também esteve em cartaz no longa Benzinho, de Gustavo Pizzi, que lhe deu o prêmio de atriz coadjuvante no Festival de Gramado, e também em uma série de streaming da Globo, Assédio.
Quem quiser vê-la na tela em 2019, agora só revendo seus trabalhos anteriores, em novelas ou filmes, ou aguardar pela estreia do ator Wagner Moura como diretor, em Marighella. No longa, Adriana faz uma participação como esposa do guerrilheiro, morto pela ditadura, em 1969, Clara Charf. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Em 1988, você fez uma participação na novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, da Globo. Foi seu início, no papel de uma modelo, profissão que você exercia na época. São 30 anos de carreira, fazendo personagens como mulheres fortes, ingênuas, más, inconsequentes, contraditórias, etc. Como você analisa essas três décadas de carreira?
Como em qualquer outra profissão, é possível crescer junto com o amadurecimento pessoal. Então, ali, naquela participação em Vale Tudo, em que fazia uma modelo de agência, eu de fato exercia aquela profissão. Não era atriz ainda, não sabia o que seria a loucura desse meu ofício. Não tinha ideia do que ia acontecer na minha vida profissional.
Um dos momentos mais difíceis da sua carreira foi quando você interpretou a personagem Marina, na novela Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, em 1993. Durante a novela, seu trabalho foi duramente criticado ao ponto de você chegar a duvidar se realmente tinha escolhido a profissão certa. Foi teu momento mais difícil?
Foi. Aquilo tudo me abalou muito. Mas eu era muito jovem, tinha 23 anos. Acredito que, se fosse mais velha na época, eu teria enfrentado melhor tudo aquilo. Agora, olhando de longe, sem colocar tudo na conta da minha falta de experiência e imaturidade, houve um certo bullying, sim. Naquele momento, havia uma vontade de falar mal de alguém e eu fui escolhida. Só que dei muito valor àquilo. Hoje, eu seria mais bem assessorada pela família, pelos amigos e por profissionais. Isso não aconteceria mais.
Por conta das críticas em Renascer, você entrou em depressão e se afastou da televisão por quase dois anos. A sua volta por cima se deu com Sandrinha em Torre de Babel?
Sim. Sandrinha foi um personagem que me deu muito prazer. Ela foi uma semente das minhas vilãs Carminha (de Avenida Brasil) e Laureta (Segundo Sol).
Você acredita que essas personagens vilãs são meramente mulheres más?
Considero essas vilãs, antes de qualquer coisa, mulheres. E, dentro desse universo de mulheres, pode acontecer tudo, inclusive as maldades.
Carminha, de Avenida Brasil, marcou muito sua carreira. Como foi voltar a fazer outra vilã, Laureta, numa novela do mesmo autor, João Emanuel Carneiro? Foi difícil compor outra vilã do autor? Qual o balanço que você faz da novela?
Não vou dizer que é fácil, claro que não, é muito difícil. Toda vez que vou fazer um personagem novo, estudo muito e, para caracterizá-lo, passo a enxergar o mundo sob a ótica dele. Mas, depois que você começa a fazer – e isso é uma delícia em trabalhar em novelas -, tudo o que você estudou, pensou, se envolveu, consegue por em prática, inclusive aprimorando e ajustando o personagem. Ao comparar o trabalho no início da novela e depois perto do final, é impressionante como é diferente. Como tudo muda na composição desse personagem. No início, há um esboço que vai se desenhando melhor no decorrer da novela. Pelo menos, é assim comigo. Foi uma novela linda de fazer, trabalhar com pessoas incríveis como as que encontrei em Segundo Sol, elenco admirável e profissionais de todas as áreas super talentosos e queridos. Foi um maior astral. Literalmente um sol!
Você é uma mulher libertária?
Sou (risos). Uma mulher libertária (mais risos). Estou lutando para continuar sendo.
Você e Vladimir têm algum projeto juntos para depois da novela, ou algum outro projeto?
No momento, não. Só pensamos em uma única coisa: assim que acabar a novela, vamos tirar férias juntos pela primeira vez (risos). Bem longas. Nenhum projeto futuro fechado.
Quando foi que, ao longo desses 30 anos de carreira, você descobriu que seria atriz?
Foi logo no início mesmo, quando tive a primeira oportunidade de atuar, na novela Top Model, em 1989. Nessa novela, soube que queria seguir pelo resto da vida essa carreira. Na época, eu também cursava Comunicação, mas queria muito largar. No entanto, terminei a faculdade, porque minha mãe me pediu que eu lhe desse esse presente: ela sonhava com uma filha formada, assim, devo isso à minha mãe.
Autor: Amilton Pinheiro, especial para o Estado
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