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Claude Lanzmann foi o grande cineasta do Holocausto
Em janeiro deste ano, a Universidade Yale, nos Estados Unidos, comprou as mais de 100 cartas de amor que Simone de Beauvoir escreveu a seu jovem amante, Claude Lanzmann. Ele protestou – “Essas cartas interessavam somente a nós.” Em Cannes, em maio, já se comentava que ele estava com a saúde debilitada. Nesta manhã, 5 de julho, Claude Lanzmann morreu em sua residência. “Estava com a saúde muito, muito frágil”, informou, num comunicado sua editora, a Gallimard.
Lanzmann nasceu em Bois-Colombe, em 27 de novembro de 1925. Antes dos 30, já estava em Paris, frequentando os meios intelectuais. Trabalhou na revista Temps Moderns e foi secretário de Jean-Paul Sartre. Por sete anos, viveu uma intensa relação com Simone, quase 20 anos mais velha. Pelas cartas, é evidente que a diferença de idade nunca foi um problema. Lanzmann não foi pioneiro na abordagem no Holocausto, mas, em seu documentário mais conhecido e famoso, “Shoah”, com mais de 9 horas de duração, conseguiu mostrar imagens nunca antes divulgadas dos campos de extermínio – Treblinka, Sobibor, Auschwitz. Filmou do ponto de vista das vítimas e também dos alemães, que negavam sua responsabilidade.
Antes dele, no começo dos anos 1970, Marcel Ophuls já fizera Le Chagrin et la Pitié, justamente abordando a responsabilidade dos franceses durante a ocupação. Centrado na cidade de Clermont-Ferrand, o filme em preto e branco, e com mais de 4 horas, é feito de imagens de época, sem entrevistas nem comentários, mas que mostram claramente o colaboracionismo dos habitantes com os alemães. Numa rara entrevista, o entertainer Maurice Chevalier, em inglês, defende-se das acusações contra ele e, depois, umas canção radiosa dele embala as cenas da liberação, com o objetivo de provocar mal-estar.
Lanzmann foi mais polêmico com outro documentário, “Tsahal”, com mais de 5 horas, ao focar as Forças Armadas de Israel. Segundo ele, o país fundado sobre a memória de um massacre tinha todo direito de se defender. No ano passado, “Napalm”, retratando a Coreia do Norte 60 anos após a (quase) destruição do país pelas bombas norte-americanas, esteve longe de ser uma unanimidade, em Cannes. Mas seu legado é indiscutível. Foi o grande cineasta do Holocausto.
Autor: Luiz Carlos Merten
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