Variedades
Brasil volta a ter o Prêmio Molière
Após um hiato de quase 25 anos, o Prêmio Molière, conhecido como o ‘Oscar do Teatro Nacional’, volta a ser realizado com edição ainda neste ano, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O acordo foi firmado na França pelo produtor cultural Francisco Britto, que assinou o direito de uso do nome Molière no Brasil. A festa tem apoio do jornal O Estado de S. Paulo.
A primeira mudança é que a marca pretende se estender com ações além da habitual premiação. “No Brasil, teremos um projeto cultural, com exposição, documentário, portal”, anunciou o produtor que esteve na cerimônia francesa na última terça, 29, na Salle Pleyel. “O teatro vem se profissionalizando cada vez mais, mas falta um pouco de espaço para mostrar tudo isso.”
A primeira edição no Brasil foi criada e patrocinada pela empresa aérea Air France, entre os anos 1963 e 1994. Ao longo desse período, entregou troféus para artistas do quilate de Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Antunes Filho, Marília Pêra, Flávio Rangel, Ademar Guerra, Consuelo de Castro, Jorge Andrade e Paulo Autran.
Na época, os vencedores nas categorias ator, atriz, diretor, dramaturgo e prêmio especial recebiam uma réplica do busto de Molière e uma viagem a Paris. “Molière, o grande clássico francês, nos facilitou muito nessa busca.
Foi para nós brasileiros um dos mais importantes modelos clássicos que influenciaram a nossa dramaturgia, sobretudo a comédia brasileira”, lembra Juca de Oliveira, em depoimento ao projeto. “A reedição do prêmio ajudará muito o teatro brasileiro como expressão cultural e incentivará os artistas na consolidação de suas carreiras”, conta o ator e diretor que foi premiado em 1968, na peça Dois na Gangorra, e, em 1972, em Um Edifício Chamado 200.
O ator, autor e diretor Marcos Caruso lembra da responsabilidade que era ser premiado. “Quem tinha um Molière é porque havia chegado ao topo de sua trajetória. Os maiores atores e atrizes e diretores e autores do cenário teatral brasileiro foram merecidamente agraciados e orgulham-se, como eu, de ostentar o busto de Molière. Hoje não há similar no Brasil.”
Para Eva Wilma, o troféu e a passagem para Paris viabilizavam o encontro com as artes cênicas na Europa. “Além de ter seu trabalho reconhecido aqui, a gente tinha chance de ter contato com espetáculos apresentados nos teatros dos grandes centros como Paris, Londres, Berlim e Roma.” Quando o assunto é política, ela atriz acredita que os prêmios acabam cumprindo parte da homenagem que seria responsabilidade do governo. “O teatro brasileiro sempre foi órfão dos governos. Não deste ou daquele. Mas de todos. Uma ajudinha aqui, outra ali, mas o certo é que os governos de hoje, de ontem e de sempre nunca trataram o teatro como produto cultural que deve ser prestigiado.”
Nesta edição, um corpo de jurados vai contemplar produções que estiveram em cartaz entre 2015 e 2017. Além disso, o número de categorias aumentou de 6 para 12: atriz, ator, atriz coadjuvante, ator coadjuvante, diretor, cenógrafo, figurinista, projeto de iluminação, espetáculo, teatro infantil, musical e revelação do ano.
Com um conselho consultivo formado por Francisco Britto, Cassia Kiss, Marcelo Serrado, Paulo Betti e Odilon Wagner, o prêmio terá ações e eventos ao longo do ano para aquecer os motores e chamar a atenção de novos apoiadores. Entre elas está uma exposição, com curadoria de Bia Lessa, que retoma o período dos últimos 25 anos da produção teatral no País, reunindo cenários, figurinos, fotografias, imagens e documentos, e a produção de um documentário a ser exibido no canal Arte 1. Mesmo assim, a preocupação é olhar para a frente afirma o produtor Roberto Halfin, que também integra o conselho. “Vamos revisitar, manter algumas coisas para fazer a conexão com o passado, mas olhar o teatro de 2018 para a frente, para não ser démodé, velho. Daí a ideia de que seja um projeto cultural.”
Com o objetivo de estimular a criação, o prêmio também planeja promover um concurso entre escolas de teatro de São Paulo e do Rio para a produção de textos teatrais. Os selecionados poderão se apresentar nas cerimônias de premiação das duas cidades.
Para Halfin, a maior preocupação sobre o retorno do prêmio no Brasil é “olhar para o futuro”, explica. “O objetivo é que seja uma festa da classe teatral premiando os melhores que ela mesma reconhece.” (Colaboração Andrei Netto)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Leandro Nunes
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