Variedades
Sextante, a editora que mais vende livros no Brasil, chega aos 20 anos
Marcos guarda a lição aprendida com o pai na praia como uma metáfora para a vida. Se vem onda grande, não recue, não dê as costas, não fuja. “Nada, nada, nada. Fura”, ele gritava. Enfrente. Mas chega um momento que você não vai conseguir. Nessa hora, ele dizia: “Quando a onda te pegar, deixa ela te levar. Segura o fôlego, não enfrente e você vai conseguir sair”.
Marcos da Veiga Pereira relembra essa história em sua sala de trabalho, com a enseada de Botafogo ao fundo e tendo ao seu lado o irmão mais novo, Tomás – companheiro desde sempre nas brincadeiras e no esporte e com quem, como diz, tem um filho em comum: a editora Sextante.
Se com o pai eles aprenderam a enfrentar problemas, a ser perseverantes e a achar graça nas coisas da vida, com a própria vida aprenderam a ser cautelosos. A arriscar, sim – e não se chega aonde chegaram sem ousadia. Mas controlando o risco.
Para contar a história da editora que mais vende livros no Brasil hoje e que é casa de Augusto Cury, Dan Brown e William Paul Young, é preciso lembrar que Marcos e Tomás são filhos de Geraldo Jordão Pereira (1938-2008), que era filho do lendário José Olympio (1902-1990). Editora dos principais escritores brasileiros, como Guimarães Rosa – que visitou Marcos na maternidade -, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz, a José Olympio foi, por décadas, uma das melhores editoras do País até abrir capital no milagre econômico, apostar no novíssimo ensino a distância e quebrar com a crise do petróleo.
Em 1975, a família perdeu o controle da editora. E Geraldo, que chegou a tentar, sem recursos, profissionalizar o negócio do pai, deixou a empresa, vendeu quadros e abriu uma pequena editora, em casa, que começou prestando serviços a outras editoras. A família deixa a casa na Lagoa e vai morar, por oito meses, com a avó no Flamengo. “Eu tinha 12 e o Tomás tinha 7. São anos difíceis, de contenção. Mas a gente era criança e era tudo festa. Mesmo assim, tem um lado de restrição nessa época que nos torna, de alguma maneira, muito batalhadores”, conta Marcos, hoje com 54 anos.
Entre um trabalho e outro Geraldo começou a publicar livros de arte e de outros gêneros, e então fez sua aposta: investir na criança, no futuro. Sua Salamandra lança Ana Maria Machado, que leva Ruth Rocha, Silvia Orthof e por aí vai. É nesse momento, em 1981, que Marcos, com 17 anos, prestes a começar as aulas na faculdade de engenharia, decide trabalhar. Vai para a Salamandra. “Para lamber selo e envelope”, brinca Tomás, aos 49. Foi quase isso. Ele não sai mais. Tomás, publicitário, chega em 1992, com 24. A Salamandra cresce, mas perde diferenciação com a chegada da concorrência. Eles percebem isso em tempo. É com sua venda para a Moderna que nasce a Sextante – editora que tem o sucesso comercial que José Olympio e Salamandra nunca tiveram.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Maria Fernanda Rodrigues
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