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‘Ocupação Antonio Candido’ abre arquivos do acervo do intelectual
O primeiro ato público de divulgação do acervo de Antonio Candido (1918-2017) ocorre nesta semana. A Ocupação Antonio Candido, no Itaú Cultural, vai mostrar documentos, fotos e materiais de vídeo e áudio do acervo do intelectual. Inspirada pelo texto O Direito à Literatura, de 1988, a exposição celebra o centenário do autor (24 de julho de 2018) e será aberta na quarta-feira, 23. Um colóquio internacional reúne pesquisadores para discutir aspectos da obra de Candido, até sexta, 25.
O acervo pessoal de Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza foi doado ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) no ano passado, e com apoio do Itaú Cultural está recebendo o processamento técnico necessário para ser aberto a pesquisadores e leitores. Com 126 cadernos de anotações de Candido (de um total de 45 mil itens textuais), 5 mil fotos e pelo menos 800 vinis e fitas cassetes, o acervo deve ficar disponível em 2019.
A biblioteca do autor – os 6,1 mil livros que ele selecionou e guardou até o fim da vida – será doada para a Unicamp.
Entre os itens que serão expostos na Ocupação, estão alguns dos cadernos: por orientação da mãe, Candido fez anotações desde os 10 anos idade e manteve o hábito durante a vida de pesquisador. Notas referentes à produção de Os Parceiros do Rio Bonito (sua tese de doutorado em Ciências Sociais) e de Formação da Literatura Brasileira, por exemplo, compõem a exposição, além de fotos e arquivos de vídeo e áudio.
Os itens são todos do acervo. Candido deixou tudo extremamente organizado, segundo a designer e editora Laura Escorel, curadora da exposição e neta do autor – bem como com a instrução de doar os itens ao IEB. Os trabalhos eram separados por pastas, etiquetados: ele voltava aos materiais e chegava a revisar artigos da Folha da Manhã, por exemplo, da década de 1940. Ele também organizou e anotou a produção intelectual de Gilda (1919-2005), também do IEB agora.
Questionada sobre a importância desse acervo para a cultura brasileira, a professora emérita da USP Walnice Nogueira Galvão disse simplesmente: “Não há paralelo possível. É o acervo mais importante que existe.” Ela abre o colóquio da Ocupação na quarta, 23, às 19h.
O coordenador do núcleo de literatura do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira, afirma que o trabalho no acervo é para o futuro. “Imagine quantos assuntos para estudo existem aí dentro”, diz Ferreira, também curador da Ocupação. “Serão pelo menos 100 anos de trabalho. Haverá gente trabalhando nesse material que ainda nem nasceu.”
A exposição é dividida em sete núcleos que pretendem oferecer uma amostra da produção intelectual do autor (destacando os dois livros citados, mas também sua participação nas revistas Clima e Argumento, o projeto do Suplemento Literário de O Estado de S. Paulo e célebres artigos seus para a Folha da Manhã, com uma revisão crítica posterior do autor), mas também dar forma ao seu reconhecido senso de generosidade com os alunos e sua dedicação à família. O lado militante político de Candido também é contemplado.
“Ele era muito dedicado, muito disciplinado, nada era mais ou menos”, lembra Laura Escorel. “Ele ia até o último fio de cabelo de perfeição que pudesse alcançar. É bonito porque é um sinal de respeito com o próximo. Ele fazia isso ao preparar uma aula, nas relações com os alunos, com os leitores, com os colaboradores, com os discípulos, com os mestres…”
Professor de literatura uruguaia na Universidade Federal do Uruguai, Pablo Rocca também participa do seminário. Ele explica que Candido ajudou a difundir a cultura brasileira em seu país depois de um curso de verão na universidade em Montevidéu, onde estabeleceu o contato com Ángel Rama (1926-1983), a quem Candido considerava “o maior crítico literário que a América Latina teve no meu tempo”.
Um livro com a correspondência entre os dois, Conversa Cortada, também será lançado na próxima semana, em coedição da Ouro Sobre Azul e da Edusp e com organização de Rocca. Ele teve contato com a obra de Candido por meio de um artigo de Rama. “Fui atrás dos livros do mestre e tive, ao longo dos tempos, a possibilidade de conhecê-lo graças a meus estudos de doutorado na USP (e a generosidade do professor Jorge Schwartz), de estudar sua obra, saber de sua sabedoria, mas, em especial, de descobrir um ser humano excepcional”, diz.
O escritor Antonio Prata é outro convidado do colóquio (ele divide uma mesa com Luiz Ruffato na quinta, às 20h). Quando Prata nasceu, sua família morava na mesma vila que Candido no Itaim Bibi. Uma amizade se criou até que ele decidiu se tornar escritor. Seu primeiro livro, Cabras, de 1999, assinado com outros três autores, acabou tendo prefácio de ninguém menos que Antonio Candido. “Mandei o livro pela faxineira em comum, a Gorete, e de tanto ela pressionar ele acabou escrevendo o texto”, diz Prata, aos risos.
“A imagem dele já trazia um pouco do que ele era”, explica o cronista. “Ele era ‘O’ professor. Aquilo dava a dimensão de uma coisa muito distinta. Não era pomposo, não era arrogante, exibicionista. Depois quando descobri a obra, os textos se encaixavam perfeitamente.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Guilherme Sobota
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