Variedades
‘Paixão Segundo São João’, de Bach, é apresentada nesta terça na Sala São Paulo
Bach completa este mês 331 anos – e no caso dele talvez não esteja errado deixar assim mesmo, no presente. Considerado o pai da música ocidental, sua obra segue viva em tudo aquilo que veio depois dele. Paradoxo nada pequeno, portanto, que sua presença nas temporadas brasileiras seja tão discreta, com uma exceção de peso nesta terça-feira, 27, quando os Músicos de Capella sobem ao palco da Sala São Paulo para interpretar a Paixão Segundo São João do compositor, sob a direção de Luis Otávio Santos, em apresentação que integra a temporada extra-assinaturas da Cultura Artística.
O paradoxo é grande, mas não difícil de explicar. A música de Bach é central em um movimento chamado de Música Historicamente Informada, aquele que pretende executar obras de acordo com as técnicas e estilos da época em que elas foram compostas.
Nas últimas décadas, as pesquisas dos artistas envolvidos com o movimento mudaram completamente nossa percepção de sua música, com uma prática distante daquelas das orquestras tradicionais, que acabaram se afastando naturalmente desse repertório. “É muito especial para nosso grupo poder fazer um concerto como esse. E isso é prova de que hoje já conseguimos reunir aqui no Brasil uma equipe de excelência nessa área”, afirma ainda Santos, maestro e violinista que coordena o núcleo de música antiga da Escola de Música do Estado de São Paulo.
Bach compôs a Paixão em 1724 e a obra narra a história da morte de Cristo a partir do evangelho de São João – das quatro paixões escritas pelo compositor, apenas essa e a inspirada em São Mateus sobreviveram. “O que Bach faz é a dramatização da história mais conhecida da tradição católica, a paixão de Cristo”, diz Santos. “É como se fosse uma ópera sacra, com o compositor utilizando todo o arcabouço dramático do período barroco, como a presença das árias como momento de reflexão psicológica.”
A comparação com a ópera, para Santos, é natural. “É, claro, uma ópera mais sisuda. Mas é sim um espetáculo dramático. É interessante a comparação com a Paixão Segundo São Mateus. Nela, há um caráter reflexivo mais pronunciado. Já na São João, a música é mais incisiva, a parte dramática está em primeiro plano. É uma obra espiritual, sim, mas também mundana.”
Luis Otávio Santos vai reger a obra do violino. “Liderar do violino a apresentação dá a cada músico um senso maior de responsabilidade, o engajamento é maior, ninguém está sendo conduzido.” De acordo com pesquisas recentes, outras ideias serão colocadas em prática. “Uma que me parece importante, além da utilização dos instrumentos de época, é que os cantores solistas também cantam com o coro. Eles não estão, como no repertório do romantismo, desconectados do resto. Pelo contrário, se unem ao todo e isso dá ao espetáculo, à ação, uma coesão muito grande.”
Antes da apresentação, da qual fazem partes artistas como a soprano Marília Vargas, o tenor Rodrigo del Pozo, o contratenor Pedro Couri Neto, o tenor Jabez Lima e o barítono Marcelo Coutinho, haverá um ensaio aberto ao público, às 19h15. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados a partir das 18h30. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: João Luiz Sampaio, especial para a AE
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