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Espetáculo ‘País Clandestino’ une diretores de cinco países

09/03/2018
Espetáculo ‘País Clandestino’ une diretores de cinco países

O desconforto causado por estar em um lugar estrangeiro ou falar um idioma que não é sua língua nativa pode ser motivo de segregação. No caso dos diretores Florencia Lindner, Jorge Eiro, Lucía Miranda, Mäele Poésy e Pedro Granato, a ausência do idioma inglês como língua-mãe uniu os artistas de Uruguai, Argentina, Espanha, França e Brasil, respectivamente, no espetáculo País Clandestino, que será apresentado desta sexta-feira, 9, até domingo, 11, na programação da 5.ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.

A montagem começou a ser gestada em 2014, em uma residência artística para diretores em Nova York, no Lincoln Center, um dos principais complexos de artes cênicas do mundo, que abriga as sedes de importantes companhias como Metropolitan Opera, o conservatório de artes e performance Juilliard School e a Filarmônica de Nova York.

Ao longo das atividades, o quinteto que formou o grupo Les Five Pay se viu unido para além dos idiomas e de questões estéticas. O espetáculo estreou no Chile, na extensão do Festival Internacional de Teatro de Buenos Aires. “De algum modo, as diferenças acabaram por nos aproximar”, conta Granato. “E, apesar de repertórios e formas de trabalho diversos, acredito que esse ruído determinou o trabalho.” Para a francesa Mäele, que divide a direção com Eiro, conjugar a energia de cinco diretores que nunca atuaram juntos fez com que o trabalho ganhasse uma dimensão mais coletiva.

“Realizamos improvisações e conversas para encontrar os materiais que seriam mais potentes para a peça. Cada aspecto foi discutido por todos, já que, aos poucos, íamos descobrindo histórias e o modo de trabalho de cada um.”

Durante o período de três anos, o quinteto se reuniu em encontros online e três vezes pessoalmente, duas em Madri, e uma na Argentina pessoalmente, com o objetivo de conceber um espetáculo então recheado de memórias particulares e do olhar sobre a situação atual de cada país. “Meu tio é desaparecido político na ditadura argentina”, conta Eiro. “E o fato de ele ainda não ter sido encontrado diz muito sobre meu país.”

Granato recorda a morte do pai, o artista plástico Ivald, em 2016, e as manifestações em São Paulo e no restante do Brasil, nos últimos anos. “Eu nunca tinha feito um espetáculo documental”, conta o diretor do Teatro Pequeno Ato. “Além do mais, atuar me trouxe libertação na cena. Dirigir é bom, mas a energia fica contida com o diretor, porque você sempre está repensando como resolver questões no palco. Já o ator pode derramar todo vigor e sair livre disso.” Há também a chance de compreender questões políticas e o ponto de vista da espanhola Lucía, que discute a continuação dos protestos de 2011 com jovens que acamparam na praça Puerta del Sol, além de um contraponto sobre a política do ex-presidente José Mujica, por Florencia.

Para Mäele, o aprendizado adquirido durante a criação do trabalho extrapola a parte artística. “Passamos a entender como as memórias podem ser atravessadas pela condição de cada país e que podemos compartilhar isso com os outros. Descobrimos sobre nós mesmos ao experimentar essas histórias.” Eiro sugere que encontrar um ponto em comum na montagem contribuiu para a criação de um espaço de sonho, não ditado pelas fronteiras, ou diferenças estéticas, mesmo que tomasse certo tempos. “Cada um tem um modo de trabalho, e isso precisou ser entendido e incorporado na busca de um lugar que agrupasse esse coletivo.”

A empreitada dos Les Five Pays não tem data para acabar. A ideia dessa aventura de natureza mundial é que o espetáculo seja apresentado nas terras natais dos cinco artistas. No Brasil, em três apresentações, e na França, ainda neste ano.

PAÍS CLANDESTINO
Teatro Cacilda Becker.
R. Tito, 295. Tel.: 3864-4513. 6ª e sáb., 21h; dom., 18h. R$ 30 / R$ 15. Estreia nesta sexta, 9. Até 11/3.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Leandro Nunes
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