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A gordinha gulosa
Durval, sessentão, aposentado, e agora viúvo, está levando uma vida inimaginável há um ano. Depois da morte da esposa foi morar num pequeno apartamento da praia de Pajuçara.
Às vezes sai à noite em busca de divertimento. Numa sexta-feira foi a uma casa de show e dança, sentou-se à mesa, pediu um uísque ao garçom. Suas vizinhas de mesa eram três jovens na faixa de 30 a 40 anos. Uma loura bem vestida, saia vermelha, outra loura de mini-saia mostrando as pernas bonitas e a terceira, uma simpática, risonha e bonita gordinha, com um vestido de renda longo e um generoso decote realçando a exuberância dos seios.
Durval encantou-se com a beleza angelical da gordinha. Nariz afilado, boca pequena, lábios carnudos. Os cabelos pretos que nem um mutum dava-lhe um tom sensual na aparência.
O viúvo viu a uva, achou-a nova, calculou ter o dobro da idade da gordinha. Depois de dois uísques Durval já conversava com as vizinhas. Eram pernambucanas, estavam a trabalho em Maceió, retornariam no domingo para o Recife. Cidinha, a gordinha, embarcava para Lisboa na segunda-feira pela manhã. Tinha conseguido um curso de cinema de seis meses na Europa.
Durval estava embevecido com a conversa descontraída das jovens. Sentiu fortes sinais de paquera nos sorrisos de Cidinha. A diferença de idade seria empecilho.
Ao iniciar uma música suave, Durval convidou a gordinha para dançar. Abraçaram-se e ele sentiu colar-se o corpo da jovem. Mudos, se acarinhavam deslizando pelo salão. O coroa descolou o rosto, olhou-a nos olhos, de repente Cidinha beijou-lhe a boca, continuaram dançando entre beijos e carícias.
Tarde da noite Durval levou as jovens ao hotel e a Cidinha ao apartamento. No espelho do elevador olharam-se abraçados e sorrindo. Um belo e simpático casal de gordinhos.
Ela resolveu tomar um banho. Durval entregou-lhe uma toalha. Quando do chuveiro jorrava água morna, ele entrou, ficou encantado ao ver a gordinha entregue à água. Ensaboaram-se, beijaram-se, arrastaram-se à cama.
Num momento de intenso movimento, ouviu-se um estalo forte. O estrado da cama quebrou, o colchão arriou ao chão. Deram uma gargalhada, continuaram amando-se.
Depois de muito amor, os dois estatelados e mudos olhavam para o teto, Cidinha foi a primeira a falar:
– “O amor me dá uma compulsão enorme, quero comer. Tem alguma macarronada por perto nessa hora?”
Colocaram uma roupa e foram para a Casa do Macarrão. Cidinha comeu a primeira, pediu outra. Durval achou a maior graça porque vieram a terceira e quarta macarronada. Ele acompanhando discretamente. Cidinha esclareceu, a culpa era dele, quanto maior o êxtase, maior a fome. Levaram mais duas macarronadas num pacote viajando para o apartamento.
Dormiram como dois anjos de Botero. Ao acordar pelas 10 horas da manhã, enquanto a amada dormia, Durval levantou-se, escovou os dentes, tomou banho, enrolou-se numa toalha. Foi à geladeira beliscar alguma coisa, ao perceber que não havia mais macarronada, saiu-lhe uma gargalhada tão alta que acordou os dorminhocos retardatários do prédio. Rolaram sorrindo na cama quebrada.
Resolveram partir para o Recife, ele combinou que a acompanharia até sua partida a Portugal. O sábado ensolarado estava convidativo, resolveram dormir em Maragogi. Hospedaram-se no Hotel Salinas. Foram à praia. Durante a noite divertiram-se no salão de dança, onde encheram a cara com muito uísque. Pela manhã, Durval roçou seu nariz no nariz de Cidinha, ela dormindo, sonhando, cheirava seu namorado. Beijaram-se nos lábios com muito carinho. Cidinha acordou-se voraz. Fizeram amor até mais tarde. A cama do hotel não despencou.
Domingo, rumo ao Recife. O café da manhã regional, delícia da comida nordestina. O Salinas tem o melhor serviço de café da manhã do país. Certo momento Durval saiu para fechar a conta na recepção. Deixou a amada terminando seu café da manhã.
Meia hora depois ele retornou, e percebeu os garçons espantados com aquela hóspede que não parava de esvaziar pratos e enchê-los novamente. Quando ela viu Durval, deram uma gargalhada na maior cumplicidade.
No Recife, ele deixou-a numa mansão no bairro de Casa Forte. A família da gordinha é das mais tradicionais descendentes de Maurício de Nassau.
O avião decolava às seis da manhã do dia seguinte. Como combinado, ao entardecer Cidinha, de malas prontas, apareceu no hotel de Durval. Jantaram num chique restaurante de Boa Viagem, até retornarem ao hotel. Foram horas seguidas de intenso amor e vinho. O coroa recorreu discretamente da ajuda da valorosa azulzinha. Saíram do ninho direto para o aeroporto.
Logo que o avião decolou, ela pediu o primeiro lanche de bordo. E assim prosseguiu nas sete horas de vôo. Foram dezenove lanches ao vinho durante a travessia do Oceano Atlântico. Cidinha comia recordando a aventura com coroa alegra e se algum dia iria revê-lo.
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