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Quase Ministro
No dia 7 de fevereiro de 1985, pouco depois de voltar de uma viagem internacional, Tancredo Neves reuniu-se no Rio, com Ulisses Guimarães, para formar o ministério da Nova república.
Depois do primeiro encontro, os dois grandes políticos voltaram a se reunir, em Brasília, para uma conversa mais definitiva. É certo que o novo presidente falou com todos os governadores do Brasil, inclusive os seus adversários, como Leonel Brizola, para negociar nomes. Soube-se disso pelas informações passadas por parentes do futuro presidente, como o seu filho Tancredo Augusto, que me contou essa particularidade, no jantar na Manchete, em Brasília, dois dias antes do que seria a posse festiva.
Adolpho Bloch era muito amigo e admirador de Tancredo Neves.
Quis prestar-lhes homenagem e caprichou no jantar. Convocou toda a sua equipe para ajudá-lo na recepção, no seu belíssimo parque gráfico. Quando Tancredo chegou, pouco antes das 21 horas, acompanhado de D. Risoleta, Adolpho pediu que eu fosse recebê-lo nos jardins da casa: “Não quero que eles tropecem nas pedras do caminho.”
Quando cheguei perto dele, Tancredo passou o braço pelo meu pescoço e disse a seguinte e enigmática frase: “Vou precisar muito da sua ajuda mais para a frente.” Não entendi nada, mas fiquei com aquilo na minha mente. Quando começou o jantar, deixei o meu lugar e fui procurar o Tancredo Augusto, que jantava ao lado de Aécio Neves, para desvendar o mistério. Eles riram muito da minha dúvida e esclareceram: “Ele quer colocar você no Ministério da Educação, mas para isso teria que brigar como Brizola, governador do Rio de Janeiro.
Como não era hora de brigar com ninguém, deixou para fazer isso um ano depois. Você será ocupante do MEC daqui a um ano.” Assim também Tancredo atenderia a reivindicação unânime da bancada de deputados federais do PMDB/Rio, que havia feito esse pedido, por escrito, ao político mineiro.
Tomando essa atitude e ouvindo todos os governadores, Tancredo adotaria a atitude de marinheiro velho: “Na composição do Ministério, devemos deixar as ondas baterem umas nas outras para estudar a espuma.” A imagem de Fernando Henrique Cardoso foi ainda mais precisa: “Tancredo agia como um jovem no trapézio. Pulava de lá pra cá com muita habilidade. A divisão do poder era muito difícil.” Naquela altura, alguns ministros estavam escolhidos, como Pedro Simon, Carlos Sant’Anna, Waldir Pires, Fernando Lyra, Marcos Freire e Antônio Carlos Magalhães, este indicado pelo capitão da imprensa Roberto Marinho.
Com a reviravolta da doença de Tancredo Neves, descoberta (ou tornado pública) na véspera da posse – e a consequente escolha de José Sarney, é claro que houve significativas alterações nos critérios políticos. O MEC, por exemplo, acabou nas mãos do acadêmico Marco Maciel, que foi uma forma de agradar, na composição, ao poderoso PFL.
E os planos de Tancredo foram com ele sepultados. Vale frisar que das conversas ministeriais do político mineiro participara ativamente o extraordinário homem público que foi Ulisses Guimarães. Ele sabia de tudo.
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