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Um mestre inesquecível
Nascido no Rio de Janeiro, há 102 anos, Evaristo de Moraes Filho tinha imenso orgulho do pai, o advogado Evaristo de Moraes, um dos mais famosos representantes do Direito em nosso país. Morou na rua Fernão Cardim, no bairro de Pilares, a mesma em que nasci há 80 anos, hoje uma enorme favela. Sempre que nos encontrávamos, na ABL, esse fato era motivo de simpáticos comentários.
Quando Josué Montello aceitou a tarefa de presidir a Academia, na década de 90, em substituição a Austregésilo de Athayde, convidou Evaristo para ser o seu Secretário-Geral, pois precisava realizar importantes reformas na Casa de Machado de Assis e a contribuição do querido amigo e vizinho era fundamental. Acompanhei de perto essa colaboração, pois tive o privilégio de integrar a mesma diretoria, como 1º Secretário.
Jurista, sociólogo, professor e escritor, com 70 livros publicados, Evaristo destacou-se como advogado trabalhista. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 15 de março de 1984, na sucessão de Alceu Amoroso Lima. Com os seus sólidos conhecimentos, tornou-se “um mestre inesquecível”.
Entre suas obras, podemos destacar: “Oração de paraninfo” (1958), “O ensino da Filosofia no Brasil”(1959), “O problema da Sociologia do Direito” (1969), “Criminalidade violenta” (1980), “Justiça social e direito do trabalho” (1982). Escreveu mais de 300 artigos sobre os temas de sua predileção.
Formou-se na Faculdade de Direito da UFRJ e na Faculdade Nacional de Filosofia. Tornou-se doutor em Direito e Ciências Sociais em 1953 e 1955 e em 1983 recebeu o título de professor emérito da UFRJ, do qual se honrava muito. Foi também procurador da Justiça do Trabalho, sendo notáveis os seus esforços pela democracia e a humanização do Direito. Lutava por uma visão de conjunto da vida social, para que não se reduzisse tudo ao direito a normas jurídicas.
Foi muito feliz no casamento com D.Hileda Flores de Moraes, do qual teve dois filhos, e nunca esqueceu a sua predileção por São Francisco de Assis: “Marquei a minha posse para o seu Dia.”
Lembrou o santo e Alceu Amoroso Lima no seu discurso de posse: “No ensaio que escreveu sobre o santo, quando do sétimo aniversário de sua morte, mostra Alceu que os dias de hoje se assemelham aos do século XIII, nos quais viveu Francesco Bernardone, pelo luxo e pela violência. Se por milagre voltasse à vida, teria de recomeçar a mesma luta pela simplicidade das coisas, contra o desenfreado espírito de ganho, pela paz e pela fraternidade, contra as rígidas hierarquias, pela justiça e pela igualdade. Só a fé de uma criança, como a sua, poderia renovar a alma do mundo moderno, como renovou a do seu tempo.”
Quem teve o privilégio de conhecer Evaristo de Moraes Filho bem de perto, como foi o nosso caso, sabe que no seu espírito morou toda essa grandeza, que fez dele uma das nossas maiores e mais completas personalidades, ocupante com brilho da cadeira nº 40 da Academia Brasileira de Letras.
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