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Os atletas da Praia da Avenida
Nos anos 60/70 a praia da Avenida da Paz era o ponto de encontro da juventude de Maceió. Local de pegar um bronze, cor morena, corpo seminu. Depois um gostoso banho de mar nas águas cristalinas e transparentes, onde se brincava de mergulhar para achar moedas jogadas a ermo. Poluição, sequer o nome existia. Na praia havia vários tipos de diversão, soltar arraia (pipa), jogar futebol, voleibol ou ajudar a arrastar a rede dos pescadores, puxadas por duas cordas. Outros iam namorar paquerar, flertar, conchambrar, era o termo da moda.
Pelas primeiras horas da manhã, gloriosos atletas do Avenidense, e outros times faziam treinos táticos de futebol. Havia um campeonato organizado entre os jovens dos bairros, era disputado no campo do 20º Batalhão de Caçadores. Os jovens atletas do Palmeira, bairro do Farol, partiam de casa às cinco da manhã, descendo a ladeira. Ao passar pelos belos bangalôs, ainda dormindo, pegavam sacolas de pão na varanda. Era o café da manhã, afinal de contas, um bom atleta tem de estar bem alimentado.
Certo dia um morador tradicional do Farol para evitar o roubo do pão colocou um cachorro feroz na varanda. Ninguém se atreveu a subtrair a sacola ao perceber o cachorro vigilante. Dia seguinte, Chumbinho, nosso glorioso Ulisses, ponta direita do Palmeira, colocou em baixo do braço uma cadela vira lata, no cio. Ao passar pela casa, o cão vigiava a esplêndida sacola cheia de pães franceses. Chumbinho, rápido, jogou a cadela no quintal. O cãozão de muita guarda, era um tremendo mulherengo, aliás, cadelengo, ao sentir o cheiro do cio, ficou louco de tesão, deixou a varanda foi se embrenhar com a vira lata no quintal, iniciando as mais luxuriantes lambidas de amor canino.
Chumbinho não perdeu tempo, pulou a mureta do jardim, pegou a sacola de pão no terraço, foi aplaudido euforicamente por sua inteligência, astúcia e coragem. Nesse dia sobrou pão, distribuíram para os mendigos embaixo da ponte de Salgadinho na linha do trem.
O Avenidense tinha um grande atleta, Capixaba, além de excelente jogador de futebol, gostava de cultivar o corpo e de correr. Certa vez decidiu ganhar a corrida Pré-São Silvestre organizada pelo desportista batalhador Aldo Ivo. Começou a se preparar faltando um mês para a corrida. Todo dia pela madrugada, solitário, corria várias vezes o trecho entre o Coreto da Avenida e o morro Tom Mix, onde hoje fica a Fábrica BRASKEM. Tomava injeções de vitamina, sais minerais, passou o mês sem fumar, sem beber e sem sexo, acreditava-se naquela época que sexo fazia mal ao esporte.
Afinal o dia da corrida, Capixaba radiante, certeza da vitória. Desde a largada ficou sempre à frente do pelotão de corredores com boa folga. A corrida terminava no Centro do Comércio, em frente ao Cine São Luiz, antes passava na Praça Deodoro, onde havia um grande número de amigos, moleques, torcendo. Ao aparecer ao longe, iniciaram a torcida, gritando, Capixaba! Capixaba! Capixaba! Ao passar pela estátua de Deodoro na reta final, nosso atleta olhou para trás, sorriu vitorioso, não havia possibilidade em ser alcançado, pertinho da chegada.
Nesse momento surgiram, João Moura, Mazo e Chumbinho com um buquê de flores e uma faixa de campeão, abraçaram Capixaba na rua, agarrando-o, ele ficou se esperneando com os pés suspensos, os amigos gritando é campeão, é campeão. Capixaba ficou desesperado quando percebeu o segundo lugar ultrapassá-lo, ele dependurado nos braços dos amigos, gritava, “me soltem, seus filhos da puta”.
Quando todos os corredores passaram, os três deixaram Capixaba no chão, um buquê na mão, uma faixa de campeão no peito, olhando perto a chegada, sequer tentou terminar a corrida. Ao se recuperar, com seu excelente bom humor, deu uma bela gargalhada, os quatro amigos saíram abraçados rumo à cerveja gelada do Bar Suez do Tadeu Vasconcelos.
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