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Vida na Mumbaça nunca foi fácil, a começar pela origem do nome da comunidade

23/06/2016
Vida na Mumbaça nunca foi fácil, a começar pela origem do nome da comunidade
Benzedeira Criselídia; uma mulher diferenciada na Mumbaça que mantém viva tradição religiosa; abaixo a Igreja Santuário Senhor dos Pobres, que foi construída por pedras e erguida pelos negros no século XVIII. (Foto: Paulo Rios)

Benzedeira Criselídia; uma mulher diferenciada na Mumbaça que mantém viva tradição religiosa; abaixo a Igreja Santuário Senhor dos Pobres, que foi construída por pedras e erguida pelos negros no século XVIII. (Foto: Paulo Rios)

Registrada na Fundação Cultural Palmares (FCP), a comunidade quilombola ganhou o nome Mumbaça devido a uma árvore com espinhos, que cercava a região para evitar a invasão de intrusos, mas que com o passar do tempo foi ficando extinta. Segundo Manuel Oliveira, presidente da Associação Clube dos Jovens Senhor dos Pobres do Desenvolvimento Quilombola da Mumbaça, no século XVI o povoado ganhou o primeiro habitante. Nesse tempo, a igreja Santuário Senhor dos Pobres foi construída completamente por pedras e erguida pelos negros no século XVIII.

“Atualmente, muitos dos descendentes de quilombo escondem a prática da religião afrodescendente por medo de repressão da igreja católica, que é predominante na região, mas a maioria é católica que pratica e visita terreiros”, explicou o líder quilombola e também morador da comunidade.

O núcleo da comunidade Mumbaça possui cerca de 400 famílias que vivem da agricultura de subsistência, do artesanato e da ajuda de programas sociais do governo. Apesar das dificuldades ainda enfrentadas, Oliveira, que também é líder e coordenador das 69 comunidades remanescentes de quilombo em Alagoas, diz ter orgulho sobre a riqueza cultural que ainda sobrevive no local.

A comunidade conta com duas escolas vinculadas ao município, possui turmas apenas da 1ª a 9ª série do ensino fundamental. De acordo com Oliveira, a partir do Ensino Médio, os alunos passam a estudar em Traipu e fazem o percurso de alguns quilômetros em veículos do transporte escolar fornecido pela prefeitura da cidade.

Fé e tradição estão bem vivas na comunidade, apesar da via-crúcis   

No quilombo Mumbaça também residem mulheres diferenciadas, com dons de cura, como a aposentada Criselídia Alves, de 74 anos. Ela é benzedeira e conta que aprendeu com seu pai, quando era adolescente. Utilizando galhos de árvores e alho roxo, a aposentada explica que reza para qualquer tipo de problema, como de saúde e espiritual.

“É uma cultura nossa. Rezo para dores de cabeça, olho grande, tudo. Eu já rezei para tanta gente que perdi as contas. Faço tudo isso sem aceitar nada em troca, de coração. As pessoas me agradecem bastante, e eu sou bem feliz com os resultados, faço de coração”, conta, orgulhosa.

Um dos relatos que dona Ciselídia relembra é de um homem que não andava, mas que após algumas rezas, passou a caminhar. “Tem que ter fé”, recomenda.

Ela lamenta o abandono com a comunidade e a forma de vida dos moradores do local. De acordo com Criselídia, seu sustento sempre foi retirado do trabalho na roça, mas que atualmente recebe o dinheiro da sua aposentadoria para sustentar 12 pessoas que moram em sua residência.

“Não aceito nada em troca pelas minhas rezas e não quero. As pessoas que moram comigo não podem trabalhar ainda, prefiro que estudem para ter um futuro diferente do meu. Eu ainda tenho muita vontade de trabalhar na roça, mas ninguém deixa. Eu sempre trabalhei e me orgulho disso”, ressalta a idosa.