Geral
Vida na Mumbaça nunca foi fácil, a começar pela origem do nome da comunidade
Registrada na Fundação Cultural Palmares (FCP), a comunidade quilombola ganhou o nome Mumbaça devido a uma árvore com espinhos, que cercava a região para evitar a invasão de intrusos, mas que com o passar do tempo foi ficando extinta. Segundo Manuel Oliveira, presidente da Associação Clube dos Jovens Senhor dos Pobres do Desenvolvimento Quilombola da Mumbaça, no século XVI o povoado ganhou o primeiro habitante. Nesse tempo, a igreja Santuário Senhor dos Pobres foi construída completamente por pedras e erguida pelos negros no século XVIII.
“Atualmente, muitos dos descendentes de quilombo escondem a prática da religião afrodescendente por medo de repressão da igreja católica, que é predominante na região, mas a maioria é católica que pratica e visita terreiros”, explicou o líder quilombola e também morador da comunidade.
O núcleo da comunidade Mumbaça possui cerca de 400 famílias que vivem da agricultura de subsistência, do artesanato e da ajuda de programas sociais do governo. Apesar das dificuldades ainda enfrentadas, Oliveira, que também é líder e coordenador das 69 comunidades remanescentes de quilombo em Alagoas, diz ter orgulho sobre a riqueza cultural que ainda sobrevive no local.
A comunidade conta com duas escolas vinculadas ao município, possui turmas apenas da 1ª a 9ª série do ensino fundamental. De acordo com Oliveira, a partir do Ensino Médio, os alunos passam a estudar em Traipu e fazem o percurso de alguns quilômetros em veículos do transporte escolar fornecido pela prefeitura da cidade.
Fé e tradição estão bem vivas na comunidade, apesar da via-crúcis
No quilombo Mumbaça também residem mulheres diferenciadas, com dons de cura, como a aposentada Criselídia Alves, de 74 anos. Ela é benzedeira e conta que aprendeu com seu pai, quando era adolescente. Utilizando galhos de árvores e alho roxo, a aposentada explica que reza para qualquer tipo de problema, como de saúde e espiritual.
“É uma cultura nossa. Rezo para dores de cabeça, olho grande, tudo. Eu já rezei para tanta gente que perdi as contas. Faço tudo isso sem aceitar nada em troca, de coração. As pessoas me agradecem bastante, e eu sou bem feliz com os resultados, faço de coração”, conta, orgulhosa.
Um dos relatos que dona Ciselídia relembra é de um homem que não andava, mas que após algumas rezas, passou a caminhar. “Tem que ter fé”, recomenda.
Ela lamenta o abandono com a comunidade e a forma de vida dos moradores do local. De acordo com Criselídia, seu sustento sempre foi retirado do trabalho na roça, mas que atualmente recebe o dinheiro da sua aposentadoria para sustentar 12 pessoas que moram em sua residência.
“Não aceito nada em troca pelas minhas rezas e não quero. As pessoas que moram comigo não podem trabalhar ainda, prefiro que estudem para ter um futuro diferente do meu. Eu ainda tenho muita vontade de trabalhar na roça, mas ninguém deixa. Eu sempre trabalhei e me orgulho disso”, ressalta a idosa.
Mais lidas
-
1PALMEIRA DOS ÍNDIOS
R$43 milhões na Prefeitura e R$ 765 mil na Câmara em janeiro: Cadê a Transparência?
-
2USINA DE VOTOS
Em Palmeira dos Índios, mais da metade da população depende do Bolsa Família e há temor de uso eleitoreiro para 2026, com ex-imperador na disputa
-
3AÇÃO INTEGRADA
Mais de 20 pessoas são presas em operação contra organização criminosa
-
4DISCRIMINAÇÃO
Professor Cosme Rogério expõe racismo estrutural no PT de Palmeira dos Índios
-
5PALMEIRA DOS ÍNDIOS
No governo Luísa Duarte, PT fica em segundo plano e maior fatia da assistência social segue sob controle de aliados de Julio Cezar