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Minha História com Tiradentes
Quando me formei em Direito há 35 anos passados, em Minas Gerais, fui escolhido pelos meus colegas para ser o Orador da Turma. Decidi intimamente que o meu Discurso de Formatura deveria tratar das “Liberdades em geral” e do “Papel do Advogado na defesa dessas liberdades”. O tema que escolhi foi LIBERDADE AINDA QUE TARDE. Mas, existia um inconveniente nessa minha decisão e nessa minha escolha. Meu Discurso teria que ser aprovado pela Reitoria da Faculdade que, por sua vez, teria de submeter o meu texto à apreciação do Ministro da Justiça, Dr. Ibraim Abi-Acker, por ter sido ele escolhido como Patrono da nossa Turma. Ainda era um período de turbulência na vida civil no país. Todos nós vivíamos amedrontados e inseguros com a gestão do Presidente da República, General João Batista de Figueiredo.
Portanto, para não me ver desiludido com os “cortes” e a “censura” prévia no texto do meu Discurso de Formatura, por parte da Reitoria da minha Faculdade, em silêncio resolvi escrever dois (2) Discursos sobre o mesmo Tema – LIBERDADE AINDA QUE TARDE.
Como eu já conhecia o sistema militar do meu país, porque servi ao Exército Brasileiro, quando então era Presidente da República o General Emílio Garrastazu Médici e eu era um “cabo/monitor” que tinha acesso aos relatórios militares enviados por meu Sargento/Instrutor ao Comando Regional do Exército; e também porque, quando exercia a função de Relações Públicas da Usiminas, participei da Comissão do Cerimonial da Presidência da República, que elaborou e oficializou a visita do Presidente General Ernesto Geisel às Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais, foi fácil para mim “driblar” a fiscalização do Governo Federal sobre o conteúdo do meu pronunciamento no evento da minha Formatura em Direito, nas terras de Tiradentes.
Sendo assim, escrevi um primeiro discurso para ser entregue ao Reitor da Faculdade e, posteriormente, enviado ao Ministro da Justiça, que, em síntese, relatava a bravura de Joaquim José da Silva Xavier, o alferes Tiradentes, uma espécie de símbolo libertário nacional, considerado mártir da Independência do Brasil, que iniciou um Movimento maçônico contra a exploração do domínio português e em favor da Soberania de Minas Gerais, por volta de 1789, na pequena Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto). Fiz um relato das reuniões maçônicas dos inconfidentes que aconteciam sempre em lugares secretos na calada da noite e que, a cada dia, contavam com um número maior de pessoas simpatizantes pela causa, formados pelas classes mais ricas da região, mas que também aceitava a participação das camadas populares, principalmente dos militares de baixa patente. Escrevi, inclusive, sobre a confecção da bandeira e do lema – “Libertas quae sera tamen” – que em latim significa “Liberdade antes que tardia”, por iniciativa dos inconfidentes mineiros, visto ser essa a “bandeira” que representava o movimento mineiro. Afirmei no meu texto, com base em estudos realizados, que, a princípio, Tiradentes foi um vilão, um homem desprezível pelas elites coloniais, porque ele não lutou por uma causa nacional, mas apenas uma causa regional, ou seja, o repúdio pelo envio do quinto do ouro das Minas Gerais pelo Governo Imperial a Portugal. Mas, que o nosso Tiradentes se transformou em herói nacional após a Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889.
Entretanto, escrevi um segundo Discurso para ser lido por mim na Solenidade de Formatura em Direito, em terras mineiras, sobre o tema – LIBERDADE AINDA QUE TARDE – onde denunciei a violação aos direitos humanos e as garantias constitucionais em todo o território nacional (referindo-me a Constituição de 1946 e a Carta Constitucional de 1967). Protestei contra o cerceamento da manifestação de opinião, de pensamento, de convicções políticas e filosóficas. Repudiei contra a falta de liberdade de consciência e de crença. Fiz uma viagem imaginária sobre todos os tipos de liberdades humanas, desde os povos do Oriente até os povos do Ocidente. Condenei a Tortura e os maus tratos físicos e psicológicos praticados nas Cadeias Públicas e nos Quartéis Militares. Manifestei-me contra os “excessos” e os “abusos” praticados em nome da Defesa da Segurança Nacional. Fui aplaudido pelos 200 universitários presentes ao evento. O Ministro da Justiça, mesmo se sentindo ofendido, cumprimentou-me, mas o Reitor da Faculdade fechou sua cara, sentindo-se traído. Deixei o Auditório satisfeito e sai sorridente, livre e feliz como um pássaro que foge da gaiola… Pensemos nisso! Por Hoje é só.
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